Cavalo de Pau (1982) é o disco que traz, além de "Tropicana", “Como dois animais”, “Pelas ruas que andei” e “Cavalo de pau”. Portanto, é um disco importante na carreira de Alceu Valença.
Em "Tropicana", de Alceu Valença e Vicente Barreto, a bela introdução instrumental (malemolente) abre os trabalhos de uma canção cuja letra guarda o desejo de posse da totalidade: daquilo que define o outro.
É neste sentido que a canção de Alceu se relaciona intertextualmente com o "Côco de festa" usado pelo escritor João Guimarães Rosa como epígrafe do livro Corpo de baile. Enquanto aqui temos os versos "Da mandioca quero a massa e o beiju, / Do mundéu quero a paca e o tatú; / da mulher quero o sapato, quero o pé! / – quero a paca, quero o tatu, quero o mundé… / Eu, do pai, quero a mãe, quero a filha: também quero casar na família"; em "Tropicana" temos: "Da manga rosa quero o gosto e o sumo, / Melão maduro sapoti juá, / Jabuticaba teu olhar noturno, / Beijo travoso de umbu-cajá".
Ou seja, no final, enquanto um diz "Eu quero o tampo do balaio do cumbuco" o outro diz "Morena tropicana eu quero teu sabor": ambos querem aquilo que dá forma ao outro, aquilo que contorna tais formas: para conseguir chegar ao centro daquilo que diz quem o outro é.
Depois que se conhece a canção de Alceu, fica difícil ouvi-la (bem como "Côco de festa") sem fazer conexões. O mesmo estranhamento que o ouvinte desarmado sente, pela ignorância diante do vocabulário sertanejo, também pode ser experimentado diante da morena tropicana (sinestesia pura) criada por Alceu.
Importa apontar ainda que "Guampo" - palavra usada em "Côco de festa - é uma variante popular de aguardente de cana. Consciente ou não, Alceu dialoga com o texto dentro da obra de Rosa, na medida em que constrói (de forma fractualizada), uma canção em que cada verso contém o todo.
A cana está dentro da tropicana: embriagando o sujeito que canta sob o efeito do caldo. O desejo do sujeito é sempre conseguir o incomensurável: a massa, o gosto, o beiju, o sumo. Na impossibilidade disso, tudo se embala dionisiacamente na dança das sensações de uma linda morena fruta temporana.
Em "Tropicana", de Alceu Valença e Vicente Barreto, a bela introdução instrumental (malemolente) abre os trabalhos de uma canção cuja letra guarda o desejo de posse da totalidade: daquilo que define o outro.
É neste sentido que a canção de Alceu se relaciona intertextualmente com o "Côco de festa" usado pelo escritor João Guimarães Rosa como epígrafe do livro Corpo de baile. Enquanto aqui temos os versos "Da mandioca quero a massa e o beiju, / Do mundéu quero a paca e o tatú; / da mulher quero o sapato, quero o pé! / – quero a paca, quero o tatu, quero o mundé… / Eu, do pai, quero a mãe, quero a filha: também quero casar na família"; em "Tropicana" temos: "Da manga rosa quero o gosto e o sumo, / Melão maduro sapoti juá, / Jabuticaba teu olhar noturno, / Beijo travoso de umbu-cajá".
Ou seja, no final, enquanto um diz "Eu quero o tampo do balaio do cumbuco" o outro diz "Morena tropicana eu quero teu sabor": ambos querem aquilo que dá forma ao outro, aquilo que contorna tais formas: para conseguir chegar ao centro daquilo que diz quem o outro é.
Depois que se conhece a canção de Alceu, fica difícil ouvi-la (bem como "Côco de festa") sem fazer conexões. O mesmo estranhamento que o ouvinte desarmado sente, pela ignorância diante do vocabulário sertanejo, também pode ser experimentado diante da morena tropicana (sinestesia pura) criada por Alceu.
Importa apontar ainda que "Guampo" - palavra usada em "Côco de festa - é uma variante popular de aguardente de cana. Consciente ou não, Alceu dialoga com o texto dentro da obra de Rosa, na medida em que constrói (de forma fractualizada), uma canção em que cada verso contém o todo.
A cana está dentro da tropicana: embriagando o sujeito que canta sob o efeito do caldo. O desejo do sujeito é sempre conseguir o incomensurável: a massa, o gosto, o beiju, o sumo. Na impossibilidade disso, tudo se embala dionisiacamente na dança das sensações de uma linda morena fruta temporana.
***
Tropicana
(Alceu Valença / Vicente Barreto)
Da manga rosa quero o gosto e o sumo
Melão maduro sapoti juá
Jabuticaba teu olhar noturno
Beijo travoso de umbu-cajá
Pela macia ai carne de caju
Saliva doce doce mel mel de uruçu
Linda morena fruta de vez temporana
Caldo de cana-caiana
Vem me desfrutar
Linda morena fruta de vez temporana
Caldo de cana-caiana
Vou te desfrutar
Morena tropicana
Eu quero teu sabor
(Alceu Valença / Vicente Barreto)
Da manga rosa quero o gosto e o sumo
Melão maduro sapoti juá
Jabuticaba teu olhar noturno
Beijo travoso de umbu-cajá
Pela macia ai carne de caju
Saliva doce doce mel mel de uruçu
Linda morena fruta de vez temporana
Caldo de cana-caiana
Vem me desfrutar
Linda morena fruta de vez temporana
Caldo de cana-caiana
Vou te desfrutar
Morena tropicana
Eu quero teu sabor
2 comentários:
Oi, Leo. Como vai? Só agora li sua entrevista. Que máximo, hein! Muito bacana seu projeto, tem algo de casual, uma boa dose de ousadia e grande bagagem cultural. Parabéns! Vou ficar de olho no seu blog. Abraço.
Em "Morena Tropicana", tudo é pra lá de sugestivo. No começo, parece que estamos no campo da metáfora, como que havendo uma elipse no verso inicial: (assim como) "Da manga rosa eu quero o gosto e o sumo / [...] Morena tropicana, eu quero o teu sabor".
Já no fim da canção, fica a sensação de não havia metáfora nenhuma, e o sujeito está mesmo falando do gosto e do sumo da mulher: beijo, saliva, fluidos. Desejo de conjunção completa: as relações de analogia entre os verbos comer/beber/gozar.
Incrível como seus posts disparam, em nossa cabeça, tanta coisa sobre as canções.
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