Para Socorro Crispim
Reza a lenda que "Malandragem", de Frejat e Cazuza, foi composta para Ângela Rô Rô gravar, mas ela não quis. Cássia Eller gravou e transformou a canção no seu quase hino/emblema. Digo quase porque há tantas outras canções do repertório de Cássia que parecem querer revelá-la, tão devidamente incorporadas por ela, que não podemos resumir sua persona múltipla a uma canção.
Mas, de fato, parece que, pela atitude desenhada na letra e pela pegada forte da melodia, "Malandragem" foi pensada para a voz grave de Cássia e para as figuras encarnadas pela cantora no palco.
Guardada no disco Cássia Eller (1994), a canção narra o devaneio (quem sabe?) de um poeta que não aprendeu a amar: vive a vida sem sonhos, bebendo as porções generosas e crueis que a realidade impõe.
Garotinha, cansada de suas meias tres quartos, o sujeito abre uma leve contradição: rezar por ser má. Ora, ser um poeta que não ama e uma menina má que reza pelos cantos põe em choque exatamente a realidade (sugerida mais adiante, na letra) do humano.
Quem de nós é um ser humano exemplar? Crianças, na impossibilidade de saber a verdade só nos resta dirigir o carro (seguir em frente) e tomar pileques (desencanar), além de cantar. Afinal, cantar é rezar duas vezes. Cantar é manter-se vivo para além daquilo que teima em nos matar. Malandro, o sujeito da canção, sem príncipe, faz do canto um autocanto, para assim manter-se suspenso no ar.
Reza a lenda que "Malandragem", de Frejat e Cazuza, foi composta para Ângela Rô Rô gravar, mas ela não quis. Cássia Eller gravou e transformou a canção no seu quase hino/emblema. Digo quase porque há tantas outras canções do repertório de Cássia que parecem querer revelá-la, tão devidamente incorporadas por ela, que não podemos resumir sua persona múltipla a uma canção.
Mas, de fato, parece que, pela atitude desenhada na letra e pela pegada forte da melodia, "Malandragem" foi pensada para a voz grave de Cássia e para as figuras encarnadas pela cantora no palco.
Guardada no disco Cássia Eller (1994), a canção narra o devaneio (quem sabe?) de um poeta que não aprendeu a amar: vive a vida sem sonhos, bebendo as porções generosas e crueis que a realidade impõe.
Garotinha, cansada de suas meias tres quartos, o sujeito abre uma leve contradição: rezar por ser má. Ora, ser um poeta que não ama e uma menina má que reza pelos cantos põe em choque exatamente a realidade (sugerida mais adiante, na letra) do humano.
Quem de nós é um ser humano exemplar? Crianças, na impossibilidade de saber a verdade só nos resta dirigir o carro (seguir em frente) e tomar pileques (desencanar), além de cantar. Afinal, cantar é rezar duas vezes. Cantar é manter-se vivo para além daquilo que teima em nos matar. Malandro, o sujeito da canção, sem príncipe, faz do canto um autocanto, para assim manter-se suspenso no ar.
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Malandragem
(Frejat / Cazuza)
Quem sabe eu ainda sou uma garotinha
Esperando o onibus da escola, sozinha
Cansada com minhas meias tres quartos
Rezando baixo pelos cantos
Por ser uma menina má
Quem sabe o principe virou um chato
Que vive dando no meu saco
Quem sabe a vida é não sonhar
Eu só peço a Deus
Um pouco de malandragem
Pois sou criança e não conheço a verdade
Eu sou poeta e não aprendi a amar
Bobeira é não viver a realidade
E eu ainda tenho uma tarde inteira
Eu ando nas ruas, eu corto cheque
Mudo uma planta de lugar
Dirijo meu carro, tomo meu pileque
E ainda tenho tempo pra cantar, pra cantar
Eu só peço a Deus
Um pouco de malandragem
Pois sou criança e não conheco a verdade
Eu sou poeta e não aprendia amar
(Frejat / Cazuza)
Quem sabe eu ainda sou uma garotinha
Esperando o onibus da escola, sozinha
Cansada com minhas meias tres quartos
Rezando baixo pelos cantos
Por ser uma menina má
Quem sabe o principe virou um chato
Que vive dando no meu saco
Quem sabe a vida é não sonhar
Eu só peço a Deus
Um pouco de malandragem
Pois sou criança e não conheço a verdade
Eu sou poeta e não aprendi a amar
Bobeira é não viver a realidade
E eu ainda tenho uma tarde inteira
Eu ando nas ruas, eu corto cheque
Mudo uma planta de lugar
Dirijo meu carro, tomo meu pileque
E ainda tenho tempo pra cantar, pra cantar
Eu só peço a Deus
Um pouco de malandragem
Pois sou criança e não conheco a verdade
Eu sou poeta e não aprendia amar
2 comentários:
Ótimo seu blog, amo saber como as músicas foram escritas.
Talvez por preguiça, nunca quis realmente entender o que "Malandragem" quis dizer. Seu texto a desvenda brilhantemente!
Anos depois deste post, a própria Ro Ro cantou a canção, junto com Frejat. Históricas ironias...
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