"Futuros amantes", de Chico Buarque, fala do amor adiado, que não tem pressa para ser consumado e consumido; do amor maduro, longe das urgências do amor juvenil. Mas fala também, de viés, da paciência como necessidade para os acontecimentos da vida.
Lançada no disco Paratodos (1993) - que tem também a regravação da bela "Sobre todas as coisas", de 1982 - "Futuros amantes" investe na mistura de um arranjo de cordas com uma batida bossa nova e ajuda a, calmamente (sem pressa), e a voz terna de Chico ajuda nisso, transmitir a sensação de certeza e segurança no amor que é imortal.
Expressões e palavras pouco usuais em canções dão o tom buarquiano, tais como: "Posta-restante", que é a correspondência que fica esperando alguém ir buscá-la numa agência dos Correios; e "Escafandristas", o mergulhador-explorador que faz uso do escafandro. Tudo se conjuga para falar da raridade do amor.
Importa lembrar que "escafandro" é palavra que aparece em "Rapaz de capricho", de Noel Rosa, de 1933: "Perguntei ao escafandro se o mar é mais profundo que as ideias do malandro. Chico Buarque, cria noelrosiana, recupera o capricho vocabular do poeta da Vila.
Se há amor, os amantes sabem permanecer esperando o momento exato para surgir e/ou ser descoberto. Este amor cantado pelo sujeito de "Futuros amantes" superará o tempo e chegará ao futuro: quando o Rio já seja uma "cidade submersa", os escafandristas descobrirão os resíduos desse amor atemporal, que servirá de objeto de pesquisa, e de uso, devido à sua estranheza, diante das novas (ou nem tanto) expressões do amor.
Afinal, "amores serão sempre amáveis" e qualquer maneira de amor vale o canto; ou: "a flor do amor tem muitos nomes", como Riobaldo diz em Grande sertão: veredas.
Sem dúvida, "Futuros amantes", com sua poesia, mentiras, segredos e retratos, é uma bela declaração do amor romântico. Daquele tipo de amor que é tão sutil e quente que fica esquecido num fundo de armário, mas, de modo imperceptível, dando suporte à nossa existência.
Lançada no disco Paratodos (1993) - que tem também a regravação da bela "Sobre todas as coisas", de 1982 - "Futuros amantes" investe na mistura de um arranjo de cordas com uma batida bossa nova e ajuda a, calmamente (sem pressa), e a voz terna de Chico ajuda nisso, transmitir a sensação de certeza e segurança no amor que é imortal.
Expressões e palavras pouco usuais em canções dão o tom buarquiano, tais como: "Posta-restante", que é a correspondência que fica esperando alguém ir buscá-la numa agência dos Correios; e "Escafandristas", o mergulhador-explorador que faz uso do escafandro. Tudo se conjuga para falar da raridade do amor.
Importa lembrar que "escafandro" é palavra que aparece em "Rapaz de capricho", de Noel Rosa, de 1933: "Perguntei ao escafandro se o mar é mais profundo que as ideias do malandro. Chico Buarque, cria noelrosiana, recupera o capricho vocabular do poeta da Vila.
Se há amor, os amantes sabem permanecer esperando o momento exato para surgir e/ou ser descoberto. Este amor cantado pelo sujeito de "Futuros amantes" superará o tempo e chegará ao futuro: quando o Rio já seja uma "cidade submersa", os escafandristas descobrirão os resíduos desse amor atemporal, que servirá de objeto de pesquisa, e de uso, devido à sua estranheza, diante das novas (ou nem tanto) expressões do amor.
Afinal, "amores serão sempre amáveis" e qualquer maneira de amor vale o canto; ou: "a flor do amor tem muitos nomes", como Riobaldo diz em Grande sertão: veredas.
Sem dúvida, "Futuros amantes", com sua poesia, mentiras, segredos e retratos, é uma bela declaração do amor romântico. Daquele tipo de amor que é tão sutil e quente que fica esquecido num fundo de armário, mas, de modo imperceptível, dando suporte à nossa existência.
***
Futuros amantes
(Chico Buarque)
Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios
No ar
E quem sabe, então
O Rio será
Alguma cidade submersa
Os escafandristas virão
Explorar sua casa
Seu quarto, suas coisas
Sua alma, desvãos
Sábios em vão
Tentarão decifrar
O eco de antigas palavras
Fragmentos de cartas, poemas
Mentiras, retratos
Vestígios de estranha civilização
Não se afobe, não
Que nada é pra já
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, quiçá
Se amarão sem saber
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você
(Chico Buarque)
Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios
No ar
E quem sabe, então
O Rio será
Alguma cidade submersa
Os escafandristas virão
Explorar sua casa
Seu quarto, suas coisas
Sua alma, desvãos
Sábios em vão
Tentarão decifrar
O eco de antigas palavras
Fragmentos de cartas, poemas
Mentiras, retratos
Vestígios de estranha civilização
Não se afobe, não
Que nada é pra já
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, quiçá
Se amarão sem saber
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você
4 comentários:
Adoro,
Leia o poema do Baudelaire ...
O Frasco
Charles Baudelaire
Perfumes há que os poros da matéria filtram
E no cristal dir-se-ia até que eles se infiltram.
Ao abrirmos um cofre que nos vem do Oriente
Cujo ferrolho range e emperra asperamente,
Ou numa casa algum poeirento e negro armário,
Onde o acre odor dos tempos dorme solitário,
Talvez se encontre um frasco a recordar o outrora,
Do qual uma alma palpitante se evapora.
Pensamentos dormiam, ninfas moribundas,
A fremir com doçura em meio às trevas fundas,
E as asas distendiam para alçar-se, estriadas
De azul e rosa, ou de ouro arcaico laminadas.
Eis as lembranças inebriantes que se afligem
No ar convulso; fecham-se os olhos; a Vertigem
Subjuga a alma vencida e empurra com a mão
A um vórtice que exala a humana podridão;
Abate-a às bordas de um abismo milenário,
Onde, qual Lázaro rasgando seu sudário,
Se move ao despertar o defunto espectral
De um velho amor malsão, gracioso e sepulcral.
Assim, quando de tudo eu me tornar ausente,
Ao canto de um sinistro armário indiferente,
Quando esquecido eu for, qual frasco desolado,
Caduco, imundo, abjeto, poeirento, rachado,
Serei teu ataúde, amável pestilência,
Testemunho de tua força e virulência,
Veneno angelical, licor que sem perdão
Me rói, ó vida e morte de meu coração!
eu escutei pela primeira vez na voz da Gal. E até hoje é a minha versão preferida. Essa música é uma belezura.
Renan Ji
Há uns anos (na época em que não se tem medo de nada) conheci um carinha na net que morava no sul e ia estudar na Alemanha. Antes de ir, ele veio ao Rio só pra me conhecer e passamos uns três dias dignos do melhor filme água com açúcar.
No dia que ele foi embora, me deu um livro, que já não me lembro mais. O que marcou foi um post-it com a letra desta música escrita assim, bem pequenininha... Nunca me esqueço daquela vontade de largar tudo e ir embora com ele.
Acho que foi um exemplo de um dos melhores tipos de amor (será permitido falar assim?)... aquele que a gente julga incondicional e intenso, mas que no fim, é só saudades.
Os comentários da Ana Chiara e da Larissa complementam perfeitamente seu texto que, por sua vez, complementa de forma linda e brilhante a audição da obra.
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