Para Jaciara Campos
"Casa pré-fabricada", de Marcelo Camelo, é uma das mais belas metacanções que tocam no rádio. Toda lírica e toda coletiva (pois diz muito de nós: humanos), ela mergulha para dentro e salta para fora de si com a mesma força de imagens e significações.
"Casa pré-fabricada", de Marcelo Camelo, é uma das mais belas metacanções que tocam no rádio. Toda lírica e toda coletiva (pois diz muito de nós: humanos), ela mergulha para dentro e salta para fora de si com a mesma força de imagens e significações.
A versão de Maria Rita (Segundo, 2005) empresta paixão, melancolia e flashs de luz corretos à mensagem da letra. A introdução toda terna (com sons de uma vassourinha se arrastando pelo chão da casa) indicia o canto cheio de alongamentos vocálicos exatos.
"Casa pré-fabricada" tenciona, sintetiza e ilumina aquele sujeito que só entra (existe) na vida do outro (receptor da mensagem) pela porta do canto: "Canta que é no canto que eu vou chegar", diz. O canto é a casa pré-fabricada onde o sujeito pode se abrigar e ser (humano).
Desde a primeira palavra - "abre" - até o derradeiro verso - "tristeza nunca mais" - o que ouvimos é o desnudamento do sujeito. Ele afirma e confirma que sua existência só dura enquanto o outro está a cantá-lo. Como audideur (deslizamento semântico do termo voyeur para as questões vocais e de escuta) invadimos a intimidade mais íntima do sujeito, aquilo que lhe constitui enquanto tal: o canto.
Distante da culpa limitadora (imputada por algumas religiões, principalmente, cristãs), a voz que canta em "Casa pré-fabricada" pede ao outro que cante, pois é no canto ("qualquer coisa assim sobre você") que ele entende a paz de estar abrigado na voz do outro. "É só ter alma de ouvir e coração de escutar", como canta o sujeito de "Sou seu sabiá", de Caetano Veloso.
O verso "canta o teu encanto que é pra me encantar" guarda o segredo da canção, e do sujeito. O desejo é que, arrebatados pelo sol de primavera, e com o consolo que o canto do outro traz, a voz do sujeito se una a voz do outro: "pra fazer da nossa voz uma só nota". A relação dual necessária a existência de ambos.
A intenção, portanto, se reverte (a canção se come) e o sujeito reconhece que ele também deve cantar para, encantando o outro, o outro cante junto e a reciprocidade (a justaposição de vozes) possa sustentar a existência dos dois: agora um. Assim, um no canto do outro, tristeza nunca mais.
Tudo parece durar apenas uma noite (do deitar do sol até de manhã): o tempo das delícias do encontro erótico-afetivo. O tempo da (re)conciliação dos corpos. O tempo da sobreposição do canto que vai de um ao outro (e vice-versa): uníssono com a vida.
"Casa pré-fabricada" tenciona, sintetiza e ilumina aquele sujeito que só entra (existe) na vida do outro (receptor da mensagem) pela porta do canto: "Canta que é no canto que eu vou chegar", diz. O canto é a casa pré-fabricada onde o sujeito pode se abrigar e ser (humano).
Desde a primeira palavra - "abre" - até o derradeiro verso - "tristeza nunca mais" - o que ouvimos é o desnudamento do sujeito. Ele afirma e confirma que sua existência só dura enquanto o outro está a cantá-lo. Como audideur (deslizamento semântico do termo voyeur para as questões vocais e de escuta) invadimos a intimidade mais íntima do sujeito, aquilo que lhe constitui enquanto tal: o canto.
Distante da culpa limitadora (imputada por algumas religiões, principalmente, cristãs), a voz que canta em "Casa pré-fabricada" pede ao outro que cante, pois é no canto ("qualquer coisa assim sobre você") que ele entende a paz de estar abrigado na voz do outro. "É só ter alma de ouvir e coração de escutar", como canta o sujeito de "Sou seu sabiá", de Caetano Veloso.
O verso "canta o teu encanto que é pra me encantar" guarda o segredo da canção, e do sujeito. O desejo é que, arrebatados pelo sol de primavera, e com o consolo que o canto do outro traz, a voz do sujeito se una a voz do outro: "pra fazer da nossa voz uma só nota". A relação dual necessária a existência de ambos.
A intenção, portanto, se reverte (a canção se come) e o sujeito reconhece que ele também deve cantar para, encantando o outro, o outro cante junto e a reciprocidade (a justaposição de vozes) possa sustentar a existência dos dois: agora um. Assim, um no canto do outro, tristeza nunca mais.
Tudo parece durar apenas uma noite (do deitar do sol até de manhã): o tempo das delícias do encontro erótico-afetivo. O tempo da (re)conciliação dos corpos. O tempo da sobreposição do canto que vai de um ao outro (e vice-versa): uníssono com a vida.
***
Casa pré-fabricada
(Marcelo Camelo)
Abre os teus armários
Eu estou a te esperar
para ver deitar o sol
sob os teus braços castos
Cobre a culpa vã
até amanhã eu vou ficar
e fazer do teu sorriso um abrigo
Canta que é no canto que eu vou chegar
Canta o teu encanto que é pra me encantar
Canta para mim qualquer coisa assim sobre você
Que explique a minha paz
Tristeza nunca mais
Vale o meu pranto
que esse canto em solidão
Nessa espera o mundo gira em linhas tortas
Abre essa janela
primavera quer entrar
pra fazer da nossa voz uma só nota
Canto que é de canto que eu vou chegar
Canto e toco um canto que é pra te encantar
Canto para mim qualquer coisa assim sobre você
que explique a minha paz
Tristeza nunca mais
(Marcelo Camelo)
Abre os teus armários
Eu estou a te esperar
para ver deitar o sol
sob os teus braços castos
Cobre a culpa vã
até amanhã eu vou ficar
e fazer do teu sorriso um abrigo
Canta que é no canto que eu vou chegar
Canta o teu encanto que é pra me encantar
Canta para mim qualquer coisa assim sobre você
Que explique a minha paz
Tristeza nunca mais
Vale o meu pranto
que esse canto em solidão
Nessa espera o mundo gira em linhas tortas
Abre essa janela
primavera quer entrar
pra fazer da nossa voz uma só nota
Canto que é de canto que eu vou chegar
Canto e toco um canto que é pra te encantar
Canto para mim qualquer coisa assim sobre você
que explique a minha paz
Tristeza nunca mais
Um comentário:
Estou indicando o blog aos amigos que gostam de boa musica!Todos tem agradecido pela dica!
Musica de hj é perfeita!Uma das minhas prediletas...boa tb na voz da Roberta Sá.
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