No livro O rumor da língua, Roland Barthes observa que "descrever o acontecimento implica que este tenha sido escrito". E pergunta: "O que pode querer dizer 'a escrita do acontecimento'?"
Em "Acontecimentos" (Marina Lima, 1991), Marina Lima e Antônio Cícero constroem um sujeito que, na impossibilidade de descrever um acontecimento, afinal a festa é no outro apartamento, circula o desejo da descrição com a exposição de sentimentos tão íntimos quanto coletivos (as estruturas simbólicas por trás dos acontecimentos): o amor, seus tédios e seus ciúmes.
A solidão do sujeito da canção (amplificada pelo tom suave, passional e direto da voz de Marina) confirma que "nada privado de sentido pode ser captado". Ou seja, o brilho do amor, em si, é o acontecimento, violentamente indescritível. Assim, como o fato de um amante estar longe do outro.
Há uma "rede de marcas" impossíveis de serem compreendidas pelo sujeito. Não há escrita. Daí as perguntas que cortam a canção. E, o mais importante, daí o canto que ordena (dionisiacamente) o que se prende e o que foge do sujeito.
Frustrado, mas não privado de si mesmo e, portanto, da escrita e do autocanto, ele inventa álibis e recusas para estabelecer o escrito (o texto) e seu "contrário" (o canto) - aquilo que é destacado da verdade da palavra escrita.
***
Acontecimentos (Marina Lima / Antonio Cicero)
Eu espero
Acontecimentos
Só que quando anoitece
É festa no outro apartamento
Todo amor
Vale o quanto brilha
E aí
O meu ainda brilhava
Brilho de jóia e de fantasia
O que que há com nós dois, amor?
Me responda depois
Me diz por onde você me prende
Por onde foge
E o que pretende de mim
Era fácil
Nem dá pra esquecer
E eu nem sabia
Como era feliz de ter você
Como pôde
Queimar nosso filme
Um longe do outro
Morrendo de tédio e de ciúmes
O que que há com nós dois amor?
Me responda depois
Me diz por onde você me prende
Por onde foge
E o que pretende de mim
Acontecimentos (Marina Lima / Antonio Cicero)
Eu espero
Acontecimentos
Só que quando anoitece
É festa no outro apartamento
Todo amor
Vale o quanto brilha
E aí
O meu ainda brilhava
Brilho de jóia e de fantasia
O que que há com nós dois, amor?
Me responda depois
Me diz por onde você me prende
Por onde foge
E o que pretende de mim
Era fácil
Nem dá pra esquecer
E eu nem sabia
Como era feliz de ter você
Como pôde
Queimar nosso filme
Um longe do outro
Morrendo de tédio e de ciúmes
O que que há com nós dois amor?
Me responda depois
Me diz por onde você me prende
Por onde foge
E o que pretende de mim
4 comentários:
Muito obrigado pela música, adorei... Abração.
Leonardo,
adorei o blog, parabéns.
música sempre é uma excelente ideia.
um abraço,
Leonardo,
Adorei o blog! Muito bom mesmo! Valeu!
Abração,
Adriano Nunes.
Valeu, Leonardo!
Abraço
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