Última palavra de Os Lusíadas de Camões, a inveja é um dos pecados capitais do cristianismo. É um sentimento que surge da vontade de ter aquilo que o outro tem e leva o sujeito a querer tirar o objeto (material ou não) do outro.
O motor da inveja é o desejo de querer ser melhor que os outros e não saber conviver com as próprias limitações, "fica remoendo até o osso, mas sua fruta só lhe dá caroço". Para o invejoso, tudo que é do vizinho é sempre mais e melhor: "Querer o que é dos outros é o seu gozo".
Sem a coragem e a competência para buscar suas próprias sereias, o invejoso deseja aquilo que canta o outro; que singulariza a vida do outro: na fracassada ilusão, dai a frustração e a inveja constante, que aquilo também serve para si.
Isso, numa sociedade em que a vida alheia sempre é mais interessante que a nossa e o desejo é sempre ditado pela perspicaz criação de necessidades urgentes à felicidade, é a gota d'água da revolta perpetrada pelos fundamentalismos: o motor da inveja, da mágoa e do ressentimento.
Na canção "Invejoso", de Arnaldo Antunes e Liminha, a inveja é tratada exatamente no que ela tem de mais mesquinho: a covardia. Ninguém se admite invejoso. Temos, portanto, a covardia desdobrada: a covardia da covardia. O próprio sujeito da canção não é o invejoso cantado, mas alguém que observa a inveja alheia: de um outro que não ousa dizer o nome.
Importa lembrar que, com o objetivo de escamotear isso, foi criada a expressão "inveja branca", para se referir a um tipo de desejo aos bens alheios, mas sem a pretensão de tomar aquilo do outro. No caso da inveja branca, o invejoso até tentaria ter o objeto cobiçado, mas por meios mais, digamos, éticos.
Do disco Iê iê iê (2009), "Invejoso" mereceu as luxuosas e competentes guitarra e violão de Edgard Scandurra e o órgão soberbo (com um resgate temporal do ritmo tematizado) de Marcelo Jeneci.
O motor da inveja é o desejo de querer ser melhor que os outros e não saber conviver com as próprias limitações, "fica remoendo até o osso, mas sua fruta só lhe dá caroço". Para o invejoso, tudo que é do vizinho é sempre mais e melhor: "Querer o que é dos outros é o seu gozo".
Sem a coragem e a competência para buscar suas próprias sereias, o invejoso deseja aquilo que canta o outro; que singulariza a vida do outro: na fracassada ilusão, dai a frustração e a inveja constante, que aquilo também serve para si.
Isso, numa sociedade em que a vida alheia sempre é mais interessante que a nossa e o desejo é sempre ditado pela perspicaz criação de necessidades urgentes à felicidade, é a gota d'água da revolta perpetrada pelos fundamentalismos: o motor da inveja, da mágoa e do ressentimento.
Na canção "Invejoso", de Arnaldo Antunes e Liminha, a inveja é tratada exatamente no que ela tem de mais mesquinho: a covardia. Ninguém se admite invejoso. Temos, portanto, a covardia desdobrada: a covardia da covardia. O próprio sujeito da canção não é o invejoso cantado, mas alguém que observa a inveja alheia: de um outro que não ousa dizer o nome.
Importa lembrar que, com o objetivo de escamotear isso, foi criada a expressão "inveja branca", para se referir a um tipo de desejo aos bens alheios, mas sem a pretensão de tomar aquilo do outro. No caso da inveja branca, o invejoso até tentaria ter o objeto cobiçado, mas por meios mais, digamos, éticos.
Do disco Iê iê iê (2009), "Invejoso" mereceu as luxuosas e competentes guitarra e violão de Edgard Scandurra e o órgão soberbo (com um resgate temporal do ritmo tematizado) de Marcelo Jeneci.
***
Invejoso
(Arnaldo Antunes / Liminha)
o carro do vizinho é muito mais possante
e aquela mulher dele é tão interessante
por isso ele parece muito mais potente
sua casa foi pintada recentemente
e quando encontra o seu colega de trabalho
só pensa em quanto deve ser o seu salário
queria ter a secretária do patrão
mas sua conta bancária já chegou no chão
na hora do almoço vai pra lanchonete
tomar seu copo dágua e comer um croquete
enquanto imagina aquele rstaurante
aonde os outros devem estar nesse instante
invejoso
querer o que é dos outros é o seu gozo
e fica remoendo até o osso
mas sua fruta só lhe dá caroço
invejoso
o bem alheio é o seu desgosto
queria um palácio suntuoso
mas acabou no fundo desse poço
depois você caminha até a academia
sem automóvel e também sem companhia
queria ter o corpo um pouco mais sarado
como aquele rapaz que malha do seu lado
e se envergonha de sua própria namorada
achando que os amigos vão fazer piada
queria uma mulher daquelas da revista
uma aeromoça, uma recepcionista
e quando chega em casa e liga a tevê
vê tanta gente mais feliz do que você
apaga a luz na cama e antes de dormir
fica pensando o que fazer pra conseguir
o que é dos outros
querer o que é dos outros é o seu gozo
e fica remoendo até o osso
a sua fruta só lhe dá caroço
invejoso
o bem alheio é o seu desgosto
queria um palácio suntuoso
mas acabou no fundo desse poço
(Arnaldo Antunes / Liminha)
o carro do vizinho é muito mais possante
e aquela mulher dele é tão interessante
por isso ele parece muito mais potente
sua casa foi pintada recentemente
e quando encontra o seu colega de trabalho
só pensa em quanto deve ser o seu salário
queria ter a secretária do patrão
mas sua conta bancária já chegou no chão
na hora do almoço vai pra lanchonete
tomar seu copo dágua e comer um croquete
enquanto imagina aquele rstaurante
aonde os outros devem estar nesse instante
invejoso
querer o que é dos outros é o seu gozo
e fica remoendo até o osso
mas sua fruta só lhe dá caroço
invejoso
o bem alheio é o seu desgosto
queria um palácio suntuoso
mas acabou no fundo desse poço
depois você caminha até a academia
sem automóvel e também sem companhia
queria ter o corpo um pouco mais sarado
como aquele rapaz que malha do seu lado
e se envergonha de sua própria namorada
achando que os amigos vão fazer piada
queria uma mulher daquelas da revista
uma aeromoça, uma recepcionista
e quando chega em casa e liga a tevê
vê tanta gente mais feliz do que você
apaga a luz na cama e antes de dormir
fica pensando o que fazer pra conseguir
o que é dos outros
querer o que é dos outros é o seu gozo
e fica remoendo até o osso
a sua fruta só lhe dá caroço
invejoso
o bem alheio é o seu desgosto
queria um palácio suntuoso
mas acabou no fundo desse poço
3 comentários:
O pior da inveja é quem a tem, sempre inveja o produto final, ou seja, nunca reconhece a maneira que levou o outro a conseguir o seu objetivo.E geralmente, não tenta fazer por onde.Seja o que for o que causou a inveja, desde um carro extraordinário até uma simples amizade.
O pior disso tudo é que ninguém está livre disso, mas acredito ainda que esses são uma minoria.
Muito boa a música de hoje. Não a conhecia.
inveja branca é sinônimo de adimiração,é quando dá pra assumir.A inveja verdadeira ninguém assume.
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