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29 julho 2010

210. Sintonia

Egresso do grupo Novos baianos, Moraes Moreira tem aquela coisa acesa que esquenta qualquer plateia. Seu investimento na festa (no carnaval), além do flerte com outras paisagens sonoras, já lhe rendeu vários sucessos.
"Sintonia", de Fred Góes, Zeca Barreto e Moraes Moreira, fez parte da trilha da novela Hiper tensão e imprimiu (embalou) o arco teso da promessa do desejo de muitos telespectadores.
Do disco Mestiço é isso (1986), a canção "Sintonia" apresenta um sujeito que (ao revés) seduz a sereia: agora é o sujeito-ouvinte quem canta para levá-la ao mergulho no gozo do afeto. Tudo mais parece uma revanche (amorosa e dengosa), já que, naturalmente, é a sereia quem seduz.
A bonita introdução instrumental nos remete às antigas serenatas, quando um sujeito declarava seu amor e convidava o objeto de desejo para viverem juntos este amor, omitindo (malandramente) suas intenções, digamos, menos pudicas.
Metacanção (canção que canta a si mesma), "Sintonia" é feita para tocar no rádio, espalhar-se pelas fibras da cidade e chegar aos ouvidos da sereia: no rádio do coração. Sintonizados na mesma estação, as personagens se ligam pelo poder de união da canção.
Cheia do jogo erótico, a canção reflete o atrapalhamento dos corpos lançados ao mar do prazer, ao misturar os instrumentos e os gestos vocais do cantor. Volumes aumentados, humanidades crescidas e picuinhas do ciúme criam o clima perfeito para que a sereia seja (agora ela) arrastada para o estado de morte e vida.
Ela, que canta a vida do sujeito, sabe o nome dele (mas não lhe chama, posto que nomear a coisa é perder a coisa), reconhece-o pela voz: afinal, ele a ama. O sujeito penetra o reino da sereia: ondas de um mar que é bonito quando quebra na praia deliram e chamam os dois. O sujeito faz a sereia bailar num vai e vem de corpos encantados e enamorados. E da espuma deste mar (encontro) nasce o amor (o canto).
O pedido do sujeito já é o desejo pulsando. Nós, ouvintes, invadimos a intimidade das personagens deste jogo erótico, deliciando-nos com o despudor da canção que canta a si mesma metaforizando o sujeito (o canto) que nos encanta. Somos, no final da ressaca, os destinatários deste canto: desta canção que toca no rádio do nosso coração e nos lança no mar da ilusão.

***

Sintonia
(Fred Goés / Zeca Barreto / Moraes Moreira)

Escute essa canção
Que é prá tocar no rádio
No rádio do seu coração
Você me sintoniza
E a gente então se liga
Nessa estação

Aumente o seu volume
Que o ciúme
Não tem remédio
Não tem remédio
Não tem remédio não

E agora sim aqui prá nós
Pelo meu nome não me chama
Você é quem conhece mais
A voz do homem
Que te ama

Deixa eu penetrar
Na tua onda
Deixa eu me deitar
Na tua praia
Que é nesse vai e vem
Nesse vai e vem
Que a gente se dá bem
Que a gente se atrapalha

Um comentário:

Alexandre disse...

Ótima a idéia deste blog. Parabéns.