"Já dizia o General De Gaulle: 'Este país não é sério!'. Mais vale um craque de gol, que dois de araque no Ministério". Os versos da canção "M te vê" de Rita Lee e Roberto de Carvalho, dizem muito de nós: brasileiros.
Somos um país em que o futebol, muito mais do que um esporte, é válvula de esperança e desejo de vida. A carreira futebolística é sonho e luta de muitos meninos da periferia, por exemplo.
O futebol é nossa paixão maior. Demos a este esporte estrangeiro (do colonizador) a resposta antropofágica do colonizado. Fizemos carnaval (basta atentar para os nossos brilhantes jogadores que impuseram novas formas de jogar) com a técnica vinda de fora.
Mas, como José Miguel Wisnik sugere, brilhantemente, no livro Veneno remédio: o futebol e o Brasil, reforçando os versos de Rita e Roberto, citados aqui, as luzes lançadas sobre o futebol muitas vezes servem para tirar o foco das mazelas gritantes de nosso cotidiano.
Seja como for: somos o país do futebol, para o bem (remédio) e para o mal (veneno). O silêncio e a fúria que tomam conta do país durante uma partida da seleção brasileira revela isso.
O sujeito da canção "O futebol", de Chico Buarque (Chico Buarque, 1989) filma e fotografa aquele que faz a festa acontecer: o jogador. Não é à toa que a canção é dedicada a Mané, Didi, Pagão, Pelé e Canhoteiro. Alguns dos nossos grandes guerreiros, no "Coliseu" do futebol.
A entoação e a melodia, em câmera lenta, captam e traduzem a movimentação do jogador em campo. O ouvinte "vê" aquilo que é dito. Eis a obtenção da emoção: o gol do compositor.
O sujeito cria uma "canção capenga" (cheia de desvios melódicos e entoativos) para que o foco seja direcionado "apenas" para o jogador, que ora é comparado ao pintor, ora ao poeta: tentativa feliz de evocar a semelhança entre o futebol e a arte: o futebol-arte do homem-gol. Do qual os homenageados da canção são mestres.
O sujeito desenvolve a canção comparando seu trabalho criativo (de compositor) aos passes, firulas e chutes a gol do jogador. E chega a conclusão que nunca fará um feito igual ao rei do futebol. Isso aponta ainda o gosto (consumido e consumado) pelo futebol em detrimento às outras formas de entretenimento: no caso, a canção.
Geometrias e sentimentos se esboroam no campo; transpiração e inspiração se misturam no fazer cancional: Deste modo, "O futebol" finda por ser uma metacanção: canção que fala sobre si mesma. O ato de compor (a busca da precisão de flecha e folha seca) é comparado ao gesto do jogador (rasgando o chão e costurando a linha).
Compositor e jogador (homens-comuns) roçam o céu quando aplicam a firula exata (a ideia gingando) e faz o gol: para delírio da gerais. O sujeito da canção sabe disso e joga (persuade) com o ouvinte ao dizer: "Mas que rei sou eu para anular a natural catimba do cantor paralisando esta canção capenga, nega, para captar o visual de um chute a gol".
O futebol é nossa paixão maior. Demos a este esporte estrangeiro (do colonizador) a resposta antropofágica do colonizado. Fizemos carnaval (basta atentar para os nossos brilhantes jogadores que impuseram novas formas de jogar) com a técnica vinda de fora.
Mas, como José Miguel Wisnik sugere, brilhantemente, no livro Veneno remédio: o futebol e o Brasil, reforçando os versos de Rita e Roberto, citados aqui, as luzes lançadas sobre o futebol muitas vezes servem para tirar o foco das mazelas gritantes de nosso cotidiano.
Seja como for: somos o país do futebol, para o bem (remédio) e para o mal (veneno). O silêncio e a fúria que tomam conta do país durante uma partida da seleção brasileira revela isso.
O sujeito da canção "O futebol", de Chico Buarque (Chico Buarque, 1989) filma e fotografa aquele que faz a festa acontecer: o jogador. Não é à toa que a canção é dedicada a Mané, Didi, Pagão, Pelé e Canhoteiro. Alguns dos nossos grandes guerreiros, no "Coliseu" do futebol.
A entoação e a melodia, em câmera lenta, captam e traduzem a movimentação do jogador em campo. O ouvinte "vê" aquilo que é dito. Eis a obtenção da emoção: o gol do compositor.
O sujeito cria uma "canção capenga" (cheia de desvios melódicos e entoativos) para que o foco seja direcionado "apenas" para o jogador, que ora é comparado ao pintor, ora ao poeta: tentativa feliz de evocar a semelhança entre o futebol e a arte: o futebol-arte do homem-gol. Do qual os homenageados da canção são mestres.
O sujeito desenvolve a canção comparando seu trabalho criativo (de compositor) aos passes, firulas e chutes a gol do jogador. E chega a conclusão que nunca fará um feito igual ao rei do futebol. Isso aponta ainda o gosto (consumido e consumado) pelo futebol em detrimento às outras formas de entretenimento: no caso, a canção.
Geometrias e sentimentos se esboroam no campo; transpiração e inspiração se misturam no fazer cancional: Deste modo, "O futebol" finda por ser uma metacanção: canção que fala sobre si mesma. O ato de compor (a busca da precisão de flecha e folha seca) é comparado ao gesto do jogador (rasgando o chão e costurando a linha).
Compositor e jogador (homens-comuns) roçam o céu quando aplicam a firula exata (a ideia gingando) e faz o gol: para delírio da gerais. O sujeito da canção sabe disso e joga (persuade) com o ouvinte ao dizer: "Mas que rei sou eu para anular a natural catimba do cantor paralisando esta canção capenga, nega, para captar o visual de um chute a gol".
***
O futebol
(Chico Buarque)
Para estufar esse filó
Como eu sonhei
Só
Se eu fosse o rei
Para tirar efeito igual
Ao jogador
Qual
Compositor
Para aplicar uma firula exata
Que pintor
Para emplacar em que pinacoteca, nega
Pintura mais fundamental
Que um chute a gol
Com precisão
De flecha e folha seca
Parafusar algum joão
Na lateral
Não
Quando é fatal
Para avisar a finta enfim
Quando não é
Sim
No contrapé
Para avançar na vaga geometria
O corredor
Na paralela do impossível, minha nega
No sentimento diagonal
Do homem-gol
Rasgando o chão
E costurando a linha
Parábola do homem comum
Roçando o céu
Um
Senhor chapéu
Para delírio das gerais
No coliseu
Mas
Que rei sou eu
Para anular a natural catimba
Do cantor
Paralisando esta canção capenga, nega
Para captar o visual
De um chute a gol
E a emoção
Da idéia quando ginga
(Para Mané para Didi para Mané Mané para Didi
para Mané para Didi para Pagão para Pelé e Canhoteiro)
(Chico Buarque)
Para estufar esse filó
Como eu sonhei
Só
Se eu fosse o rei
Para tirar efeito igual
Ao jogador
Qual
Compositor
Para aplicar uma firula exata
Que pintor
Para emplacar em que pinacoteca, nega
Pintura mais fundamental
Que um chute a gol
Com precisão
De flecha e folha seca
Parafusar algum joão
Na lateral
Não
Quando é fatal
Para avisar a finta enfim
Quando não é
Sim
No contrapé
Para avançar na vaga geometria
O corredor
Na paralela do impossível, minha nega
No sentimento diagonal
Do homem-gol
Rasgando o chão
E costurando a linha
Parábola do homem comum
Roçando o céu
Um
Senhor chapéu
Para delírio das gerais
No coliseu
Mas
Que rei sou eu
Para anular a natural catimba
Do cantor
Paralisando esta canção capenga, nega
Para captar o visual
De um chute a gol
E a emoção
Da idéia quando ginga
(Para Mané para Didi para Mané Mané para Didi
para Mané para Didi para Pagão para Pelé e Canhoteiro)
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