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18 abril 2010

108. Nervos de aço

A princípio, o sujeito de "Nervos de aço" parece assumir que não é um exemplo do super-homem nietzschiano. Há pessoas que são, ele não. Porém, o fato dele cantar a dor aponta para outras leituras.
Para Nietzsche (na obra Assim falou Zaratustra), o homos superior (ou super-humano) é, basicamente, aquele que transvaloriza os valores individuais; supera o velhos ideais e cria novos; e está em contínuo processo de superação.
Numa primeira leitura-audição, o sujeito de "Nervos de aço", ao contrário, passando o que ele passa, tem desejos de morte ou de dor.
Acompanhado pela Orquestra Tabajara, Jamelão traz para a interpretação de "Nervos de aço" (Jamelão interpreta Lupicínio, 1972) a dicção malandra da gafieira, dando à canção um colorido melancólico, mas festivo - desde que o samba é samba é assim. Diferente, por exemplo, da versão de Paulinho da Viola, mais atenta à letra e, portanto, mais passional.
Jamelão, contrariando o sujeito da canção, estabelece "a eterna, suprema afirmação e confirmação da vida", como Nietzsche (inspirado pelo romantismo alemão) previa que o super-homem faria. Ele diz sim à vida.
Para o sujeito desenhado pela voz de Jamelão, a profundidade da letra, não passa de um jogo da superfície. Profundidade e superfície se misturam para tencionar os limites que o super-homem transpõe.
Há vida além do amor. O sujeito de "Nervos de aço", no fundo, mostra isso. O desejo de morte é superado e surge o canto. Cantar é colocar-se acima das regras; é olhar para o futuro; é transcender o desejo de dor; e continuar vivendo.

***

Nervos de aço (Lupicínio Rodrigues)

Você sabe o que é ter um amor, meu senhor
Ter loucura por uma mulher
E depois encontrar esse amor, meu senhor
Ao lado de um tipo qualquer
Você sabe o que é ter um amor, meu senhor
E por ele quase morrer
E depois encontrá-lo em um braço
Que nem um pedaço do seu pode ser

Há pessoas de nervos de aço
Sem sangue nas veias e sem coração
Mas não sei se passando o que eu passo
Talvez não lhes venha qualquer reação
Eu não sei se o que trago no peito
É ciúme, é despeito, amizade ou horror
Eu só sei é que quando a vejo
Me dá um desejo de morte ou de dor

2 comentários:

Mariana disse...

Boa Noite Leonardo excelente escolha mas meu computer hoje ta sem som. as suas escolhas me agadam. Muito obrigada

Samuel Machado Filho disse...

Originalmente, "Nertvos de aço" foi lançada em 1947, na Continental, pelo cantor paulista Déo (Ferjalla Rizkalla).Mas pouco depois, Francisco Alves também gravou a música na Odeon, conseguindo mais sucesso. "Nervos de aço" seria também revivida por Paulinho da Viola, em 1973, em LP de mesmo nome.