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04 maio 2010

124. Amor I love you

Memórias, Crônicas e Declarações de Amor (2000) é um relicário imenso desse amor. Do amor que se (auto)proclama; se (auto)elogia; e urge pela presença física do ser amado. Amor que, contraditoriamente, acalma, acolhe a alma e ajuda a viver.
Este tipo de amor (liberto, libertário e libertador) se opõe ao 'amor romântico', ficção que alimenta a vaidade e demonstra a 'incapacidade' (toda humana) de viver no mundo sem enquadra-lo.
Mas, se só se sabe amar assim, de todo modo, amemos. E é isto que o sujeito de "Amor I love you" faz. Se seremos "felizes para sempre" é outra história, uma construção diária de encontros e desencontros íntimos.
"Amor I love you" é o canto que pede para se dizer - "Deixa eu dizer que te amo" - e é o gostar que pede para se fazer gosto - "Deixa eu gostar de você". O sujeito, ao respeitar a subjetividade alheia, canta um sentimento (superiormente interessante) que apenas quer estar presente. A expressão-título - amor I love you - aponta para isso: "Baby, leia na minha camisa, I love you". Ou seja, chega de contar "pras paredes", hasteiam-se bandeiras: I love you!
A participação do Arnaldo Antunes (com sua voz gravíssima) lendo o excerto (pinçando com precisão cirúrgica) de Primo Basílio, se contrapõe aos vocalizes (suspiros) de Marisa Monte. Isso tenciona e equilibra (diálogo erótico masculino/feminino) o arco teso da promessa. O peito dispara. É o amor (com suas sentimentalidades) que está aqui. Amor e love (o toque das línguas) redundante e excessivamente fazendo a alegria de viver.

***

Amor I love you
(Carlinhos Brown / Marisa Monte)

Deixa eu dizer que te amo
Deixa eu pensar em você
Isso me acalma, me acolhe a alma
Isso me ajuda a viver

Hoje contei pras paredes
Coisas do meu coração
Passei no tempo
Caminhei nas horas
Mais do que passo a paixão
É um espelho sem razão
Quer amor fique aqui

Meu peito agora dispara
Vivo em constante alegria
É o amor quem está aqui

Amor I love you
Amor I love you
Amor I love you
Amor I love you

(...) Tinha suspirado, tinha beijado o papel devotamente! Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades, e o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saía delas, como um corpo ressequido que se estira num banho tépido; sentia um acréscimo de estima por si mesma, e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante, onde cada hora tinha o seu encanto diferente, cada passo conduzia a um êxtase, e a alma se cobria de um luxo radioso de sensações! (Primo Basílio - Eça de Queiroz, 1878)

2 comentários:

André disse...

Cara, você é brilhante no trato com as palavras.
Suas interpretações são inspiradoras.
Parabéns.
Abçs, André

ADEMAR AMANCIO disse...

Não me lembrava desse trecho de Eça de queiróz,lindo de doer.mereceu o seu texto.