Alfredo Bosi, no livro O ser e o tempo da poesia, registra que "a voz é vibração de um corpo situado no espaço e no tempo". E que som "é ondas de ar que ressoam nas cavidades bucal e nasal": "A onda sonora é articulada no processo de fonação" e "encontra aí obstáculos como o palato, a língua, os dentes e os lábios".
Mais adiante o autor afirma que "o som do signo [complexo, a frase, o discurso] guarda, na aérea e ondulante matéria, o calor e o sabor de um viagem noturna pelos corredores do corpo". Esta investigação da corporeidade dá voltas na mente quando, por exemplo, ouvimos Ana Carolina cantar "Garganta", de Totonho Villeroy.
Guardada no disco Ana Carolina, 1999, a canção, sob a interpretação de Ana, pela harmonia entre sua potência vocal e a pegada forte de violão, faz vibrar uma cadeia de significações que chegam ao ouvinte com forças viril e sensual.
Aliado a isso, vira e mexe, há uns manejos de guitarra que figurativizam o arranhado da garganta: médium, fatigado de tanto cantar o outro, dos sentimentos do sujeito. Essa voz que canta na ausência do objeto intenciona a presença deste. O grito, excrecência do desejo, arranha e assanha a imagem (tintas sobre azulejo) do outro, buscada pelo sujeito da canção. A voz abre caminho para que se dê a presença.
O sujeito canta, grita, mas nunca chega ao objeto. Mas é este empreendimento fracassado que lhe faz seguir cantando: arranhando a garganta. Seu desejo é que o outro, pelo rádio do coração, sintonize-se à canção: perturbando-se, perdendo o sono e sentindo o desassossego amoroso (e irado) que lhe chega pela voz.
Com candura, ou na cara dura, o sujeito luxurioso (que tá dando linha para depois abandonar) age com a meta de desfazer as certezas (lençóis macios, travesseiros soltos) e rodar a cabeça (caixa de ressonância do canto) do outro, que precisa aceitar o sujeito como ele é: cria da rua, onde aprendeu a se virar sozinho.
A força da voz de Ana Carolina, portanto, empresta à canção o gesto mais certo. O ouvinte consegue perceber o jogo dos "amantes do êxtase e do silêncio" a rolar com suas roupas pelo chão.
Guardada no disco Ana Carolina, 1999, a canção, sob a interpretação de Ana, pela harmonia entre sua potência vocal e a pegada forte de violão, faz vibrar uma cadeia de significações que chegam ao ouvinte com forças viril e sensual.
Aliado a isso, vira e mexe, há uns manejos de guitarra que figurativizam o arranhado da garganta: médium, fatigado de tanto cantar o outro, dos sentimentos do sujeito. Essa voz que canta na ausência do objeto intenciona a presença deste. O grito, excrecência do desejo, arranha e assanha a imagem (tintas sobre azulejo) do outro, buscada pelo sujeito da canção. A voz abre caminho para que se dê a presença.
O sujeito canta, grita, mas nunca chega ao objeto. Mas é este empreendimento fracassado que lhe faz seguir cantando: arranhando a garganta. Seu desejo é que o outro, pelo rádio do coração, sintonize-se à canção: perturbando-se, perdendo o sono e sentindo o desassossego amoroso (e irado) que lhe chega pela voz.
Com candura, ou na cara dura, o sujeito luxurioso (que tá dando linha para depois abandonar) age com a meta de desfazer as certezas (lençóis macios, travesseiros soltos) e rodar a cabeça (caixa de ressonância do canto) do outro, que precisa aceitar o sujeito como ele é: cria da rua, onde aprendeu a se virar sozinho.
A força da voz de Ana Carolina, portanto, empresta à canção o gesto mais certo. O ouvinte consegue perceber o jogo dos "amantes do êxtase e do silêncio" a rolar com suas roupas pelo chão.
***
Garganta
(Totonho Villeroy)
Minha garganta estranha
Quando não te vejo
Me vem um desejo
Doido de gritar
Minha garganta arranha
A tinta e os azulejos
Do teu quarto, da cozinha
Da sala de estar
Venho madrugada
Perturbar teu sono
Como um cão sem dono
Me ponho a ladrar
Atravesso o travesseiro
Te reviro pelo avesso
Tua cabeça enlouqueço
Faço ela rodar
Sei que não sou santa
Às vezes vou na cara dura
Às vezes ajo com candura
Pra te conquistar
Mas não sou beata
Me criei na rua
E não mudo minha postura
Só pra te agradar
Vim parar nessa cidade
Por força da circunstância
Sou assim desde criança
Me criei meio sem lar
Aprendi a me virar sozinha
E se eu tô te dando linha
É pra depois te abandonar
(Totonho Villeroy)
Minha garganta estranha
Quando não te vejo
Me vem um desejo
Doido de gritar
Minha garganta arranha
A tinta e os azulejos
Do teu quarto, da cozinha
Da sala de estar
Venho madrugada
Perturbar teu sono
Como um cão sem dono
Me ponho a ladrar
Atravesso o travesseiro
Te reviro pelo avesso
Tua cabeça enlouqueço
Faço ela rodar
Sei que não sou santa
Às vezes vou na cara dura
Às vezes ajo com candura
Pra te conquistar
Mas não sou beata
Me criei na rua
E não mudo minha postura
Só pra te agradar
Vim parar nessa cidade
Por força da circunstância
Sou assim desde criança
Me criei meio sem lar
Aprendi a me virar sozinha
E se eu tô te dando linha
É pra depois te abandonar
Um comentário:
Duas interpretações exatas,a de ana carolina(vocal)e a sua(verbal).
Postar um comentário