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27 julho 2010

208. Esconderijo

Para o sujeito de "Esconderijo", de Ana Cañas (Hein?, 2009), está para a solidão assim como o ar procura o chão. O sujeito tenta mostrar que tais gestos são da natureza de ambos. Assim como a chuva só desmancha pensamento sem razão.
O sujeito parece não querer sair do seu esconderijo (esfera protetora). A canção quase não começar: as hesitações da melodia (na introdução) indiciam o estado interno do sujeito.
A canção "fala" da procura (toda humana) de paz interior: calma. E é na arte (do seu jeito) que um esconderijo possível pode surgir. A ficção (a verdade estética), a única verdade possível, é o abrigo preciso.
O sujeito traz elementos (comparações) do ritmo ontológico da vida para justificar sua procura pessoal, para criar seu cenário. O movimento: do barulho ao silêncio.
Beijo (para parar) e teto (para seguir), eis as estações do sujeito, na companhia de um receptor que lhe ajudará a construir o sentido na história dos dois.
A letra curta é cantada duas vezes: segundo tempo para as conquistas. Aliada à melodia circular. A canção amplia (ratifica) o percurso íntimo do sujeito. Tudo caminha junto, desconstruindo e construindo tetos, abrigos (esconderijos), bolhas de proteção: à espera da próxima serpente para explodi-la.

***

Esconderijo
(Ana Cañas)

Procuro a solidão
Como o ar procura o chão
Como a chuva só desmancha
Pensamento sem razão

Procuro esconderijo
Encontro um novo abrigo
Como a arte do seu jeito
E tudo faz sentido

Calma pra contar nos dedos
Beijo pra ficar aqui
Teto para desabar
Você para construir

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