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28 abril 2010

118. O nosso amor a gente inventa

Amar o outro é um fim ou um meio? Explico: quando dizemos "eu te amo", estamos querendo, de fato, registrar o sentimento que vai de mim para o outro (fim); ou estamos esperando que o outro também diga "eu te amo" (meio)?
Responder a esta questão implica em complexificar o "eu", ficção da qual somos coautores, pois, a cada instante em que somos confrontados o "eu" se instabiliza. Ora, deste modo, o amor (criação do "eu") também é uma ficção cantada pela linguagem que, por sua vez, cria a realidade.
Sim, é tudo meio confuso e duvidoso, afinal estamos no campo da "mentira", mas, como propõe o pensador Vilém Flusser, estar perdido, de/por amor, é o motor da vida: amar por amar, cantar por cantar, pensar por pensar.
"Amar é verbo intransitivo", como disse Mário de Andrade. Há uma inutilidade na ação. Tudo corre pelo sabor do gesto.
Em "O nosso amor a gente inventa" (Só se for a 2, 1987), o sujeito explode qualquer possibilidade de certeza (de apego improdutivo à liberdade do amor) ao declarar, de cara, saber as engrenagens do troço. Tendo consciência de que o amor é uma encenação (necessária à vaidade), o sujeito canta a dor da morte de algo impronunciável - um troço qualquer - as imagens (mantenedoras das relações) românticas do amor. Daí a bagunça psíquica e física no universo do sujeito.
(Re) inventar o amor (mesmo atravessado por histórias românticas) parece ser o imperativo para este sujeito se manter amando. O amor, para ele, é um meio de vida.

***

O nosso amor a gente inventa (estória romântica)
(Cazuza / Rogério Meanda / João Rebouças)

O teu amor é uma mentira
Que a minha vaidade quer
E o meu, poesia de cego
Você não pode ver

Não pode ver que no meu mundo
Um troço qualquer morreu
Num corte lento e profundo
Entre você e eu

O nosso amor a gente inventa
Pra se distrair
E quando acaba, a gente pensa
Que ele nunca existiu

O nosso amor a gente inventa, inventa
O nosso amor a gente inventa, inventa

Te ver não é mais tão bacana
Quanto a semana passada
Você nem arrumou a cama
Parece que fugiu de casa

Mas ficou tudo fora do lugar
Café sem açúcar, dança sem par
Você podia ao menos me contar
Uma estória romântica

O nosso amor a gente inventa
Pra se distrair
E quando acaba, a gente pensa
Que ele nunca existiu

3 comentários:

Anônimo disse...

Parabens pelo blog, moço
Te seguirei até a 365ª canção :P

Um abraço.

Angela disse...

Seu comentário sobre a canção do Cazuza está lindo!
Abraços, Angela

Felipe disse...

Leonardo,

Parabéns pelo seu projeto. Eu vivo pensando em mil maneiras de me expressar e a sua certamente é uma das mais criativas que eu conheço.

Um abraço,
Felipe