O episódio das sereias, cantado por Homero no “canto XII” da Odisséia, ocupa um espaço de particular importância no imaginário ocidental. Seja pelos núcleos duros da filosofia por ele lançados, seja pela força do mito em si.
Mas o que é o tal “canto das sereias” e por que precisamos ser cantados? A quantidade de textos que comentam este episódio é enorme. Dentre eles pinço os comentários do filósofo alemão Peter Sloterdijk (Esferas Vol I), para pensar a canção "Tudo com você", de Lulu Santos e Fausto Nilo (Tempos modernos, 1982): mais precisamente os versos "eu quero tudo com você que só sabe viver sabe cantar".
Estes versos, além de conter o título da canção, condensam o gesto de cantar com o gesto de viver. Ou seja, saber viver é saber canta: a vida (eu, o outro e os mundos ao nosso redor).
O canto das sereias é um canto que evoca o passado (a guerra de Tróia), o presente (retorno à Ítaca, sua terra) e o futuro (o orgulho e a fama) do Ulisses homérico. Daí o poder do canto das sereias: ele sintetiza (valoriza) e pulveriza (dissemina e mata), ao mesmo tempo, a subjetividade de quem é cantado.
Somos cantados desde o ventre materno: questão ontológica: nós, seres humanos, queremos ser continuamente cantados e tal “necessidade” surge na relação mãe-feto e se reforça no “nascimento dual” mãe-bebe.
Para Sloterdijk, a mãe, assim como as sereias interpretam o desejo de Ulisses e canta-o, canta a vida para o bebê. Assim, já no ventre, somos partes dependentes do outro e a ideia do indivíduo autônomo é falsa. O bebê está no mundo, embora não saiba onde está, pois incorpora todos os códigos de indefinição desde o ventre. Mãe e criança são um.
Adultos, distanciamo-nos da relação com o imediato. Aprendemos a fechar os ouvidos, pois é cobrada de nós, por nós mesmos, a capacidade crítica do espaço compartilhado. Essa automatização provoca uma diminuição progressiva do encantamento.
Deste modo, vivemos à espera de ser cantados. O sujeito se distingue a partir do canto do outro. O importante é a diferenciação a partir do canto alheio. Queremos, assim como Ulisses, escutar sobre nós mesmos e estamos com os ouvidos sempre abertos à sedução. O canto é um triunfo.
O sujeito de "Tudo com você" parece saber disso e não quer perder sua sereia: satisfaz as vontades dela, para tê-la cantando (a vida) ao seu lado. "Satisfazer tua vontade também me sacia", diz (canta) o sujeito.
Estes versos, além de conter o título da canção, condensam o gesto de cantar com o gesto de viver. Ou seja, saber viver é saber canta: a vida (eu, o outro e os mundos ao nosso redor).
O canto das sereias é um canto que evoca o passado (a guerra de Tróia), o presente (retorno à Ítaca, sua terra) e o futuro (o orgulho e a fama) do Ulisses homérico. Daí o poder do canto das sereias: ele sintetiza (valoriza) e pulveriza (dissemina e mata), ao mesmo tempo, a subjetividade de quem é cantado.
Somos cantados desde o ventre materno: questão ontológica: nós, seres humanos, queremos ser continuamente cantados e tal “necessidade” surge na relação mãe-feto e se reforça no “nascimento dual” mãe-bebe.
Para Sloterdijk, a mãe, assim como as sereias interpretam o desejo de Ulisses e canta-o, canta a vida para o bebê. Assim, já no ventre, somos partes dependentes do outro e a ideia do indivíduo autônomo é falsa. O bebê está no mundo, embora não saiba onde está, pois incorpora todos os códigos de indefinição desde o ventre. Mãe e criança são um.
Adultos, distanciamo-nos da relação com o imediato. Aprendemos a fechar os ouvidos, pois é cobrada de nós, por nós mesmos, a capacidade crítica do espaço compartilhado. Essa automatização provoca uma diminuição progressiva do encantamento.
Deste modo, vivemos à espera de ser cantados. O sujeito se distingue a partir do canto do outro. O importante é a diferenciação a partir do canto alheio. Queremos, assim como Ulisses, escutar sobre nós mesmos e estamos com os ouvidos sempre abertos à sedução. O canto é um triunfo.
O sujeito de "Tudo com você" parece saber disso e não quer perder sua sereia: satisfaz as vontades dela, para tê-la cantando (a vida) ao seu lado. "Satisfazer tua vontade também me sacia", diz (canta) o sujeito.
***
Tudo com você
(Lulu Santos / Fausto Nilo)
Quero te conquistar
Um pouco mais e mais
A cada dia
Satisfazer tua vontade
Também me sacia
Vem me hipnotizar
No alto andar, luar
Me acaricia
Posso morrer de amor
Que ninguém desconfia
Eu quero tudo com você
Que só sabe viver
Sabe cantar
Não vá pra Nova York,
Amor não vá
Eu quero tudo com você, não vá
Não vá, eu quero tudo com você, não vá.
Vem me hipnotizar
No alto andar, luar
Me acaricia
Posso morrer de amor
Que ninguém desconfia
Quero te conquistar
Um pouco mais e mais
A cada dia
Satisfazer tua vontade
Também me sacia
Foi mais profundo por você
Fez chorar mais fez chover
Pare de sonhar
Não vá para Nova York,
Amor não vá
Eu quero tudo com você, não vá.
(Lulu Santos / Fausto Nilo)
Quero te conquistar
Um pouco mais e mais
A cada dia
Satisfazer tua vontade
Também me sacia
Vem me hipnotizar
No alto andar, luar
Me acaricia
Posso morrer de amor
Que ninguém desconfia
Eu quero tudo com você
Que só sabe viver
Sabe cantar
Não vá pra Nova York,
Amor não vá
Eu quero tudo com você, não vá
Não vá, eu quero tudo com você, não vá.
Vem me hipnotizar
No alto andar, luar
Me acaricia
Posso morrer de amor
Que ninguém desconfia
Quero te conquistar
Um pouco mais e mais
A cada dia
Satisfazer tua vontade
Também me sacia
Foi mais profundo por você
Fez chorar mais fez chover
Pare de sonhar
Não vá para Nova York,
Amor não vá
Eu quero tudo com você, não vá.
Um comentário:
Léo,
muito interessante essa referência à Odisséia de Homero. Muito bom texto. Adivânia
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