Sabe lá o que é preparar uma escola para entrar na avenida e a musa não aparecer? Pois foi exatamente isso que aconteceu ao sujeito de "Retalhos de cetim", de Benito di Paula. Ele ensaiou o ano inteiro para se mostrar (entregar-se) à ela: e ela não desfilou.
A cabrocha (agregando elementos de sensualidade, vitalidade, etnia e ginga) carrega a cadência do coração da escola. É ela (corpo e graça) quem estimula a criatividade de quem faz do carnaval a maior festa da raça brasileira. Ela é a alegria do morro que se oferece ao asfalto.
Na primeira parte da letra o sujeito descreve os passos ao caminho da apoteose: investimentos e expectativas: ensaios, sambas, instrumentos e fantasias. Ele revela o esforço físico de dormir sobre retalhos de cetim (as sobras do luxo) para que a escola tivesse as finanças da beleza. A descrição serve para estabelecer a empatia no ouvinte para o que virá.
O problema é que no meio do caminho tinha uma pedra: a adversativa "mas": e tudo muda a partir do uso do "mas". A musa mentiu: jurou e não foi. Agora, dentro do sujeito, todo o ano é tempo perdido. Tudo é em vão quando o objetivo não é atingido. Aqui, o fim não justificou os meios.
"Retalhos de cetim" já recebeu boas interpretações. A versão do grupo Casuarina, registrada no disco Samba Social Clube Vol. 2 (2009), investe no estado de fracasso íntimo da voz que canta. A mensagem da letra encontra amparo temático na melodia. Os instrumentos (destaque para a cuíca) parecem sofrer tanto quanto a voz.
Importa perceber que todos os verbos estão conjugados no passado, restando a certeza de que, se até o amor pela cabrocha passou, ao menos, a escola estava bonita e o carnaval aconteceu. Eis o derradeiro consolo possível para o sujeito sem a alegria que viria da contrapartida da presença da musa.
A tristeza individual contrasta com a alegria do carnaval ao redor. O sujeito concentra em si o núcleo duro da festa: o quanto cada um precisa ceder para que o show não páre. A escola estar bonita é tudo o que interessa, mesmo que por trás do brilho haja - e há - muito desamparo. Afinal, é quando tem os olhos furados que o assum preto canta melhor. Resta ao sujeito mentir a própria dor para que todo mundo suponha que ele é feliz.
A cabrocha (agregando elementos de sensualidade, vitalidade, etnia e ginga) carrega a cadência do coração da escola. É ela (corpo e graça) quem estimula a criatividade de quem faz do carnaval a maior festa da raça brasileira. Ela é a alegria do morro que se oferece ao asfalto.
Na primeira parte da letra o sujeito descreve os passos ao caminho da apoteose: investimentos e expectativas: ensaios, sambas, instrumentos e fantasias. Ele revela o esforço físico de dormir sobre retalhos de cetim (as sobras do luxo) para que a escola tivesse as finanças da beleza. A descrição serve para estabelecer a empatia no ouvinte para o que virá.
O problema é que no meio do caminho tinha uma pedra: a adversativa "mas": e tudo muda a partir do uso do "mas". A musa mentiu: jurou e não foi. Agora, dentro do sujeito, todo o ano é tempo perdido. Tudo é em vão quando o objetivo não é atingido. Aqui, o fim não justificou os meios.
"Retalhos de cetim" já recebeu boas interpretações. A versão do grupo Casuarina, registrada no disco Samba Social Clube Vol. 2 (2009), investe no estado de fracasso íntimo da voz que canta. A mensagem da letra encontra amparo temático na melodia. Os instrumentos (destaque para a cuíca) parecem sofrer tanto quanto a voz.
Importa perceber que todos os verbos estão conjugados no passado, restando a certeza de que, se até o amor pela cabrocha passou, ao menos, a escola estava bonita e o carnaval aconteceu. Eis o derradeiro consolo possível para o sujeito sem a alegria que viria da contrapartida da presença da musa.
A tristeza individual contrasta com a alegria do carnaval ao redor. O sujeito concentra em si o núcleo duro da festa: o quanto cada um precisa ceder para que o show não páre. A escola estar bonita é tudo o que interessa, mesmo que por trás do brilho haja - e há - muito desamparo. Afinal, é quando tem os olhos furados que o assum preto canta melhor. Resta ao sujeito mentir a própria dor para que todo mundo suponha que ele é feliz.
***
Retalhos de cetim
(Benito Di Paula)
Ensaiei meu samba o ano inteiro,
Comprei surdo e tamborim
Gastei tudo em fantasia,
Era só o que eu queria
E ela jurou desfilar pra mim
Minha escola estava tão bonita
Era tudo o que eu queria ver,
Em retalhos de cetim
Eu dormi o ano inteiro,
E ela jurou desfilar pra mim
Mas chegou o carnaval,
E ela não desfilou,
Eu chorei na avenida, eu chorei
Não pensei que mentia
A cabrocha que eu tanto amei
(Benito Di Paula)
Ensaiei meu samba o ano inteiro,
Comprei surdo e tamborim
Gastei tudo em fantasia,
Era só o que eu queria
E ela jurou desfilar pra mim
Minha escola estava tão bonita
Era tudo o que eu queria ver,
Em retalhos de cetim
Eu dormi o ano inteiro,
E ela jurou desfilar pra mim
Mas chegou o carnaval,
E ela não desfilou,
Eu chorei na avenida, eu chorei
Não pensei que mentia
A cabrocha que eu tanto amei
2 comentários:
PARABÉNS PELO BLOG. ADORO A MANEIRA COMO VC INTERPRETA AS MÚSICAS. MUITO BACANA.
O que significa a expressão “dormir em retalhos de cetim”?
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