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24 abril 2010

114. Nem eu

Camões cantou que "O amor é fogo que arde e não se sente". Na prática, o amor não deve ser entendido, até porque ele é algo que escapa à qualquer pensamento totalitário, ou à verdade. O amor é mutante e, como canta Zélia Duncan - em "Distração" -, "se você não se distrai o amor não chega".
Ou seja, é no acaso, nas frestas e nos lapsos de atenção que o amor acontece. Portanto, amar não é fazer favor nenhum, pois não há controle sobre o amor.
Claro que esta é uma visão um tanto romântica do amor e das relações que dele surgem, mas é neste mote que nossa canção, em geral, bebe, se embriaga e nos ressaca.
O acaso, como sinônimo de algo mítico e intocável, alimenta as esperanças (por momentos melhores), mas também assusta, daí porque, como Ferreira Gullar já apontou, "o homem sobre a terra luta para neutralizar o acaso". Ou seja, "há um lado carente dizendo que sim e essa vida da gente gritando que não". Desde modo, rimar amor e dor, vira regra.
Quem inventou o amor? Não fui eu nem ninguém. O amor acontece na vida, como canta o sujeito de "Nem eu" (Gal canta Caymmi, 1976 - um dos mais belos discos de nossa canção). Só não se pode deixar que o acaso vire espera e sufoque. Assusta pensar que somos brinquedos nas mãos do acaso, mas, façamos, vamos amar.

***

Nem eu (Dorival Caymmi)

Não fazes favor nenhum
Em gostar de alguém
Nem eu, nem eu, nem eu

Quem inventou o amor não fui eu
Não fui eu, não fui eu
Não fui eu nem ninguém

O amor acontece na vida
Estavas desprevenida
E por acaso eu também
E como o acaso é importante, querida
De nossas vidas a vida
Fez um brinquedo também

Não fazes favor nenhum
Em gostar de alguém
Nem eu, nem eu, nem eu

Quem inventou o amor não fui eu
Não fui eu, não fui eu
Não fui eu nem ninguém

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

Realmente,este disco é lindo,essa música é linda,e seu texto também é lindo.O que seria da vida sem a beleza?