Zeca Baleiro é um artista brincante: sabe diluir o sangue do poeta em porções generosas de ironia e humor. Suas letras (e baladas) captam a tristeza e a devolve ao mundo em forma de alegria consciente.
Totalmente homo ludens, ou seja, sujeito que sabe usar (brincar), com sabedoria refinada, a ginga do indivíduo posto na existência, Zeca Baleiro toca a sensibilidade dos seus ouvintes por mexer, de leve mais cirurgicamente, em temas que inquietam a todos nós: sujeitos que muitas vezes, pelas intempéries (e mesmo pelas pequenas alegrias) do cotidiano, nos tornamos insensíveis à vida.
Os sujeitos criados por Zeca Baleiro, ao contrário, lançam-se no espiral de fumaça: fazem dos limões limonadas, rindo de si e das tempestades. Eles não tem medo do ridículo e, por isso, afetam e são afetados pela vida: vivem de fato.
Em Baladas do asfalto e outros blues (2005) não é diferente. Na canção "Alma nova" (Zeca Baleiro e Fernando Abreu), por exemplo, sugere-se um diálogo em que só ouvimos a voz do sujeito da canção. Este discute com sua alma (desejosa de liberdade), pois ela não cabe em si (no corpo do sujeito) quando vê a amada "linda, nua e um pouca nervosa".
A mensagem é clara e o sujeito de Baleiro brinca com as várias camadas de nosso corpo físico e astral buscando entender quem de fato ele é, e quais são os (des)limites do desejo. Mas com o espectro da liberdade sempre em voltas.
A alma (dona de si) se espalha (quer se lançar), enquanto o sujeito diz "calma alma minha", na tentativa de recolhê-la: calminha. Ele pede calma à própria alma (aliás, a palavra "alma" está dentro da palavra "calma"). É preciso conter o ímpeto do desejo, afinal o sujeito da canção está no meio de uma discussão com a amada.
Por outro lado, o exato fato da outra estar nervosa (mas também nua) enriquece a sua personalidade e a sua beleza: daí o desejo louco da alma, que, ao que tudo indica, representa o instinto do sujeito. Isso surpreende ao próprio sujeito, pois ele não entende como a alma entra nessa história, afinal o amor é tão carnal: subvertendo e rompendo a ideia (algo) romântica das dicotomias amor e paixão; razão e desejo; ética e moral.
A mensagem da canção extrapola a querela entre o sujeito e a amada e aponta para luta interna entre a razão do corpo do sujeito e sua alma imatura (prenhe de desejo e vontade). Ele revela (diz) tudo isso para a outra (a musa inquietante) e nós, como bons ouvintes (quase voyeurs diante das imagens cantadas), invadimos a intimidade das personagens.
A alma (sempre nova ao contato com a visão da amada do sujeito) tem vontade de vida e indo além da posição de voyeur, quer entrar no jogo, quer entrar na musa, como já viu (tantas vezes) o sujeito fazer, com o corpo.
Os sujeitos criados por Zeca Baleiro, ao contrário, lançam-se no espiral de fumaça: fazem dos limões limonadas, rindo de si e das tempestades. Eles não tem medo do ridículo e, por isso, afetam e são afetados pela vida: vivem de fato.
Em Baladas do asfalto e outros blues (2005) não é diferente. Na canção "Alma nova" (Zeca Baleiro e Fernando Abreu), por exemplo, sugere-se um diálogo em que só ouvimos a voz do sujeito da canção. Este discute com sua alma (desejosa de liberdade), pois ela não cabe em si (no corpo do sujeito) quando vê a amada "linda, nua e um pouca nervosa".
A mensagem é clara e o sujeito de Baleiro brinca com as várias camadas de nosso corpo físico e astral buscando entender quem de fato ele é, e quais são os (des)limites do desejo. Mas com o espectro da liberdade sempre em voltas.
A alma (dona de si) se espalha (quer se lançar), enquanto o sujeito diz "calma alma minha", na tentativa de recolhê-la: calminha. Ele pede calma à própria alma (aliás, a palavra "alma" está dentro da palavra "calma"). É preciso conter o ímpeto do desejo, afinal o sujeito da canção está no meio de uma discussão com a amada.
Por outro lado, o exato fato da outra estar nervosa (mas também nua) enriquece a sua personalidade e a sua beleza: daí o desejo louco da alma, que, ao que tudo indica, representa o instinto do sujeito. Isso surpreende ao próprio sujeito, pois ele não entende como a alma entra nessa história, afinal o amor é tão carnal: subvertendo e rompendo a ideia (algo) romântica das dicotomias amor e paixão; razão e desejo; ética e moral.
A mensagem da canção extrapola a querela entre o sujeito e a amada e aponta para luta interna entre a razão do corpo do sujeito e sua alma imatura (prenhe de desejo e vontade). Ele revela (diz) tudo isso para a outra (a musa inquietante) e nós, como bons ouvintes (quase voyeurs diante das imagens cantadas), invadimos a intimidade das personagens.
A alma (sempre nova ao contato com a visão da amada do sujeito) tem vontade de vida e indo além da posição de voyeur, quer entrar no jogo, quer entrar na musa, como já viu (tantas vezes) o sujeito fazer, com o corpo.
***
Alma nova
(Zeca Baleiro / Fernando Abreu)
Sempre que te vejo assim
linda nua e um pouco nervosa
minha velha alma
cria alma nova
quer voar pela boca
quer sair por aí
e eu digo
calma alma minha
calminha
ainda não é hora de partir
Então ficamos
minha alma e eu
olhando o corpo teu
sem entender
como é que a alma entra nessa história
afinal o amor é tão carnal
eu bem que tento
tento entender
mas a minha alma não quer nem saber
só quer entrar em você
como tantas vezes já me viu fazer
e eu digo
calma alma minha
calminha
você tem muito o que aprender
(Zeca Baleiro / Fernando Abreu)
Sempre que te vejo assim
linda nua e um pouco nervosa
minha velha alma
cria alma nova
quer voar pela boca
quer sair por aí
e eu digo
calma alma minha
calminha
ainda não é hora de partir
Então ficamos
minha alma e eu
olhando o corpo teu
sem entender
como é que a alma entra nessa história
afinal o amor é tão carnal
eu bem que tento
tento entender
mas a minha alma não quer nem saber
só quer entrar em você
como tantas vezes já me viu fazer
e eu digo
calma alma minha
calminha
você tem muito o que aprender
3 comentários:
Adoro essa música, Zeca é mesmo fenomenal, consegue transformar as nossas angústias em inebriante alegria.Adorei a explicação para a música, não tinha reparado por esse ângulo.
Olá Leonardo...passei por aqui..e ví o post do Zeca e nao pude deixar de comentar...ele tocará no Festival Paranapiacaba...tb tocará Izabela Taviani.
segue o link pra maiores informações do evento...
http://guiadoviajante.com/1130/programacao-10%C2%BA-festival-de-inverno-paranapiacaba-2010/
Abraço
Alexandre
Que blog maravilhoso! Parabéns...
Acho que muitas vezes deixamos de refletir sobre letras que podem trazer conteúdos inimagináveis. Sempre achei que valia a pena destrinchar e humildemente tento fazer isso, mas não encontro pessoas pra discutir com o mesmo interesse. Foi tão bom ver que minha opinião sobre essa música que adoro do Zeca (artista que admiro muito) se assemelha a de alguém que tem muito mais experiência nessa história que eu (:
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