Samba de enredo é aquele tipo de samba (moderno) que marca o ritmo da evolução de uma escola no sambódromo, além de contar (cantar) uma história: o enredo, propriamente dito, escolhido para o carnaval daquele ano. O samba de enredo, portanto, é o veneno (o gás) que impulsiona a montagem do carnaval de cada agremiação: ele orienta carnavalescos, passistas e foliões.
Mas há aqueles sambas de enredo que saem do tempo/espaço do carnaval e entram para a história da canção popular: é o caso de "É hoje", de Didi e Mestrinho. Depois de ter embalado o carnaval de 1981 da escola União da ilha, a canção, muito pela potência positiva, de poder coletivo, que carrega na letra, virou hino popular e emoldura variados momentos de alegria (muitas vezes ufanista) ao longo do ano.
Há uma rápida identificação entre aquilo que o sujeito diz - ao contar sua trajetória para chegar até aqui: à passarela do samba - e o ouvinte que, por reminiscência, recupera a própria história da formação do povo brasileiro: na voz de um sujeito que, ao invés de cantar as atrocidades do caminho, exalta a luta do rochedo com o mar, pois sabe que é desta luta que ele (sujeito que carrega a épica de sua gente na voz) se constitui.
Aliás, esta é a pulsão do disco Da lata (1995), de Fernanda Abreu: afirmar a vida, tomando o jeito
carioquês de sobreviver como síntese do Brasil, explorando os vários lados da moeda. Amor e dor são rimas internas imprescidíveis à vida, cabe ao indivíduo manipulá-las da melhor forma possível à superação do irremediável.
Fernanda Abreu sacou, desde sempre, a potência do funk: sentiu que sobre esta manifestação da
"periferia" atuavam as (semelhantes) forças moralistas que um dia atuaram sobre o samba e injetou no seu samba-funk o poder agregador da alegria que não esquece de denunciar a dor.
Em tempos de crescentes, e assustadoras, manifestações de intolerância religiosa e de liberdade de expressão, perpetradas pelo fundamentalismo religioso (algo que sempre julgamos estar longe do Brasil), "É hoje", sob a orquestração de Fernanda Abreu, com sua festa (mistura) sonora, convida o ouvinte a embarcar nas mudanças urgentes e necessárias à felicidade comum: fazer do perigo, batucada; da imposição do silêncio, impulso de vida.
A salvação vem da afirmação das dores e delícias de viver. Aqui "a mulata é a tal" é preciso dizer isso "na lata" e é isso que a canção faz: exalta a glória de termos a liberdade sincrética, conquistada no "fundo da madrugada", como diz a voz infantil que abre o disco de Fernanda Abreu. Da lata à bateria (do escravo ao dono da festa) foi um salto (mortal) para dentro daquilo que somos e não podemos perder.
É essa alegria (amor e dor) que ancora na passarela; que quer pontuar nossa identidade mestiça,
híbrida - maturada na colheita do algodão branco por mãos negras. Alegria que deve movimentar hoje (e sempre) o corpo Brasil. O mundo inteiro espera que nosso modelo de amálgama entre etnias e culturas sobreviva, porém os mais interessados nisto somos nós mesmos. Urge, hoje, espalhar espelhos pelo carnaval.
Há uma rápida identificação entre aquilo que o sujeito diz - ao contar sua trajetória para chegar até aqui: à passarela do samba - e o ouvinte que, por reminiscência, recupera a própria história da formação do povo brasileiro: na voz de um sujeito que, ao invés de cantar as atrocidades do caminho, exalta a luta do rochedo com o mar, pois sabe que é desta luta que ele (sujeito que carrega a épica de sua gente na voz) se constitui.
Aliás, esta é a pulsão do disco Da lata (1995), de Fernanda Abreu: afirmar a vida, tomando o jeito
carioquês de sobreviver como síntese do Brasil, explorando os vários lados da moeda. Amor e dor são rimas internas imprescidíveis à vida, cabe ao indivíduo manipulá-las da melhor forma possível à superação do irremediável.
Fernanda Abreu sacou, desde sempre, a potência do funk: sentiu que sobre esta manifestação da
"periferia" atuavam as (semelhantes) forças moralistas que um dia atuaram sobre o samba e injetou no seu samba-funk o poder agregador da alegria que não esquece de denunciar a dor.
Em tempos de crescentes, e assustadoras, manifestações de intolerância religiosa e de liberdade de expressão, perpetradas pelo fundamentalismo religioso (algo que sempre julgamos estar longe do Brasil), "É hoje", sob a orquestração de Fernanda Abreu, com sua festa (mistura) sonora, convida o ouvinte a embarcar nas mudanças urgentes e necessárias à felicidade comum: fazer do perigo, batucada; da imposição do silêncio, impulso de vida.
A salvação vem da afirmação das dores e delícias de viver. Aqui "a mulata é a tal" é preciso dizer isso "na lata" e é isso que a canção faz: exalta a glória de termos a liberdade sincrética, conquistada no "fundo da madrugada", como diz a voz infantil que abre o disco de Fernanda Abreu. Da lata à bateria (do escravo ao dono da festa) foi um salto (mortal) para dentro daquilo que somos e não podemos perder.
É essa alegria (amor e dor) que ancora na passarela; que quer pontuar nossa identidade mestiça,
híbrida - maturada na colheita do algodão branco por mãos negras. Alegria que deve movimentar hoje (e sempre) o corpo Brasil. O mundo inteiro espera que nosso modelo de amálgama entre etnias e culturas sobreviva, porém os mais interessados nisto somos nós mesmos. Urge, hoje, espalhar espelhos pelo carnaval.
***
É hoje
(Didi / Mestrinho)
A minha alegria atravessou o mar
e ancorou na passarela
Fez um desembarque fascinante
no maior show da terra
Será que eu serei o dono dessa festa
Um rei
no meio de uma gente tão modesta
Eu vim descendo a serra
cheio de euforia para desfilar
O mundo inteiro espera
Hoje é dia do riso chorar
Levei o meu samba pra mãe de santo rezar
Contra o mau olhado eu carrego meu patuá
Acredito
Acredito ser o mais valente nessa luta do rochedo com o mar
e com o ar
É hoje o dia da alegria
E a tristeza, nem pode pensar em chegar
Diga espelho meu
Diga espelho meu
Se há na avenida alguém mais feliz que eu
(Didi / Mestrinho)
A minha alegria atravessou o mar
e ancorou na passarela
Fez um desembarque fascinante
no maior show da terra
Será que eu serei o dono dessa festa
Um rei
no meio de uma gente tão modesta
Eu vim descendo a serra
cheio de euforia para desfilar
O mundo inteiro espera
Hoje é dia do riso chorar
Levei o meu samba pra mãe de santo rezar
Contra o mau olhado eu carrego meu patuá
Acredito
Acredito ser o mais valente nessa luta do rochedo com o mar
e com o ar
É hoje o dia da alegria
E a tristeza, nem pode pensar em chegar
Diga espelho meu
Diga espelho meu
Se há na avenida alguém mais feliz que eu
2 comentários:
Poxa eu tenho este cd "original" muito bom .. legal teu espaço, olha so eu tb tenho um canto o Ecos qdo e c der faz uma visita la www.ecosdotelecoteco.blogspot.com . Aquele abraço e sucesso
A gravação de caetano veloso,com participação rápida de maria bethânia,é luxo só.
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