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07 abril 2010

97. Batuque na cozinha

No livro O mistério do samba, Hermano Vianna investigar o deslizamento do samba de "cultura popular" à posição de "cultura nacional". O autor mira sua escrita no som que, vindo da cozinha (metáfora para o lugar do negro e mestiço, de então), encantou as salas das casas grandes. Dito assim, parece fácil, mas não foi e Vianna aponta isso: a crise e o mistério.
O espanto e a rejeição causados pelo surgimento do samba, pode ser ouvido, por exemplo, em "Pra que discutir com madame", de Haroldo Barbosa e Janet de Almeida. Mas, se aqui a madame pode ser identificada como a crítica Magdala da Gama de Oliveira (a Mag), pelo desprezo que ela imprimia ao ritmo, em "Batuque na cozinha" temos referências aos primórdios da mistura e da hostilização, de forma mais coloquial e generalizada.
João da baiana, contemporâneo de Donga, Pinxinguinha e Heitor dos Prazeres, entre outros, faz parte da gênese da nossa canção popular mestiça. O apelido não é mera brincadeira. Ele levou o pandeiro (além de usar o prato e a faca) para as batucadas de roda e jogou seu tempero no caldeirão cultural do Brasil.
"Batuque na cozinha" (Gente da antiga, 1968) tenciona o radicalismo conservador (que não quer se misturar) e a irresistível hibridação da cultura de massa brasileira. João morreu (pasmem!) praticamente esquecido, mas teve papel importante no nosso furdunço.

***

Batuque na cozinha (João da Baiana)

Batuque na cozinha
Sinhá não quer
Por causa do batuque
Eu queimei o pé

Então não bula na cumbuca
Não me espante o rato
Se o branco tem ciúme
Que dirá o mulato

Eu fui na cozinha
Pra ver uma cebola
E o branco com ciúme
De uma tal crioula

Deixei a cebola, peguei a batata
E o branco com ciúme de uma tal mulata
Peguei o balaio pra medir a farinha
E o branco com ciúme de uma tal branquinha

Batuque na cozinha

Eu fui na cozinha pra tomar o café
E o malandro ta de olho na minha mulher
Mas, comigo eu apelei pra desarmonia
E fomos direto pra delegacia
Seu comissário foi dizendo com altivez
E da casa de cômodos da tal Inês
Revistem os dois, botem no xadrez
Malandro comigo não tem vez

Batuque na cozinha

Mas seu comissário
Eu estou com razão
Eu não moro na casa de arrumação
Eu fui apanhar o meu violão
Que estava empanhado com Salomão
Eu pago a fiança com satisfação
Mas não me bota no xadrez
Com esse malandrão
Que faltou com respeito a um cidadão
Que é Paraíba do Norte, Maranhão

Um comentário:

L.F disse...

Muito Boa a música rapaz!
E Tambem te parabenizo pela idéia do seu blog, muito legal mesmo!
Sucesso ai!
Grande abraço

obs: Vou até te favoritar pois acho que mais pessoas deveriam compartilhar do conhecimento que seu blog passa! =D