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12 julho 2010

193. Cósmica

Para Rinah Souto

O que seria dos anos 80 sem Baby Consuelo (do Brasil)? Baseada em que podemos fazer quase tudo, sem pecado e sem juízo, Baby sacudia nossas posturas moralistas e cantava a ética da alegria: nossa força maior.
Barrados (ela e Pepeu) na Disneylândia, para onde foram levados por um motorista gay, em uma limosine prata, afinal seus cabelos coloridos não podiam ofuscar o brilho dos brinquedos do parque, a menina energizada fez festa total na canção brasileira.
Baby personificava a busca holística de superar a caretice catalisando forças antimaterialistas de afirmação da alegria de viver. Suas canções eram portais de percepção de um mundo mais feliz: eterno domingo, com todo mundo pintado de verde, restituindo a glória da retomada do contato com a natureza. Tensões flutuantes desenhavam o projeto estético de Baby: a coloração exata dos chacras.
Suas viagens astrais (sua trip pessoal) arrebanhavam um público carente de liberdade de expressão e afirmação. Suas buscas espirituais (reflexo e refração de prana) injetavam vigor, alegria e consciência crítica nos ouvintes. Voltar de uma viagem com Baby é voltar transformado. Pegue-se qualquer disco dela e isso estará comprovado.
Cósmica (1982) é um ótimo exemplo. A canção que dá título ao disco, de autoria da própria Baby, é uma louvação, um hino de agradecimento aos estágios superiores (de consciência) alcançados.
O sujeito canta a transformação do homem comum, que um dia saca que o seu lado é a paz e o amor. Ele desliza do simples ao complexo; da matéria ao espírito: busca a sabedoria através da percepção dos detalhes da vida.
O outro, com a ajuda do canto (atravessado de guitarras virtuosas e sons intergaláticos) do sujeito, descobre que cósmica é a sintonia espiritual: o religar do indivíduo com toda a natureza. Ser telúrico: livre de (pre)conceitos.

***

Cósmica
(Baby Consuelo)

Era uma vez uma pessoa comum
A fim de saber do bem e do mal
E que um dia sacou
Que o seu lado é o amor
Não aceita a violência
Cultiva, a consciência
E vive nessa magia
Em busca da sabedoria

Cósmica a claridade da manhã
Cósmica como o infinito lá do céu
Cósmica como toda a natureza

Brotou bem lá no fundo
Do seu pequenino mundo
O desejo de saber como é profundo viver

Da matéria ao espírito
Por mais que parece esquisito
Cósmica é a sintonia espiritual
Prazer transcendental

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

Um de seus textos que mais gostei,só você mesmo pra lembrar de cósmica na voz de Baby ex Bernadete,ex consuelo,ex Brasil e agora de "jesus".