Para que servem as palavras depois de ter aquele alguém que faz tudo sair do eixo? Afinal, as palavras não servem para o que sentimos. É com esta sensação de completude, e plenitude, de viés, que o sujeito de "Cantada" (Cantada, 2002) canta o outro, no fundo, para cantar a si mesmo.
A atmosfera do ambiente - do pós sexo - atravessa a canção, indicando o atravessamento do sujeito pela delícia do momento. O tempo (horas) e o espaço (ruas/liberdade) ficam em suspensão, para que o sujeito, mergulhado no gozo avassalador, morra/viva nos braços do amado amante.
A oposição noite/calor (como se não houvessem noites quentes) amplia a ideia de que, juntos,os dois criam uma tarde turquesa (quarenta graus). Tudo lateja dentro e fora, "depois de ter você".
O outro (o duplo do eu, de mim) é a própria poesia. Poetas para que? Nem mesmo o consolo espiritual e nem as dúvidas cientificistas fazem mais sentido algum diante da descoberta insofismável de "ter você".
Ao final, a pergunta "para que serve uma canção como essa?", mostra que, além de termos no ouvido uma metacanção (uma canção que fala sobre si), ouvimos o canto da dúvida das essências. No fundo, toda metacanção indicia uma metafísica, ou seja, uma discussão sobre as grandes perguntas.
O sujeito quer, a partir do canto, criar outra realidade. Para tanto, põe em dúvida a verdade de tudo aquilo que o ouvinte (o destinatário da cantada?) pode ter como realidade empírica. De fato, é a ficção que cria a realidade.
Ou seja, "depois de ter você" o pensamento do sujeito pensa. Entramos no campo da filosofia: a manutenção da dúvida. A dúvida da dúvida.
O sujeito de "Cantada", com seu argumento espiralado, entontece o outro que, irresistivelmente, cai, na impossibilidade de réplicas.
Desde o ventre materno (o close na boca, na capa do disco, é índice da caixa sonora no centro do "buraco negro", do útero-paraíso do sujeito), somos cantados. Estar na vida e se deparar com um canto assim, depois de sermos e termos, é a busca (inconfessa) de todos nós.
A oposição noite/calor (como se não houvessem noites quentes) amplia a ideia de que, juntos,os dois criam uma tarde turquesa (quarenta graus). Tudo lateja dentro e fora, "depois de ter você".
O outro (o duplo do eu, de mim) é a própria poesia. Poetas para que? Nem mesmo o consolo espiritual e nem as dúvidas cientificistas fazem mais sentido algum diante da descoberta insofismável de "ter você".
Ao final, a pergunta "para que serve uma canção como essa?", mostra que, além de termos no ouvido uma metacanção (uma canção que fala sobre si), ouvimos o canto da dúvida das essências. No fundo, toda metacanção indicia uma metafísica, ou seja, uma discussão sobre as grandes perguntas.
O sujeito quer, a partir do canto, criar outra realidade. Para tanto, põe em dúvida a verdade de tudo aquilo que o ouvinte (o destinatário da cantada?) pode ter como realidade empírica. De fato, é a ficção que cria a realidade.
Ou seja, "depois de ter você" o pensamento do sujeito pensa. Entramos no campo da filosofia: a manutenção da dúvida. A dúvida da dúvida.
O sujeito de "Cantada", com seu argumento espiralado, entontece o outro que, irresistivelmente, cai, na impossibilidade de réplicas.
Desde o ventre materno (o close na boca, na capa do disco, é índice da caixa sonora no centro do "buraco negro", do útero-paraíso do sujeito), somos cantados. Estar na vida e se deparar com um canto assim, depois de sermos e termos, é a busca (inconfessa) de todos nós.
***
Cantada (Adriana Calcanhotto)
Depois de ter você
pra quê querer saber
que horas são?
Se é noite ou faz calor
se estamos no verão
se o sol virá ou não
ou pra que é que serve uma canção
como essa?
Depois de ter você
poetas para quê?
os deuses, as dúvidas?
pra quê amendoeiras pelas ruas?
para que servem as ruas?
depois de ter você?
Cantada (Adriana Calcanhotto)
Depois de ter você
pra quê querer saber
que horas são?
Se é noite ou faz calor
se estamos no verão
se o sol virá ou não
ou pra que é que serve uma canção
como essa?
Depois de ter você
poetas para quê?
os deuses, as dúvidas?
pra quê amendoeiras pelas ruas?
para que servem as ruas?
depois de ter você?
2 comentários:
essa letra é simplismente fantástica...
Muito boa a análise e, também, muito perspicaz de sua parte encontrar elos entre "Cantada" e outras canções do mesmo álbum ("Noite" e "Calor"), propositadamente colocadas juntas, um pouco anteriormente. Adriana sempre se preocupou em elaborar álbuns coesos, conceituais.
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