Pesquisar canções e/ou artistas

04 março 2010

62. Água

Na letra de "Lapa", Caetano Veloso alerta: "Água de Kassin lava a Nova Capela". Podemos ampliar e afirmar que Kassin, um dos mais competentes produtores musicais de sua geração, lava a canção popular com moderna desespecialização. Ou seja, aberto aos vários sons, Kassin faz a canção deslizar e escorregar de um estilo a outro, sem fixação: agregando e dando valor.
"Água" é um ótimo exemplo disso. Com letra fácil e leve, riffs de guitarra e um indefectível efeito eletrônico a la banda de pagode baiano e tecnobrega, "Água" banha várias matizes sonoras da modernidade líquida descompromissada, cujo único desejo é curtir. "Calma, tenha calma, que o mundo não tem fim", diz o sujeito.
Outra característica importante é o humor. Para o sujeito da canção ninguém deve viver cheio de rancor e pesado. E a canção (cantada para ninar as dores e exasperações do ouvinte) fragmenta os núcleos duros do ouvinte, por dentro. Mina as certezas - "o sangue não se torna água" - e pa pa pa pa.
De resto, não há como ficar impassível diante do som criado por Kassin, Moreno Veloso e Domênico Lancelotti, três criativos e atentos (ouvido ligado no passado) cancionistas. Com o projeto +2, os três têm provado que a canção, na era da mobilidade, circula por diversos níveis, sem perder a inventividade e a liberdade.
Banhar-se na "Água" de Kassin, canção do disco Kassin+2 Futurismo (2006), projeta o ouvinte na certeza de que a canção não morre nunca, apenas encontra outras canais e formas de escoar.

***

Água
(Kassin)

eu vou ficar aqui torcendo para tudo melhorar
eu juro que vou, e sei que vai passar o seu rancor
o sangue não se torna água

eu vou ficar aqui torcendo pra você se recuperar
eu vou ficar, sim, cantando pra você ninar
eu quero que tudo melhore

pa pa pa pa

calma, tenha calma, ninguém pode viver assim
calma, tenha calma, que o mundo não tem fim

Nenhum comentário: