"Para quem quer se soltar invento o cais, invento mais que a solidão me dá, invento lua nova a clarear, invento o amor e sei a dor de me lançar". Estes primeiros versos de "Cais" (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos) apontam para a necessidade toda nossa (humana) de criar esferas protetoras.
Tais esferas podem ser exemplificadas, desde os laços familiares, com os amigos que fazemos (e junto dos quais nos sentimos mais fortes) e os parceiros das relações erótico-efetivas (que cantam a vida para nós e nos mantem suspensos no ar). Mas, como toda bolha de sabão (solta no ar) as esferas que criamos, vindas das opções que tomamos, estão sempre ameaçadas: pela sedutora "serpente". É ela quem, metaforicamente, nos chama para fora das esferas de proteção e nos mostram a dor de se lançar.
O fato é que sem a explosão da bolha não "tocamos na vida", nem somos por ela afetados: faz-se necessário, assim, que a serpente desempenhe seu papel. Porém, eis a contradição da existência, quando as bolhas explodem (quando mordemos a maçã orfetada) entramos no inferno: somos expulsos do paraíso e confrontados com o mais que (pós/trans)humano em nós.
A vida seria, noutro plano, portanto, a eterna busca de zonas de conforto: a (re)invenção permanente de cais, de porto seguro. Mas, como um porto alegre é bem mais que um porto seguro, "Sem cais", de Caetano Veloso e Pedro Sá (Zii e zie, 2009), apresenta o sujeito que se lança mar adentro e sabe que está sozinho na sua empreitada.
Estranhamentos e incertezas cercam este sujeito desencantado da vida, mas, ao mesmo tempo e agora, afetado pela vida. Fino menino, o sujeito se inclina do lado do sim: da afirmação da existência, sabendo que viver é tomar o veneno e o remédio encapsulados em uma única drágea.
Deitado de frente ao mar (infinito), depois de ter catado um espaço, o sujeito percebe e sente os outros: iconizado em alguém a quem o sujeito quer saber da vida (nome, bairro, amigo, amor) e cujo sorriso promete felicidade e paixão. O verso "inda posso me apaixonar" é a radicalmente bela certeza de estar vivo. Ou seja, é lançar-se "mar aberto, mar adentro, mar intenso, mar imenso sem cais".
O medo, de ver que ainda pode ir bem mais, expresso pelo sujeito, que, por outro lado, gostaria de se dar por inteiro (a essa que nunca viu) é adensado pela visão de deuses brancos e negros que povoam Barra, Gávea e Arpoador. O sujeito quer: ele deseja o desejo, mesmo hesitando explodir sua esfera de proteção.
Tais esferas podem ser exemplificadas, desde os laços familiares, com os amigos que fazemos (e junto dos quais nos sentimos mais fortes) e os parceiros das relações erótico-efetivas (que cantam a vida para nós e nos mantem suspensos no ar). Mas, como toda bolha de sabão (solta no ar) as esferas que criamos, vindas das opções que tomamos, estão sempre ameaçadas: pela sedutora "serpente". É ela quem, metaforicamente, nos chama para fora das esferas de proteção e nos mostram a dor de se lançar.
O fato é que sem a explosão da bolha não "tocamos na vida", nem somos por ela afetados: faz-se necessário, assim, que a serpente desempenhe seu papel. Porém, eis a contradição da existência, quando as bolhas explodem (quando mordemos a maçã orfetada) entramos no inferno: somos expulsos do paraíso e confrontados com o mais que (pós/trans)humano em nós.
A vida seria, noutro plano, portanto, a eterna busca de zonas de conforto: a (re)invenção permanente de cais, de porto seguro. Mas, como um porto alegre é bem mais que um porto seguro, "Sem cais", de Caetano Veloso e Pedro Sá (Zii e zie, 2009), apresenta o sujeito que se lança mar adentro e sabe que está sozinho na sua empreitada.
Estranhamentos e incertezas cercam este sujeito desencantado da vida, mas, ao mesmo tempo e agora, afetado pela vida. Fino menino, o sujeito se inclina do lado do sim: da afirmação da existência, sabendo que viver é tomar o veneno e o remédio encapsulados em uma única drágea.
Deitado de frente ao mar (infinito), depois de ter catado um espaço, o sujeito percebe e sente os outros: iconizado em alguém a quem o sujeito quer saber da vida (nome, bairro, amigo, amor) e cujo sorriso promete felicidade e paixão. O verso "inda posso me apaixonar" é a radicalmente bela certeza de estar vivo. Ou seja, é lançar-se "mar aberto, mar adentro, mar intenso, mar imenso sem cais".
O medo, de ver que ainda pode ir bem mais, expresso pelo sujeito, que, por outro lado, gostaria de se dar por inteiro (a essa que nunca viu) é adensado pela visão de deuses brancos e negros que povoam Barra, Gávea e Arpoador. O sujeito quer: ele deseja o desejo, mesmo hesitando explodir sua esfera de proteção.
***
Sem cais
(Caetano Veloso / Pedro Sá)
Catei colo e o mar parou
Fui deitando pra perguntar
Nome, bairro, amigo, amor
De onde vem o parar o mar?
Seu sorriso bateu aqui
Inda posso me apaixonar
Quero tanto, quero tanto, quero tanto você
Mar aberto, mar adentro, mar intenso, mar imenso sem cais
Tou com medo, tou com medo, tou com medo de ver
Que inda posso, que inda posso, que inda posso ir bem mais
Barra, Gávea e Arpoador
Deuses brancos de luz do mar
Deuses negros um esplendor
Quem é essa e o que será?
Quem me dera eu poder me dar
Todo a essa que eu nunca vi
(Caetano Veloso / Pedro Sá)
Catei colo e o mar parou
Fui deitando pra perguntar
Nome, bairro, amigo, amor
De onde vem o parar o mar?
Seu sorriso bateu aqui
Inda posso me apaixonar
Quero tanto, quero tanto, quero tanto você
Mar aberto, mar adentro, mar intenso, mar imenso sem cais
Tou com medo, tou com medo, tou com medo de ver
Que inda posso, que inda posso, que inda posso ir bem mais
Barra, Gávea e Arpoador
Deuses brancos de luz do mar
Deuses negros um esplendor
Quem é essa e o que será?
Quem me dera eu poder me dar
Todo a essa que eu nunca vi
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