Quando se pergunta o que é a verdade, Nietzsche, em O livro do filósofo, responde: "é uma multiplicidade incessante de metáforas, de metonímias, de antropomorfismos, em síntese, uma soma das relações humanas que foram poética e retoricamente elevadas, transpostas, ornamentadas, e que, após um longo uso, parecem a um povo firmes, regulares e constrangedoras". Ou seja, trocando em miúdos, as verdades "são ilusões cuja origem está esquecida".
O sujeito de "Faz parte do meu show", de Cazuza e Renato Ladeira (Ideologia, 1988), encontra abrigo no peito do traidor. Afinal, o show que ele cria para si o trai, na invenção permanente de novas desculpas - metáforas, metonímias... - para a vida (que dói).
A voz tranquila de Cazuza empresta maturidade (ar de professor) ao sujeito consciente das artimanhas do real (incapturável) e que usa tal conhecimento para criar seu show, para encenar sexos, com todo amor.
A língua cria a realidade, como pontificou o filósofo Vilém Flusser. Ao cantar suas promessas malucas e curtas, até porque a verdade está sempre exigindo novas verdades, o sujeito adensa a confusão (das coxas) do que é viver. Ele oferece "outra vida" à moça. Vida mais real, posto que ficcional (num clip sem nexo, meio bossa nova e rock'n'roll).
De fato, ele a engravida de "uma bolha de sabão", tão leve e frágil quanto qualquer verdade.
O sujeito da canção, que já esqueceu as origens de suas ilusões, reconhece a ficção na verdade e, por isso, se torna mais "verdadeiro", pois apresenta seu avesso ao outro.
Entre luzes brandas e músicas invisíveis, ele inventa seu show, inventa a vida. Ele investe na dúvida do outro para manter o sentimento a salvo. Para proteger o outro da solidão, que ele mesmo, sujeito da canção, pierrô-retrocesso, vive.
A voz tranquila de Cazuza empresta maturidade (ar de professor) ao sujeito consciente das artimanhas do real (incapturável) e que usa tal conhecimento para criar seu show, para encenar sexos, com todo amor.
A língua cria a realidade, como pontificou o filósofo Vilém Flusser. Ao cantar suas promessas malucas e curtas, até porque a verdade está sempre exigindo novas verdades, o sujeito adensa a confusão (das coxas) do que é viver. Ele oferece "outra vida" à moça. Vida mais real, posto que ficcional (num clip sem nexo, meio bossa nova e rock'n'roll).
De fato, ele a engravida de "uma bolha de sabão", tão leve e frágil quanto qualquer verdade.
O sujeito da canção, que já esqueceu as origens de suas ilusões, reconhece a ficção na verdade e, por isso, se torna mais "verdadeiro", pois apresenta seu avesso ao outro.
Entre luzes brandas e músicas invisíveis, ele inventa seu show, inventa a vida. Ele investe na dúvida do outro para manter o sentimento a salvo. Para proteger o outro da solidão, que ele mesmo, sujeito da canção, pierrô-retrocesso, vive.
***
Faz parte do meu show
(Renato Ladeira / Cazuza)
Te pego na escola
e encho a tua bola
com todo o meu amor
Te levo pra festa
e testo o teu sexo
com ar de professor
Faço promessas malucas
tão curtas quanto um sonho bom
Se eu te escondo a verdade, baby,
é pra te proteger da solidão
Faz parte do meu show
Faz parte do meu show, meu amor
Confundo as tuas coxas
com as de outras moças
te mostro toda a dor
Te faço um filho
te dou outra vida
pra te mostrar quem sou
Vago na lua deserta
das pedras do Arpoador
Digo 'alô' ao inimigo
Encontro um abrigo
no peito do meu traidor
Faz parte do meu show
Faz parte do meu show, meu amor
Invento desculpas
provoco um abriga
digo que não estou
Vivo num clip sem nexo
um pierrô-retrocesso
meio bossa nova e rock'n'roll
Faz parte do meu show
Faz parte do meu show, meu amor
Faz parte do meu show
(Renato Ladeira / Cazuza)
Te pego na escola
e encho a tua bola
com todo o meu amor
Te levo pra festa
e testo o teu sexo
com ar de professor
Faço promessas malucas
tão curtas quanto um sonho bom
Se eu te escondo a verdade, baby,
é pra te proteger da solidão
Faz parte do meu show
Faz parte do meu show, meu amor
Confundo as tuas coxas
com as de outras moças
te mostro toda a dor
Te faço um filho
te dou outra vida
pra te mostrar quem sou
Vago na lua deserta
das pedras do Arpoador
Digo 'alô' ao inimigo
Encontro um abrigo
no peito do meu traidor
Faz parte do meu show
Faz parte do meu show, meu amor
Invento desculpas
provoco um abriga
digo que não estou
Vivo num clip sem nexo
um pierrô-retrocesso
meio bossa nova e rock'n'roll
Faz parte do meu show
Faz parte do meu show, meu amor
4 comentários:
Só para registrar: Meu amigo Tiago Barros, pesquisador de Nietzsche, confirmou que a citação sobre a verdade usada no meu post é do texto inacabado de 1873 e nunca publicado por Nietzsche: "Verdade e mentira no sentido extra-moral".
"O livro do filósofo" é uma coletânea de fragmentos póstumos da juventude de Nietzsche que incluiu o texto inacabado. Nietzsche nunca publicou um "O livro do filósofo", mas num fragmento de juventude ele comentou que pretendia publicar. Daí a coletânea de fragmentos póstumos dos primeiros anos da produção dele.
Não gostei do livro psciografado, achei ele incompleto, mas tem essa psicografia do cazuza de 1996 que muito mais interessante que o livro: http://www.4shared.com/document/qvQupRbL/PSICOGRAFIA_-_CAZUZA.html
Prezado, desculpe-me, mas não entendi seu comentário.
De todo modo agradeço.
Não sabia que a verdade era tudo isso,ou só isso.Quanto ao anônimo,eu acho que ele confundiu biografia com psicografia,sei lá.
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