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21 maio 2010

141. Mormaço

Mormaço é a fronteira entre a chuva e o sol, como a Nação Zumbi canta em "Mormaço" (Nação Zumbi, 2002): "tá fazendo sol, vai chover". Amparados no maracatu que pesa uma tonelada, a batida do grupo investe na sensação de calor e asfixia que domina o sujeito, metaforizando o "estado mormaço" diante da vida.
No "Mormaço" de Os paralamas do Sucesso (Brasil afora, 2009), além de ter uma homenagem à capital paraibana, temos o sujeito cantando, também, o "mormaço da miséria"; de um lugar onde "na moleira, só quentura".
Acompanhado pela "sombra" de sua história (vale lembrar que Herbert Vianna nasceu na capital da Paraíba), o sujeito de "Mormaço" usa seu espaço de origem para pensar as interdições do Brasil afora. Ele ilumina (desce ao rio e fica à toa) o seu lugar para clarear o país.
"Dá um laço e lança o sal (...) Desce ao rio e fica à toa" remete à geografia da capital: uma cidade desenvolvida entre o rio e o mar. Mas uma menção à fronteira, espaço do mormaço existencial. A cidade desenhada na canção é, portanto, fronteiriça, espremida (asfixiante, apesar dos pólos d'água). Ela é a confluência do excesso e da escassez.
A canção (texto e melodia) cria figuras, atrás dos olhos do ouvinte, que remetem à miséria social (e à luta para respirar), estabelecendo o incômodo diante da visão do sujeito. Ao "contar o que se sente", o sujeito chama a atenção do ouvinte para as contradições e paradoxos (o que falta e o que é demais) de um "país tão continente". "Que faça sol ou venha a chuva, a vida aqui ainda é dura".
As participações especialíssimas de Zé Ramalho (com sua voz épica, cheia de memória e história) e Totonho (com a mirada na tradição e no moderno), ambos paraibanos, transformam a canção no "canto do povo de um lugar". Porém, fugindo do regionalismo limitador e sufocante, já que o disco Brasil afora passeia por várias texturas sonoras (vertigem de cores) do país.

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Para assistir ao clipe de "Mormaço" clique AQUI.

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Mormaço (Paralamas do sucesso)

Está lá ao Deus dará
Na costa da Paraíba
Na barcaça em Propriá
Na ferrugem dessa trilha
Não circula nem o ar
No mormaço da miséria
Quem luta pra respirar
Sabe que essa briga é séria

Dá um laço e lança o sal
Passa ao largo em João Pessoa
Tece a vida por um fio
Desce ao rio e fica à toa

Dentro ou distante do mar
Num país tão continente
Tanta história pra contar
Nas quais se conta o que se sente
De onde foge, pra onde vai
Nesta vertigem de cores
O que falta e o que é demais
Quais seus mais ricos sabores

Dá um laço e lança o sal
Passa ao largo em João Pessoa
Tece a vida por um fio
Desce ao rio e fica à toa

Por ti tento acender
Outra luz em nossa casa
Lembro que sempre sonhei
Viver de amor e palavra

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