"Minha flor, meu bebê", de Cazuza e Dé, é um mimo. O sujeito da canção parece tomar o outro nos braços e acalentá-lo. Literalmente, tendo em vista as referências às noites de sono em que vela o outro.
Do disco Ideologia (1988), "Minha flor, meu bebê" trata, de modo todo terno (mas consciente de que a dor no fundo esconde uma pontinha de prazer), do sujeito que canta a vida para o outro. Ao "conversar" com o outro, o sujeito manda uma mensagem aos amigos (e aos ouvintes): estou amando e isso significa entrega total ("me fingir de burro, pra você [o outro] se sobressair").
Claro, poeta (sereia que canta a vida do (e para o) outro), o sujeito é um fingidor no melhor uso do termo, como propôs Fernando Pessoa, no poema "Autopsicografia": "O poeta é um fingidor. Finge tão completamente que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente".
Sim, o sujeito de "Minha flor, meu bebê" sente dor, com sua pontinha de prazer: prazer advindo do júbilo de perceber o outro feliz devido ao canto. Ele se entrega por completo e pede muito pouco em troca: a alegria de ver o outro bem. Ou seja, ele ama. Ele guarda (cuida) o outro (afinal flor e bebê precisam de cuidados delicados e especiais) iluminando a ambos, pois um existe no outro. E se reconhece como egoísta por isso.
Ao cantar o outro, o sujeito, como nos versos de Pessoa, sente a dor cantada (do outro) como se fosse dele (do sujeito). Eis o mistério da poeta: levar quem o ouve a sentir (o que é ouvido) a terrível e prazerosa sensação de que sujeito o objeto são um: a ficção é vida (real).
O sujeito de "Minha flor, meu bebê" entretém a razão (ele sabe que é um fingidor) valorizando (iluminando) a vida do outro. Ele não é louco coisa nenhuma; ele nega a ligação amor e loucura (desrazão) ao deixar perceber o pensamento de si sobre as ações.
O sujeito está onde o amor está: velando pelo outro. Assim, sujeito e destinatário estão cá dentro deles mesmos. E se a voz da noite (parceira dos amantes) silenciar, existirá a voz do sujeito nascendo, rompendo, rasgando, tomando seus corpos e embalando, infinitamente, um no outro, e o contrário disso.
Claro, poeta (sereia que canta a vida do (e para o) outro), o sujeito é um fingidor no melhor uso do termo, como propôs Fernando Pessoa, no poema "Autopsicografia": "O poeta é um fingidor. Finge tão completamente que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente".
Sim, o sujeito de "Minha flor, meu bebê" sente dor, com sua pontinha de prazer: prazer advindo do júbilo de perceber o outro feliz devido ao canto. Ele se entrega por completo e pede muito pouco em troca: a alegria de ver o outro bem. Ou seja, ele ama. Ele guarda (cuida) o outro (afinal flor e bebê precisam de cuidados delicados e especiais) iluminando a ambos, pois um existe no outro. E se reconhece como egoísta por isso.
Ao cantar o outro, o sujeito, como nos versos de Pessoa, sente a dor cantada (do outro) como se fosse dele (do sujeito). Eis o mistério da poeta: levar quem o ouve a sentir (o que é ouvido) a terrível e prazerosa sensação de que sujeito o objeto são um: a ficção é vida (real).
O sujeito de "Minha flor, meu bebê" entretém a razão (ele sabe que é um fingidor) valorizando (iluminando) a vida do outro. Ele não é louco coisa nenhuma; ele nega a ligação amor e loucura (desrazão) ao deixar perceber o pensamento de si sobre as ações.
O sujeito está onde o amor está: velando pelo outro. Assim, sujeito e destinatário estão cá dentro deles mesmos. E se a voz da noite (parceira dos amantes) silenciar, existirá a voz do sujeito nascendo, rompendo, rasgando, tomando seus corpos e embalando, infinitamente, um no outro, e o contrário disso.
***
Minha flor, meu bebê
(Cazuza / Dé)
Dizem que tô louco
Por te querer assim
Por pedir tão pouco
E me dar por feliz
Em perder noites de sono
Só pra te ver dormir
E me fingir de burro
Pra você sobressair
Dizem que tô louco
Que você manda em mim
Mas não me convencem, não
Que seja tão ruim
Que prazer mais egoísta
O de cuidar de um outro ser
Mesmo se dando mais
Do que se tem pra receber
E é por isso que eu te chamo
Minha flor, meu bebê
Dizem que tô louco
E falam pro meu bem
Os meus amigos todos
Será que eles não entendem
Que quem ama nesta vida
Às vezes ama sem querer
Que a dor no fundo esconde
Uma pontinha de prazer
E é por isso que eu te chamo
Minha flor, meu bebê
(Cazuza / Dé)
Dizem que tô louco
Por te querer assim
Por pedir tão pouco
E me dar por feliz
Em perder noites de sono
Só pra te ver dormir
E me fingir de burro
Pra você sobressair
Dizem que tô louco
Que você manda em mim
Mas não me convencem, não
Que seja tão ruim
Que prazer mais egoísta
O de cuidar de um outro ser
Mesmo se dando mais
Do que se tem pra receber
E é por isso que eu te chamo
Minha flor, meu bebê
Dizem que tô louco
E falam pro meu bem
Os meus amigos todos
Será que eles não entendem
Que quem ama nesta vida
Às vezes ama sem querer
Que a dor no fundo esconde
Uma pontinha de prazer
E é por isso que eu te chamo
Minha flor, meu bebê
2 comentários:
Ai Leonardo... Essa música é uma doçura. Eu sou praticante desse tipo de afeto. Que se regozija negando a si mesmo para ver brilhar o outro. Amor prepotente que acha que sabe cuidar melhor do que ninguém daquele sentimento delicado. Que faz de tudo um pouco ( até se fingir de burro) para essa flor delicada achar que é o maior jequitibá do mundo. rsrsrs
É um amor egoísta, como os das mães.
E repleto de sacrifícios, entregas e dores como o delas também. Em cada dor , um prazer.
Lindo seu texto!
( vim comentar aqui no seu blog tb rsrsrs)
fiquei comovido, Fabiana.
linda declaração.
bjs
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