A metacanção, irmã da metalinguagem, é aquela canção que se autorrefere. Ou seja, é a canção que "fala" da canção. Seja do modo de como fazer uma canção, seja comentando a própria canção em audição, por exemplo.
Uma busca rápida na discografia e nas composições de Ednardo revela um bom número de metacanções. "Enquanto engoma a calça", de Ednardo e Climério (Ednardo, 1979) é uma delas.
Depois de um gostoso dedilhar de cordas (algo caipira), entra a voz do sujeito (meio desconfiado, sem jeito e quase calado) pedindo para cantar (rapidinho) sua história, ou melhor, a sua resposta para a pergunta: o que é cantar?
A atitude e a dicção de Ednardo lembram os cantadores de feira livre (cada vez mais escassos, infelizmente), que pedem licença para cantar, em troca de algum trocado, enquanto as pessoas seguem suas tarefas cotidianas. Sem querer atrapalhar - "Arrepare não" - o cantor, ao contrário, enfeita a vida dos outros.
Cantar, para o sujeito de "Enquanto engoma a calça", não se aprende (nem com passarinho, símbolo e desejo dos cantores). Cantar é a contrapartida para o "olhar do meu amor". Cantar parece "com não morrer", afinal "a vida é que tem razão". Ter o olhar do outro é a razão de viver. Até porque, "somos" o olhar dos outros sobre nós.
Curtinha, a história do sujeito eletrizado só desacelera quando ele lembra e cita as perdas amorosas: uma para São Paulo (e aqui lembramos que Ednardo é de Fortaleza) e outra para um dentista. Enquanto a primeira busca, como alguns retirantes nordestinos, outras (melhores) oportunidades "na cidade grande"; a segunda prefere a estabilidade de um "doutor" a um simples (e incerto) cantador.
Fácil de cantar, a letra é apresentada enquanto uma calça é engomada. A roupa para o cantor "voar maneiro" e ir aonde o povo está? Eis a sina da vida de artista. O sujeito sabe e canta, pois no canto a história se eterniza (fácil de cantar e decorar) e ninguém, nem ele mesmo, esquece.
Depois de um gostoso dedilhar de cordas (algo caipira), entra a voz do sujeito (meio desconfiado, sem jeito e quase calado) pedindo para cantar (rapidinho) sua história, ou melhor, a sua resposta para a pergunta: o que é cantar?
A atitude e a dicção de Ednardo lembram os cantadores de feira livre (cada vez mais escassos, infelizmente), que pedem licença para cantar, em troca de algum trocado, enquanto as pessoas seguem suas tarefas cotidianas. Sem querer atrapalhar - "Arrepare não" - o cantor, ao contrário, enfeita a vida dos outros.
Cantar, para o sujeito de "Enquanto engoma a calça", não se aprende (nem com passarinho, símbolo e desejo dos cantores). Cantar é a contrapartida para o "olhar do meu amor". Cantar parece "com não morrer", afinal "a vida é que tem razão". Ter o olhar do outro é a razão de viver. Até porque, "somos" o olhar dos outros sobre nós.
Curtinha, a história do sujeito eletrizado só desacelera quando ele lembra e cita as perdas amorosas: uma para São Paulo (e aqui lembramos que Ednardo é de Fortaleza) e outra para um dentista. Enquanto a primeira busca, como alguns retirantes nordestinos, outras (melhores) oportunidades "na cidade grande"; a segunda prefere a estabilidade de um "doutor" a um simples (e incerto) cantador.
Fácil de cantar, a letra é apresentada enquanto uma calça é engomada. A roupa para o cantor "voar maneiro" e ir aonde o povo está? Eis a sina da vida de artista. O sujeito sabe e canta, pois no canto a história se eterniza (fácil de cantar e decorar) e ninguém, nem ele mesmo, esquece.
***
Enquanto engoma a calça
(Ednardo / Climério)
Arrepare não
mas enquanto engoma a calça eu vou lhe contar
Uma história bem curtinha fácil de cantar
Porque cantar parece com não morrer
É igual a não se esquecer
Que a vida é que tem razão
Esse voar maneiro foi ninguém que me ensinou não foi passarinho
foi olhar do meu amor me arrepiou todinho e me eletrizou assim
quando olhou meu coração
Ai, mais como é triste
essa nossa vida de artista
Depois de perder Vilma prá São Paulo
perder Maria Helena pro dentista
Enquanto engoma a calça
(Ednardo / Climério)
Arrepare não
mas enquanto engoma a calça eu vou lhe contar
Uma história bem curtinha fácil de cantar
Porque cantar parece com não morrer
É igual a não se esquecer
Que a vida é que tem razão
Esse voar maneiro foi ninguém que me ensinou não foi passarinho
foi olhar do meu amor me arrepiou todinho e me eletrizou assim
quando olhou meu coração
Ai, mais como é triste
essa nossa vida de artista
Depois de perder Vilma prá São Paulo
perder Maria Helena pro dentista
2 comentários:
Só queria parabenizá-lo pelo excelente trabalho. É realmente uma alegria muito grande, entre tantas as porcarias que encontramos na net, descobri um blog tão interessante! Me tornei acompanhante assídua!
Um grande abraço.
Patrícia S Bastos
Gosto muito do Ednardo,pena que sumiu.
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