"Não chore mais" é um clássico, lançado por Gilberto Gil no disco Realce (1979), em uma versão trilingue: a letra em português e inglês e a melodia jamaicana, mas com tudo junto e misturado no melhor estilo tropicalista.
"Não chore mais" canta as perdas (da liberdade de sentar na grama do Aterro sob o sol) e ganhos (a maturidade de saber que tudo vai dar pé) diante das intempéries vida; de uma existência regida por (senhores do poder) hipócritas que tolhem (perpetram a docilização dos corpos) as várias e diversas formas de viver.
O campo do simbólico é bastante forte. Cada referência (significante) pode (e tem) várias leituras: um dos motivos para a canção se tornar atemporal, ao mesmo tempo em que registra o complexo período de repressão no Brasil, com seus olhos de reprovação à liberdade.
De fato, o sujeito canta para ninar o destinatário. Sereia e mãe, ele compõe uma canção em que presente, passado e futuro se entrelaçam: suspende o juízo (tempo e espaço) do outro a fim de fazê-lo parar de chorar e ter fé.
Chama à atenção, nesta versão de Gil para "No Woman, No Cry", de B. Vincent, a "mudança melódica" dentro da canção. Se tudo começa de forma lenta (passional), enquanto o sujeito tenta consolar o outro (a woman), recorrendo às lembranças boas do passado; mais adiante o sujeito percebe que a melhor forma de conseguir o que deseja é tentando mudar a perspectiva na qual o outro está centrado e acelera o andamento: "Eu sei a barra de viver (...) tudo, tudo vai dá pé".
Ou seja, importa, para a voz que canta, mostrar a alegria de se estar vivo: mesmo diante da dor. Daí aparecer o reggae como resposta às lágrimas; a dança em detrimento à estagnação. Pois, como sabemos, o reggae, em primeira instância, aparece como símbolo de resistência e de enfrentamento contra a crueldade da existência.
O sujeito da canção transmite sabedoria, sem falsos didatismos: mostra como compor a canção de afirmação da vida. Aqui aparece a verve do cancionista Gilberto Gil, que apresenta como equilibrar o que está sendo dito (o texto, o discurso) com a melodia, provocando no ouvinte os estados (físicos e psíquicos) desejados: de mobilização - "os pés, de manhã, pisar o chão".
"Não chore mais" canta as perdas (da liberdade de sentar na grama do Aterro sob o sol) e ganhos (a maturidade de saber que tudo vai dar pé) diante das intempéries vida; de uma existência regida por (senhores do poder) hipócritas que tolhem (perpetram a docilização dos corpos) as várias e diversas formas de viver.
O campo do simbólico é bastante forte. Cada referência (significante) pode (e tem) várias leituras: um dos motivos para a canção se tornar atemporal, ao mesmo tempo em que registra o complexo período de repressão no Brasil, com seus olhos de reprovação à liberdade.
De fato, o sujeito canta para ninar o destinatário. Sereia e mãe, ele compõe uma canção em que presente, passado e futuro se entrelaçam: suspende o juízo (tempo e espaço) do outro a fim de fazê-lo parar de chorar e ter fé.
Chama à atenção, nesta versão de Gil para "No Woman, No Cry", de B. Vincent, a "mudança melódica" dentro da canção. Se tudo começa de forma lenta (passional), enquanto o sujeito tenta consolar o outro (a woman), recorrendo às lembranças boas do passado; mais adiante o sujeito percebe que a melhor forma de conseguir o que deseja é tentando mudar a perspectiva na qual o outro está centrado e acelera o andamento: "Eu sei a barra de viver (...) tudo, tudo vai dá pé".
Ou seja, importa, para a voz que canta, mostrar a alegria de se estar vivo: mesmo diante da dor. Daí aparecer o reggae como resposta às lágrimas; a dança em detrimento à estagnação. Pois, como sabemos, o reggae, em primeira instância, aparece como símbolo de resistência e de enfrentamento contra a crueldade da existência.
O sujeito da canção transmite sabedoria, sem falsos didatismos: mostra como compor a canção de afirmação da vida. Aqui aparece a verve do cancionista Gilberto Gil, que apresenta como equilibrar o que está sendo dito (o texto, o discurso) com a melodia, provocando no ouvinte os estados (físicos e psíquicos) desejados: de mobilização - "os pés, de manhã, pisar o chão".
***
Não chore mais
(Gilberto Gil)
Bem que eu me lembro
Da gente sentado ali
Na grama do aterro, sob o sol
Ob-observando hipócritas
Disfarçados, rodando ao redor
Amigos presos
Amigos sumindo assim
Pra nunca mais
Tais recordações
Retratos do mal em si
Melhor é deixar prá trás
Não, não chore mais
Não, não chore mais
Bem que eu me lembro
Da gente sentado ali
Na grama do aterro, sob o céu
Ob-observando estrelas
Junto à fogueirinha de papel
Quentar o frio
Requentar o pão
E comer com você
Os pés, de manhã, pisar o chão
Eu sei a barra de viver
Mas se Deus quiser
Tudo, tudo, tudo vai dar pé
Tudo, tudo, tudo vai dar pé
Tudo, tudo, tudo vai dar pé
Tudo, tudo, tudo vai dar pé
Não, não chore mais
Não, não chore mais
(Gilberto Gil)
Bem que eu me lembro
Da gente sentado ali
Na grama do aterro, sob o sol
Ob-observando hipócritas
Disfarçados, rodando ao redor
Amigos presos
Amigos sumindo assim
Pra nunca mais
Tais recordações
Retratos do mal em si
Melhor é deixar prá trás
Não, não chore mais
Não, não chore mais
Bem que eu me lembro
Da gente sentado ali
Na grama do aterro, sob o céu
Ob-observando estrelas
Junto à fogueirinha de papel
Quentar o frio
Requentar o pão
E comer com você
Os pés, de manhã, pisar o chão
Eu sei a barra de viver
Mas se Deus quiser
Tudo, tudo, tudo vai dar pé
Tudo, tudo, tudo vai dar pé
Tudo, tudo, tudo vai dar pé
Tudo, tudo, tudo vai dar pé
Não, não chore mais
Não, não chore mais
Um comentário:
Um bom exemplo de regravação que supera a original.
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