O Bando de Tangarás, composto por Braguinha, Almirante, Henrique Britto, Alvinho e Noel Medeiros Roxo, se dedicava às canções autorais. Importa lembrar que, como João Máximo e Carlos Didier apontam em Noel Rosa, uma biografia, "o Bando de Tangarás nasce do impulso da moda do momento: a música nordestina". Oposição (intenção nacionalista) às valsas e peças de piano, modinhas, maxixe e fox-trots que se ouviam no Rio de Janeiro de então.
Na embolada ("um estribilho no qual o compositor coloca toda sua singularidade melódica e uma sucessão de versos, em geral improvisados, que cabem perfeitamente em quase todas as emboladas que se conhecem") "Minha viola", deNoel Rosa, o instrumento do título é amigo e companheiro de sofrimento: chora junto com o sujeito, "por causa duma marvada que roubou meu coração".
Além das não-concordâncias artigos/sujeitos, termos como "marvada", "cantadô", "desafiá", etc registram (na escrita) a fala popular; ajudam a criar o clima de desafio (repente) que povoa as feiras do Nordeste; marcam o espaço de onde o sujeito de "Minha viola" canta.
Isso é reforçado pelo "causo" narrado pelo sujeito: "inda outro dia fui cantá no galinheiro e o galo andou o mês inteiro sem vontade de cantar", pois o "meu" canto é tão bonito e bom que deixou o bicho humilhado. Tal mensagem intimida o cantadô que queira desafiar o sujeito que canta em "Minha viola".
Há o conto da dona Chica, que se pinta de vermelho; do jogo de bilhá com seu Saldanha; do velho sovina; e do filador de cigarros: proliferando causos e embolando, encantando e agradando o ouvinte com a capacidade de "improviso" (temas e rimas que surgem supostamente naturais) do sujeito que canta.
Como o cantadô e seu humor ingênuo, o sujeito criado por Noel canta os acontecimentos (notícias do dia a dia) que afetam a vida privada e a sociedade. Daí a referência à febre amarela: "Minha viola" é composta em 1929. Porém, os autores de Noel Rosa, uma biografia lembram que o humor de "Minha viola" não é exatamente caipira: "como provam os versos em que faz referência ao célebre doutor Voronoff e suas tão comentadas experiências no campo dos enxertos".
A dobradinha Martinho da Vila e Mart'nália (no belo disco Poeta da Cidade - Martinho canta Noel, 2010), cria o desafio: as vozes (dos cantadores-emboladores) que se esforçam para encantar o ouvinte. Mart'nália, com sua entoação singularíssima, põe carioquice no mote nordestino, assim como Martinho, com sua "voz malandra", aponta para a malandragem do cantador popular: ambos cariocas pontualmente anordestinizados, valorizando e iluminando a canção de Noel.
Além das não-concordâncias artigos/sujeitos, termos como "marvada", "cantadô", "desafiá", etc registram (na escrita) a fala popular; ajudam a criar o clima de desafio (repente) que povoa as feiras do Nordeste; marcam o espaço de onde o sujeito de "Minha viola" canta.
Isso é reforçado pelo "causo" narrado pelo sujeito: "inda outro dia fui cantá no galinheiro e o galo andou o mês inteiro sem vontade de cantar", pois o "meu" canto é tão bonito e bom que deixou o bicho humilhado. Tal mensagem intimida o cantadô que queira desafiar o sujeito que canta em "Minha viola".
Há o conto da dona Chica, que se pinta de vermelho; do jogo de bilhá com seu Saldanha; do velho sovina; e do filador de cigarros: proliferando causos e embolando, encantando e agradando o ouvinte com a capacidade de "improviso" (temas e rimas que surgem supostamente naturais) do sujeito que canta.
Como o cantadô e seu humor ingênuo, o sujeito criado por Noel canta os acontecimentos (notícias do dia a dia) que afetam a vida privada e a sociedade. Daí a referência à febre amarela: "Minha viola" é composta em 1929. Porém, os autores de Noel Rosa, uma biografia lembram que o humor de "Minha viola" não é exatamente caipira: "como provam os versos em que faz referência ao célebre doutor Voronoff e suas tão comentadas experiências no campo dos enxertos".
A dobradinha Martinho da Vila e Mart'nália (no belo disco Poeta da Cidade - Martinho canta Noel, 2010), cria o desafio: as vozes (dos cantadores-emboladores) que se esforçam para encantar o ouvinte. Mart'nália, com sua entoação singularíssima, põe carioquice no mote nordestino, assim como Martinho, com sua "voz malandra", aponta para a malandragem do cantador popular: ambos cariocas pontualmente anordestinizados, valorizando e iluminando a canção de Noel.
***
Minha viola
(Noel Rosa)
Minha viola
tá chorando com razão
por causa duma marvada
que roubou meu coração.
Eu não respeito
cantadô que é respeitado
que no samba improvisado
me quisé desafiá
Inda outro dia
fui canta no galinheiro
o galo andou o dia inteiro
sem vontade de cantá.
Neste cidade
todo mundo se acautela
com a tal de febre amarela
que não cansa de matá,
e a dona Chica
que anda atrás de mau conselho
pinta o corpo de vermelho
pra o amarelo não pegá.
Eu já jurei
não jogá com seu Saldanha
que diz sempre que me ganha
no tal jogo de bilhá,
sapeca o taco
nas bola de tal maneira
que eu espero a noite inteira
pras bola carambolá.
Conheço um véio
que tem a grande mania
de fazê economia
pra modelo de seus filho,
não usa prato
nem moringa, nem caneca,
e quando senta é de cueca
pra não gastá os fundilho.
Eu tive um sogro
cansado dos regabofe
que procurou o Voronoff,
Doutô muito creditado
e andam dizendo
que o enxerto foi de gato
pois ele pula de quatro
miando pelos telhado.
Adonde eu moro
tem o bloco dos filante
que quase que a todo instante
um cigarro vem filá
e os danado
vem bancando inteligente
diz que tão com dô de dente
que o cigarro faz passá.
(Noel Rosa)
Minha viola
tá chorando com razão
por causa duma marvada
que roubou meu coração.
Eu não respeito
cantadô que é respeitado
que no samba improvisado
me quisé desafiá
Inda outro dia
fui canta no galinheiro
o galo andou o dia inteiro
sem vontade de cantá.
Neste cidade
todo mundo se acautela
com a tal de febre amarela
que não cansa de matá,
e a dona Chica
que anda atrás de mau conselho
pinta o corpo de vermelho
pra o amarelo não pegá.
Eu já jurei
não jogá com seu Saldanha
que diz sempre que me ganha
no tal jogo de bilhá,
sapeca o taco
nas bola de tal maneira
que eu espero a noite inteira
pras bola carambolá.
Conheço um véio
que tem a grande mania
de fazê economia
pra modelo de seus filho,
não usa prato
nem moringa, nem caneca,
e quando senta é de cueca
pra não gastá os fundilho.
Eu tive um sogro
cansado dos regabofe
que procurou o Voronoff,
Doutô muito creditado
e andam dizendo
que o enxerto foi de gato
pois ele pula de quatro
miando pelos telhado.
Adonde eu moro
tem o bloco dos filante
que quase que a todo instante
um cigarro vem filá
e os danado
vem bancando inteligente
diz que tão com dô de dente
que o cigarro faz passá.
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