As canções compostas por Ângela Ro Ro soam sempre íntimas, pessoais e intransferíveis; tocam intensamente o ouvinte exatamente pelo clima de cumplicidade que vaza das letras e da melodia (e interpretação) passional; mexem com sentimentos que preferimos que fiquem quietos.
Mesmo nas canções mais irônicas, e Ro Ro sabe usar a autoironia como ninguém (sabe rimar amor e dor sem falsas autopiedades), talvez por isso mesmo, as canções soam como reverberações autoconfessionais, atingindo em cheio o ouvinte: afinal, somos diferentes (cada um tem sua singularidade inapreenssível), mas estamos expostos (guardadas as diversas matizes) às mesmas inquietações.
"Fogueira", do disco A vida é mesmo assim (1984), é um exemplo do claro instante em que o sujeito exige a atenção do outro: por que acender um desejo se temes a minha fêmea? O sujeito se entrega de forma contundente: "eu sou tua, me ama".
O sujeito chama (e inflama) o outro para viver o amor (sem dor), O tempo passa e as mágoas devem ser esquecidas, a fim de que só o amor sobreviva e viva o encontro amoroso: agressivamente sensual.
O sujeito quer que as labaredas lambam seu corpo, assim como a língua em chamas do amante. Ele se atira no labirinto de paixões despertado pelo outro. Quer cantar isso. E canta: faz da provável impossibilidade erótica um canto de lamento e elegia: me deixa gozar.
As contradições (bem e mal; amor e dor), que se autodevoram, apertam a sensação do sujeito que não encontra outra forma de deixar o desejo escapar senão cantando: a urgência de se fazer uma canção, o sangue do amor.
Ele canta a velha história, mas que sempre ressurge com o vigor de inédita: o amor. A descoberta, eternamente nova, de se perceber apaixonado. Se a vida é fugaz, o amor não. Porém, sem retorno, o sujeito dá a outra face: a dor.
"Fogueira", do disco A vida é mesmo assim (1984), é um exemplo do claro instante em que o sujeito exige a atenção do outro: por que acender um desejo se temes a minha fêmea? O sujeito se entrega de forma contundente: "eu sou tua, me ama".
O sujeito chama (e inflama) o outro para viver o amor (sem dor), O tempo passa e as mágoas devem ser esquecidas, a fim de que só o amor sobreviva e viva o encontro amoroso: agressivamente sensual.
O sujeito quer que as labaredas lambam seu corpo, assim como a língua em chamas do amante. Ele se atira no labirinto de paixões despertado pelo outro. Quer cantar isso. E canta: faz da provável impossibilidade erótica um canto de lamento e elegia: me deixa gozar.
As contradições (bem e mal; amor e dor), que se autodevoram, apertam a sensação do sujeito que não encontra outra forma de deixar o desejo escapar senão cantando: a urgência de se fazer uma canção, o sangue do amor.
Ele canta a velha história, mas que sempre ressurge com o vigor de inédita: o amor. A descoberta, eternamente nova, de se perceber apaixonado. Se a vida é fugaz, o amor não. Porém, sem retorno, o sujeito dá a outra face: a dor.
***
Fogueira
(Angela Ro Ro)
Por que queimar minha fogueira?
E destruir a companheira
Por que sangrar o meu amor assim?
Não penses ter a vida inteira
Para esconder teu coração
Mas breve que o tempo passa
Vem num galope o meu perdão
Porque temer a minha fêmea?
Se a possuis como ninguém
A cada bem do mal do amor em mim
Não penses ter a vida inteira
Para roubar meu coração
Cada vez é a primeira
Do teu também serás ladrão
Deixa eu cantar
Aquela velha história, o amor
Deixa penar, a liberdade está (também) na dor
Eu vivo a vida inteira
A descobrir o que é o amor
Leve pulsar do sol a me queimar
Não penso ter a vida inteira
Pra guiar meu coração
Eu sei que a vida é passageira
E o amor que eu tenho não!
Quero ofertar
A minha outra face à dor
Deixa eu sonhar com a tua outra face, amor
(Angela Ro Ro)
Por que queimar minha fogueira?
E destruir a companheira
Por que sangrar o meu amor assim?
Não penses ter a vida inteira
Para esconder teu coração
Mas breve que o tempo passa
Vem num galope o meu perdão
Porque temer a minha fêmea?
Se a possuis como ninguém
A cada bem do mal do amor em mim
Não penses ter a vida inteira
Para roubar meu coração
Cada vez é a primeira
Do teu também serás ladrão
Deixa eu cantar
Aquela velha história, o amor
Deixa penar, a liberdade está (também) na dor
Eu vivo a vida inteira
A descobrir o que é o amor
Leve pulsar do sol a me queimar
Não penso ter a vida inteira
Pra guiar meu coração
Eu sei que a vida é passageira
E o amor que eu tenho não!
Quero ofertar
A minha outra face à dor
Deixa eu sonhar com a tua outra face, amor
Um comentário:
Adorei a resenha.esta música na voz da Bethânia também ficou linda,talvez seja porque as duas tenham "temperamentos parecido".
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