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30 abril 2010

120. Eu não sou da sua rua

A globalização (iniciada nas relações pelo mar) e a ideia de desterritorialização levam-nos a complexificar a pergunta: "onde está o indivíduo?", ou ainda: "a que lugar pertence o sujeito?". Assim, a relativização e a artificialização do mundo (macroesfera) passam a ser temas que afetam as microesferas criadas pelo sujeito, posto na roda viva.
A "perda do local" provoca mudanças nas paisagens (sempre ficcionais) internas e externas do ser. O exterior não é mais acolhedor. Surgem as "ilhas desertas" (de alma).
O sujeito de "Eu não sou da sua rua" (Mais, 1990), um flâneur que passa (transita) pela rua (experimenta o risco da rua), canta a impossibilidade das comunicações interpessoais. As aliterações do título da canção iconizam o farfalhar (plainar) do sujeito "sobre" a cidade e suas ruas. Talvez em busca de algo que possa chamar de seu, reflexo do desejo de segurança, diante do risco de caminhar.
Sempre estrangeiro, o sujeito tenta contato com o ouvinte (o outro sempre estranho). Mas, ora, se emissor e receptor não falam a mesma língua, como pode haver comunicação? Exatamente pela vivência solidária de desraizamento de ambos. Não é fácil sair do "local" (mesmo que o outro lugar se revele como promessa de felicidade), precisa-se das construções afetivas frágeis (falsas aparências de proximidade), porém vitais.
A interpretação de Marisa Monte, acompanhada pela luxuosa percussão de Naná Vasconcelos, cria um espaço onírico, mas, ao mesmo tempo, material (paradoxal), com referências ao movimento da máquina de um trem (das cores) que não pode parar, e muito menos se fixar: ir, ir indo.

***

Eu não sou da sua rua
(Arnaldo Antunes / Branco Mello)

Eu não sou da sua rua,
Eu não sou o seu vizinho,
Eu moro muito longe, sozinho.

Estou aqui de passagem.

Eu não sou da sua rua,
Eu não falo a sua língua,
Minha vida é diferente da sua.

Estou aqui de passagem.

Esse mundo não é meu,
Esse mundo não é seu.

2 comentários:

UM THRILLER DAS DIFERENÇAS disse...

[off topic]

Oi, tudo bem?
Cuidamos das mídias online do filme “Olhos Azuis” do diretor José Joffily, que estréia no circuito nacional de cinema em 28 de maio. Gostaríamos de falar com você!

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Sinopse:

Marshall (David Rasche) é o chefe do Departamento de Imigração do aeroporto JFK, em Nova York. Comemorando seu último dia de trabalho, Marshall resolve se divertir complicando a entrada no país de vários latino-americanos. Entre eles está Nonato (Irandhir Santos), um brasileiro radicado nos EUA, dois poetas argentinos, uma bailarina cubana e um grupo de lutadores hondurenhos. Dois anos depois, Marshall vem ao Brasil procurar uma menina de nome Luiza. Quando ele conhece Bia (Cristina Lago), uma jornada em busca de redenção se inicia. Olhos Azuis foi o grande vencedor do II Festival Paulínia de Cinema com seis prêmios, incluindo o de Melhor Filme.

No Twitter: @olhosazuisfilm

Caio Di Palma de Souza Medeiros disse...

Cara, só mesmo utilizando palavras grandes! Palavras GRANDES como INCRÍVEL, MUNDO, SEMPRE para falar de suas idéias, suas reflexões tão marcantes quanto analíticas! Ao mesmo tempo vanguardista, kantiano, barthesiano, rimbaudiano e apaixonado entusiasta! E que idéia sublime, analisar capas, cantos e encantos sonoros! Parabéns, meu caro!
Ainda não li tudo, mas sem dúvida o que li me faz delirar, 'vagar pelas ruas desertas do arpoador', erradicar-me de mim mesmo num estranho silêncio criador! Cazuza, Ney Matogrosso e Maria Bethania (Gita) me afetaram de um modo bastante especial em suas análises. Em mim, Cazuza, Chico Buarque e Raul Seixas são uma paixão extrema, nunca consigo deixar de escutar os apelos de seus corpos, principalmente o Cazuza do 'Blues do Iniciante' e 'Perto do Fogo'...'Todo Amor que Houver'!
Senti um pouco de falta (não sei se tem, já que ainda não li tudo), do nosso saudoso Cartola! Ah, e blues, um bom e velho blues de Muddy Waters, Howllin' Wolf e Blind Willie Johnson!