Ary Barroso, além de cantar os quitutes no Brasil, cantou também as belezas do povo (das mulatas, principalmente). "No tabuleiro da baiana" e "Na baixa do sapateiro", entre vários exemplos, apontam para isso.
Na versão de João Bosco e Daniela Mercury, lançada do Songbook Ary Barroso (Disco 1, 1995), "No tabuleiro da baiana" ganha novos significantes, a medida em que o diálogo interno da letra se faz visível pela sobreposição das vozes dos intérpretes.
Iôiô e iáiá se encontram para cantar o encantamento. Iôiô (estrangeiro) anuncia e iáiá (bela de si) responde elencando suas delícias encantatórias. Ao mesmo tempo em que o próprio iôiô aponta o que mais lhe chama atenção, entre as coisas oferecidas.
Desde os delicados "floreios" vocais que abrem a canção, até o imbricamento entre o texto e a doce melodia, os índices de aproximação entre os dois figurativizam o jogo amoroso. Do tabuleiro ao coração da baiana, o sujeito percorre uma trilha de sensações que lhe embriaga os sentidos.
Candomblé e Senhor do Bonfim abençoam a junção dos trapinhos (das vozes, das pré histórias) dos amantes. Encantado, ele quer ser o iôiô de iáiá. Eles se unem sem saber o que será dos dois. Mas quem saberá?
A performance vocal de João Bosco e Daniela Mercury personifica os sujeitos, cria novos sentidos e embala o ouvinte feliz pelo encontro dos dois: iôiô e iáiá, ambos um do outro. Até que a fila ande e outro comprador apareça na frente do tabuleiro da baiana.
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No tabuleiro da baiana (Ary Barroso)
No tabuleiro da baiana tem
Vatapá
Caruru
Mungunzá
Tem umbu
Pra ioiô
Se eu pedir você me dá
O seu coração
Seu amor de iaiá
No coração da baiana tem
Sedução
Canjerê
Ilusão
Candomblé
Pra você
Juro por Deus
Pelo senhor do Bonfim
Quero você, baianinha, inteirinha pra mim
E depois o que será de nós dois
Seu amor é tão fulgáz, enganador
Tudo já fiz
Fui até num canjerê
Pra ser feliz
Meus trapinhos juntar com você
E depois vai ser mais uma ilusão
No amor quem governa é o coração
No tabuleiro da baiana (Ary Barroso)
No tabuleiro da baiana tem
Vatapá
Caruru
Mungunzá
Tem umbu
Pra ioiô
Se eu pedir você me dá
O seu coração
Seu amor de iaiá
No coração da baiana tem
Sedução
Canjerê
Ilusão
Candomblé
Pra você
Juro por Deus
Pelo senhor do Bonfim
Quero você, baianinha, inteirinha pra mim
E depois o que será de nós dois
Seu amor é tão fulgáz, enganador
Tudo já fiz
Fui até num canjerê
Pra ser feliz
Meus trapinhos juntar com você
E depois vai ser mais uma ilusão
No amor quem governa é o coração
Um comentário:
Toda a malícia da Bahia e do povo baiano,numa só canção,feita por um não baiano.
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