Registrada no histórico disco Drama 3º ato (1973) - gravado ao vivo no Teatro da Praia RJ - "Tatuagem" apresenta todo o sentimento de um sujeito que quer se entranhar corpo adentro, do outro. O uso da tatuagem, como metáfora desta vontade, porém, esconde desejos inconfessos.
A tatuagem (como desenho permanente na pele, marcado a frio, a ferro e fogo) é também uma forma de mostrar aos outros quem é o 'dono' daquele corpo. A tatuagem estabelece uma relação de fidelidade entre os amantes. Porém, ao evocar a serpente, o sujeito indicia traições inconfessas.
Portanto, há um sedutor paradoxo quando o sujeito diz: "também pra me perpetuar em tua escrava". No jogo/embate erótico (cruz nas tuas costas que te retalha em postas, mas no fundo gostas), afinal, quem é escravo de quem? Quem canta querer ser tatuagem ou quem é tatuado? Pouco importa.
É com estes pensamentos - de posse e de desejo absurdamente passionais - que a interpretação de Bethânia exibe a parte mais clara da alma do sujeito da canção. Bethânia toma para si o movimento serpenteante do sujeito na carne viva do outro.
Pétala por pétala, as rimas e as respirações (extremamente marcadas pela ênfase na consoante 'r') criam a imagem da bailarina brincando no corpo do outro.
"Tatuagem", composta para a peça Calabar, de Chico Buarque e Ruy Guerra, na interpretação de Bethânia, em que cada letra é meticulosamente dita, cantada e ouvida, arrebata o ouvinte que, seduzido, se deixa tatuar.
A canção fica na memória da pele (como um canto de sereia, ou reduzido a um esconderijo tatuado) e, vira e mexe, em carne viva, nos lembra dos (des)domínios dos afetos.
Portanto, há um sedutor paradoxo quando o sujeito diz: "também pra me perpetuar em tua escrava". No jogo/embate erótico (cruz nas tuas costas que te retalha em postas, mas no fundo gostas), afinal, quem é escravo de quem? Quem canta querer ser tatuagem ou quem é tatuado? Pouco importa.
É com estes pensamentos - de posse e de desejo absurdamente passionais - que a interpretação de Bethânia exibe a parte mais clara da alma do sujeito da canção. Bethânia toma para si o movimento serpenteante do sujeito na carne viva do outro.
Pétala por pétala, as rimas e as respirações (extremamente marcadas pela ênfase na consoante 'r') criam a imagem da bailarina brincando no corpo do outro.
"Tatuagem", composta para a peça Calabar, de Chico Buarque e Ruy Guerra, na interpretação de Bethânia, em que cada letra é meticulosamente dita, cantada e ouvida, arrebata o ouvinte que, seduzido, se deixa tatuar.
A canção fica na memória da pele (como um canto de sereia, ou reduzido a um esconderijo tatuado) e, vira e mexe, em carne viva, nos lembra dos (des)domínios dos afetos.
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Tatuagem (Chico Buarque / Ruy Guerra)
Quero ficar no teu corpo feito tatuagem
Que é pra te dar coragem
Pra seguir viagem
Quando a noite vem
E também pra me perpetuar em tua escrava
Que você pega, esfrega, nega
Mas não lava
Quero brincar no teu corpo feito bailarina
Que logo se alucina
Salta e te ilumina
Quando a noite vem
E nos músculos exaustos do teu braço
Repousar frouxa, murcha, farta
Morta de cansaço
Quero pesar feito cruz nas tuas costas
Que te retalha em postas
Mas no fundo gostas
Quando a noite vem
Quero ser a cicatriz risonha e corrosiva
Marcada a frio, a ferro e fogo
Em carne viva
Corações de mãe
Arpões, sereias e serpentes
Que te rabiscam o corpo todo
Mas não sentes
Tatuagem (Chico Buarque / Ruy Guerra)
Quero ficar no teu corpo feito tatuagem
Que é pra te dar coragem
Pra seguir viagem
Quando a noite vem
E também pra me perpetuar em tua escrava
Que você pega, esfrega, nega
Mas não lava
Quero brincar no teu corpo feito bailarina
Que logo se alucina
Salta e te ilumina
Quando a noite vem
E nos músculos exaustos do teu braço
Repousar frouxa, murcha, farta
Morta de cansaço
Quero pesar feito cruz nas tuas costas
Que te retalha em postas
Mas no fundo gostas
Quando a noite vem
Quero ser a cicatriz risonha e corrosiva
Marcada a frio, a ferro e fogo
Em carne viva
Corações de mãe
Arpões, sereias e serpentes
Que te rabiscam o corpo todo
Mas não sentes
2 comentários:
Esse trabalho - Drama - de Bethânia é o que se pode chamar de perfeição. Que ela é uma divindade, todos já sabem. O agrupamento das canções, as pontes entre uma e outra. Tudo é perfeito. Não se acha defeito algum. Não entendo de música tampouco de seus componentes, mas, em particular, qualquer um que se preste a ouvir esse disco - em especial - se aproxima da arte de forma inimaginável. É, literalmente, a prática da teoria que prega que a arte é entendida por todos. Em cada um tatuando um sentimento.
Confesso que senti inveja por por não ter ganho o presente de ouvir, como primeira canção do dia, TATUAGEM.
Parabéns.
Não conheço esta música na linda voz de Bethânia,mas difícilmente supera a versão feita pela elis.A Elis tinha o dom de ampliar o significado de cada palavra.
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