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14 março 2010

73. Nuvem passageira

Sucesso da novela O Casarão, "Nuvem passageira", de Hermes de Aquino, tematiza a brevidade da vida. Não adianta tentar fugir, todo mundo vai morrer. Portanto, carpe diem. "Agora o que eu quero é dançar na chuva, não quero nem saber de me fazer, vou me matar", diz o sujeito de "Nuvem passageira", ao cansar de ponderar e decidindo atirar-se na vida.
Do disco Desencontro de Primavera (1977) e com melodia para lá de intencional, cheia de elementos sonoros que ratificam a mensagem leve da letra, "Nuvem passageira" relativiza a morte ao criar um sujeito que vive intensamente cada oportunidade e instante da vida.
O sujeito se eterniza na vivência plena de cada ato, na experimentação cotidiana: aproveitar a lua cheia, por exemplo. Qualquer possível certeza de solidez é apresentada pela fragilidade que ela possui. É o caso da pedra que "em pó vai se transformar".
A ideia do sujeito sozinho e cheio de impulsos no leito, enquanto a namorada está analisada no divã, pontua a quebra radical diante das cobranças do tempo. Dizendo o que é, desenhando uma imagem para si, o sujeito investe naquilo que mina, que não tem forma fixa, a fim de convidar o ouvinte à vida: "Você não vê que a vida corre contra o tempo", diz.
"A curta expectativa de vida é o trunfo dos impulsos, dando-lhes uma vantagem sobre os desejos", escreveu Zygmunt Bauman no livro Amor líquido. O sujeito de "Nuvem passageira" quer guardar o mundo pelo transitório, na fragilidade dos laços, naquilo cujas consequencias não ultrapasam a superfície da pele.

***

Nuvem passageira
(Hermes de Aquino)

Eu sou nuvem passageira
Que com o vento se vai
Eu sou como um cristal bonito
Que se quebra quando cai

Não adianta escrever meu nome numa pedra
Pois esta pedra em pó vai se transformar
Você não vê que a vida corre contra o tempo
Sou um castelo de areia na beira do mar

A lua cheia convida para um longo beijo
Mas o relógio te cobra o dia de amanhã
Estou sozinho, perdido e louco no meu leito
E a namorada analisada por sobre o divã

Por isso agora o que eu quero é dançar na chuva
Não quero nem saber de me fazer, vou me matar
Eu vou deixar um dia a vida e a minha energia
Sou um castelo de areia na beira do mar

2 comentários:

Henrique Oliveira disse...

Essa é a minha canção preferida, entre tantas preferidas... Forte abraço, esse projeto está bacaníssimo, preciso algumas horas para ler e me divertir. ABraçao

roncalli dantas disse...

Nossa... a gente tinha um (vinil) compacto de Hermes Aquino. Nuvem passageira e do outro lado era Machu PIcchu. Músicas da minha infancia.