Esta canção figurativiza (cria a figura) a personagem Maria da Socorro que, como tantas outras mulheres do morro, tem poder de charme e sedução.
Suas pernas torneadas pela geografia acidentada do morro (diferente da burguesinha que "malha o dia inteiro"), valorizadas pelo shortinho, arrasam os corações e mantem acesa a humanidade dos caras da comunidade.
Aliás, ouvindo a história de que ela é afim do "Zé Galinha", mas namora o "Zé Cachorro" (apelidos/pseudônimos que registram a imposição/domínio de força na comunidade), fica impossível não lembrar o adágio popular que pergunta: "de que adianta ser gata, se só gostamos de cachorros e eles preferem as galinhas?". Digressão (e brincadeira) à parte, há um sutil espelhamento disso na história de nossa personagem.
Saber que ela namora o "cachorro", mas queria o "galinha", sugere as limitadas (porém, sensuais) opções de escolha de Maria que, no fundo, socorre o morro com sua beleza carne dura - "só dá ela".
De todo modo, o que grita aos ouvidos em "Maria do socorro" (cantada por Maria Rita em Samba meu, 2007) é que, enquanto a mulher-título vai ao baile funk (de shortinho, top e gorro), o sujeito da canção escolhe o samba como ritmo para compor o perfil da ex Miss Comunidade.
O samba e o funk se unem - um no campo do ritmo e o outro no campo do imaginário - para desenhar a figura. E, ao final, apesar de querer viver noutros lugares (algo que Zé cachorro não deixa), ela sabe que seu reinado é na comunidade. Ela, divina e graciosa, esculturada pelas dores e delícias impostas pelo morro, é a afirmação da existência.
***
Maria do Socorro (Edu Krieger)
Maria do Socorro
Suas pernas torneadas
Pelas ladeiras do morro
Ela vai pro baile funk
De shortinho, top e gorro
É a fim do Zé Galinha
Mas namora o Zé Cachorro
E no baile
Só dá ela, só dá ela
Já foi Miss Comunidade
Na favela
Hoje sonha
Em morar noutro lugar
Mas Zé Cachorro não deixa
A gata se queixa
Mas fica por lá
Maria do Socorro (Edu Krieger)
Maria do Socorro
Suas pernas torneadas
Pelas ladeiras do morro
Ela vai pro baile funk
De shortinho, top e gorro
É a fim do Zé Galinha
Mas namora o Zé Cachorro
E no baile
Só dá ela, só dá ela
Já foi Miss Comunidade
Na favela
Hoje sonha
Em morar noutro lugar
Mas Zé Cachorro não deixa
A gata se queixa
Mas fica por lá
Um comentário:
Leonardo, cheguei em seu blog por meio do seu artigo publicado no O Globo (Caderno Prosa & Verso)de 29/05/2010. Gostei de conhecer seu trabalho. Voltarei mais vezes. Meu abraço e sucesso!
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