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25 abril 2010

115. Trem das onze

O conjunto vocal Demônios da garoa está nos trilhos da canção há mais de 60 anos (em 1994 entrou para o Guinness Book como o grupo mais antigo em atividade). É um símbolo de São Paulo e seus costumes. O grupo é o melhor intérprete de Adoniran Barbosa e suas canções-crônicas sobre o modo e a cidade paulista. Não à toa,"Saudosa maloca", "Samba do Arnesto" e "Trem das onze", entre tantos outros sucessos ganharam notoriedade pelas originais interpretações do grupo.
Cantando as agruras dos habitantes das periferias paulistas, em especial dos imigrantes italianos e dos caipiras, com seus sotaques singulares, o grupo atravessou gerações unindo a melancolia e a alegria (bom humor e vontade de vencer) dos "desterritorializados" que enchem a megalópole.
É com este mote que podemos ler "Trem das onze" (Trem das onze, 1964). Aqui, um sujeito fora de seu lugar (de Jaçanã), precisa deixar o amor para voltar ao seu lar. O tempo corre contra o desejo de ficar junto. Ele, rapaz de bem (tem mãe e casa para olhar), não pode dormir fora de casa.
Ícones da era da mobilidade, os meios de transporte apontam ora os encontros, ora as despedidas dos sujeitos: "Você entrou no trem e eu na estação" ("Naquela estação", de Adriana Calcanhotto) e "Não posso ficar, se eu perder esse trem" ("Trem das onze") são dois bons exemplos da despedida. Além da impagável "Trem de ferro", música de Tom Jobim sobre poema de Manuel Bandeira.
Além, claro, da tematização do espaço limítrofe, fluido e instável da estação, na "Encontros e despedidas", de Milton Nascimento.
Como hino recorrente nos carnavais, "Trem das onze" pode ser lida também como o canto do folião que, percebendo o tempo que passa (as horinhas de descuido da festa pagã) precisa voltar à vida ordinária (de "bom moço"). O trem das onze antecede, assim, as doze badaladas da terça feira gorda, o fim da folia.

***

Trem das onze (Adoniran Barbosa)

Não posso ficar
Não posso ficar
Nem mais um minuto com você
Sinto muito amor
Mas não pode ser
Moro em Jaçanã
Se eu perder esse trem
Que sai agora às onze horas
Só amanhã de manhã

E além disso mulher, tem outras coisas
Minha mãe não dorme enquanto eu não chegar
Sou filho único
Tenho minha casa pra olhar

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