A figura da mulher que finge - que tem o dom de iludir - é uma constante nas letras de muitos cancionistas. Ela é sempre a culpada pela dor do sujeito e, de viés, o motor do canto, a musa (mesmo) maligna da batucada de um tambor que bate ao ritmo do coração sofrido do sambista.
Porém, no caso de "Gago apaixonado", de Noel Rosa, o sujeito foge do tom sério e por vezes dramático com que Noel abordou os problemas de amor - como em "Pela décima Vez", "Pra que mentir", entre outras - e desenvolve o tema de maneira leve, terminando quase como piada: com o sujeito rindo de si e praguejando o outro: "Tu-tua falsi-si-sidade é pro-profunda. Tu tu tu tu tu tu tu tu tu vais fi-fi-ficar corcunda".
O tom perfeito foi contar a história do sujeito com o sistema nervoso abalado pelo comportamento da mulher como um gago. O que seria uma dificuldade imposta ao cantor na verdade acaba dando chance ao interprete de exibir seu talento fazendo variações para escapar de tornar mecânicas ou caricatas as repetições.
Moreira da Silva, no disco A volta do malandro (1959), com a malandragem que lhe é graça e atributo, dá voz ao gago que, apaixonado, mais gago fica, embola sílabas, misturando-as à insegurança dos sentimentos.
A ideia de jogar com a imagem de um sujeito gago rende um gostoso samba: delicado e virtuoso como só Noel poderia criar. Afinal, no peito de um gago também bate um coração. Moreira investe nesse dengo e canta esta mulher cruel, mas chamando a atenção do ouvinte para si, para o esforço do sujeito ao equilibrar o canto e a gagueira.
Porém, no caso de "Gago apaixonado", de Noel Rosa, o sujeito foge do tom sério e por vezes dramático com que Noel abordou os problemas de amor - como em "Pela décima Vez", "Pra que mentir", entre outras - e desenvolve o tema de maneira leve, terminando quase como piada: com o sujeito rindo de si e praguejando o outro: "Tu-tua falsi-si-sidade é pro-profunda. Tu tu tu tu tu tu tu tu tu vais fi-fi-ficar corcunda".
O tom perfeito foi contar a história do sujeito com o sistema nervoso abalado pelo comportamento da mulher como um gago. O que seria uma dificuldade imposta ao cantor na verdade acaba dando chance ao interprete de exibir seu talento fazendo variações para escapar de tornar mecânicas ou caricatas as repetições.
Moreira da Silva, no disco A volta do malandro (1959), com a malandragem que lhe é graça e atributo, dá voz ao gago que, apaixonado, mais gago fica, embola sílabas, misturando-as à insegurança dos sentimentos.
A ideia de jogar com a imagem de um sujeito gago rende um gostoso samba: delicado e virtuoso como só Noel poderia criar. Afinal, no peito de um gago também bate um coração. Moreira investe nesse dengo e canta esta mulher cruel, mas chamando a atenção do ouvinte para si, para o esforço do sujeito ao equilibrar o canto e a gagueira.
***
Gago apaixonado
(Noel Rosa)
Mu-mu-mulher, em mim fi-fizeste um estrago
Eu de nervoso estou-tou fi-ficando gago
Não po-posso com a cru-crueldade da saudade
Que que mal-maldade, vi-vivo sem afago
Tem tem pe-pena deste mo-moribundo
Que que já virou va-va-va-va-ga-gabundo
Só só só só por ter so-so-sofri-frido
Tu tu tu tu tu tu tu tu
Tu tens um co-coração fi-fi-fingido
Teu teu co-coração me entregaste
De-de-pois-pois de mim tu to-toma-maste
Tu-tua falsi-si-sidade é pro-profunda
Tu tu tu tu tu tu tu tu
Tu vais fi-fi-ficar corcunda
(Noel Rosa)
Mu-mu-mulher, em mim fi-fizeste um estrago
Eu de nervoso estou-tou fi-ficando gago
Não po-posso com a cru-crueldade da saudade
Que que mal-maldade, vi-vivo sem afago
Tem tem pe-pena deste mo-moribundo
Que que já virou va-va-va-va-ga-gabundo
Só só só só por ter so-so-sofri-frido
Tu tu tu tu tu tu tu tu
Tu tens um co-coração fi-fi-fingido
Teu teu co-coração me entregaste
De-de-pois-pois de mim tu to-toma-maste
Tu-tua falsi-si-sidade é pro-profunda
Tu tu tu tu tu tu tu tu
Tu vais fi-fi-ficar corcunda
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