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14 fevereiro 2010

45. Alô! Alô?

Para Ramon Mello

As marchinhas, entre outras características, são crônicas sociais. Elas tratam de temas que estão na ordem do dia. São descartáveis, portanto. Só servem para aquele carnaval específico.
Mas se for assim, por que as marchinhas dos antigos carnavais continuam a nos embalar? A primeira resposta poderia ser porque os problemas sociais permanecem sem solução, ou porque voltam ciclicamente.
Há outra resposta possível: a força das interpretações torna as marchinhas em objetos atemporais. A presença de "Camisa listada", "Cai, cai", "Querido Adão", "Na baixa do sapateiro", "Tic-Tac do meu coração", "Mamãe, eu quero", entre muitas outras, todas do repertório de Carmen Miranda, parecem querer provar essa resposta especulativa.
O samba "Alô! Alô?", de André Filho, na luxuosa gravação de Carmen Miranda e Mário Reis, com Grupo do Canhôto, de 1933, aponta para o tempo em que uma simples ligação telefônica exigia muita paciência. Outros tempos da era da mobilidade.
O jogo de perguntas, sem respostas, da letra alcança brilho indefiníveis nas vozes dos dois intérpretes. Será que o outro não responde (se gosta mesmo de verdade) porque não quer, ou porque a qualidade da ligação impede um entendimento entre as partes? O outro, de fato, está ouvindo a pergunta do sujeito?
O importante, óbvio, não é a resposta, mas o dengo (do qual Carmen é rainha e diva) lançado pelo sujeito da canção. O importante é brincar com as dúvidas, afinal estamos no espaço lúdico e suspensivo do carnaval.
O sujeito da canção faz um feliz cordão de exclamações e interrogações, caminhando entre os mascarados e aproveitando a festa do desejo indiferente aos ais.

***

Alô! alô?
(André Filho)

CM- Alô, alô, responde
Se gostas mesmo de mim de verdade

MR- Alô, alô, responde
Responde com toda sinceridade

CM- Se não respondes
O meu coração é lágrima
Desesperado vai dizendo
Alô, alô
Ai se eu tivesse a certeza
Desse seu amor
A minha vida seria
Seria um rosário em flor
Responde então

MR- Alô, alô
Continuas a não responder
E o telefone
Cada vez chamando mais
É sempre assim
Não consigo ligação meu bem
Indiferente não se importa
Com os meus ais

Um comentário:

Ramon Mello disse...

ô meu querido!
obrigado pela homenagem!
;-) beijo