Bhagavad Gītā ("Canção de Deus") é o texto sagrado hindu. É o importante diálogo entre Krishna e o discípulo Arjuna, que procura a auto realização.
"Gita", a canção, apresenta um sujeito (inspirado pelo livro) que expõe suas inquietações interiores.
Na clássica interpretação de Raul Seixas (Gita, 1974), temos um sujeito cancional em estado quase passional (mas, vez ou outra, exaltado), usando o poder de síntese da frase poética para dizer aquilo que lhe vai à alma.
O "eu" fala se afirmando como aquilo que vai da luz ao medo, passando pelo sacrifício. A tese, a antítese e a síntese.
Na interpretação de Maria Bethânia (Imitação da vida, 1997), o sujeito canta em tom mais irado. Bethânia usa as alturas melódicas (acima das usadas por Raul) para figurar (e exaltar) as auto afirmações - Eu sou!.
Obviamente, a pegada harmônica, na versão de Bethânia, é bastante volumosa (há uma pulsação perene e forte). Aliás, a impressão é de um canto "à beira do abismo"; de um canto que a qualquer momento irá violentamente se calar. Em contrapartida da baladinha gostosa (e de tom profético-apocalíptico) usada de modo sublime por Raul.
Não esqueçamos que "o andamento é o tempo qualificado", como sugere Alfredo Bosi (O ser e o tempo da poesia). Assim, a melhor chave para a leitura das diferentes interpretações está no final da canção.
Ao invés de - quando canta "o início, o fim e o meio" - usar a descendente (como Raul faz) ao dizer "o meio", Bethânia usa a ascendente-suspensiva. Isso altera radicalmente o sentido. A canção fica em aberto, como a vida que não tem fim; como a incompletude do sujeito.
O jogo das alturas entoativas aponta para um sujeito que "vai", portanto, "o meio" (desenhado por Bethânia), em contrapartida ao sujeito que "foi", portanto, "o fim" (desenhado por Raul).
"A entoação desvela os movimentos da alma", como Bosi também aponta. Ao final, as duas interpretações são (algo) complementares. Cada qual potencializando diferentes ênfases da mensagem do texto e iluminando outros (des)vãos do "eu".
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Na letra a seguir estão apenas as estrofes cantadas por Maria Bethânia:
"Gita", a canção, apresenta um sujeito (inspirado pelo livro) que expõe suas inquietações interiores.
Na clássica interpretação de Raul Seixas (Gita, 1974), temos um sujeito cancional em estado quase passional (mas, vez ou outra, exaltado), usando o poder de síntese da frase poética para dizer aquilo que lhe vai à alma.
O "eu" fala se afirmando como aquilo que vai da luz ao medo, passando pelo sacrifício. A tese, a antítese e a síntese.
Na interpretação de Maria Bethânia (Imitação da vida, 1997), o sujeito canta em tom mais irado. Bethânia usa as alturas melódicas (acima das usadas por Raul) para figurar (e exaltar) as auto afirmações - Eu sou!.
Obviamente, a pegada harmônica, na versão de Bethânia, é bastante volumosa (há uma pulsação perene e forte). Aliás, a impressão é de um canto "à beira do abismo"; de um canto que a qualquer momento irá violentamente se calar. Em contrapartida da baladinha gostosa (e de tom profético-apocalíptico) usada de modo sublime por Raul.
Não esqueçamos que "o andamento é o tempo qualificado", como sugere Alfredo Bosi (O ser e o tempo da poesia). Assim, a melhor chave para a leitura das diferentes interpretações está no final da canção.
Ao invés de - quando canta "o início, o fim e o meio" - usar a descendente (como Raul faz) ao dizer "o meio", Bethânia usa a ascendente-suspensiva. Isso altera radicalmente o sentido. A canção fica em aberto, como a vida que não tem fim; como a incompletude do sujeito.
O jogo das alturas entoativas aponta para um sujeito que "vai", portanto, "o meio" (desenhado por Bethânia), em contrapartida ao sujeito que "foi", portanto, "o fim" (desenhado por Raul).
"A entoação desvela os movimentos da alma", como Bosi também aponta. Ao final, as duas interpretações são (algo) complementares. Cada qual potencializando diferentes ênfases da mensagem do texto e iluminando outros (des)vãos do "eu".
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Na letra a seguir estão apenas as estrofes cantadas por Maria Bethânia:
***
Gita (Raul Seixas / Paulo Coelho)
Às vezes você me pergunta
Por que é que eu sou tão calado
Não falo de amor quase nada
Nem fico sorrindo ao teu lado
Você pensa em mim toda hora
Me come, me cospe, me deixa
Talvez você não entenda
Mas hoje eu vou lhe mostrar
Eu sou a luz das estrelas
Eu sou a cor do luar
Eu sou as coisas da vida
Eu sou o mêdo de amar
Eu sou o medo do fraco
A força da imaginação
O blefe do jogador
Eu sou, eu fui, eu vou
Eu sou o seu sacrifício
A placa de contra-mão
O sangue no olhar do vampiro
E as juras de maldição
Eu sou a vela que acende
Eu sou a luz que se apaga
Eu sou a beira do abismo
Eu sou o tudo e o nada
Por que você me pergunta
Perguntas não vão lhe mostrar
Que eu sou feito da terra
Gita (Raul Seixas / Paulo Coelho)
Às vezes você me pergunta
Por que é que eu sou tão calado
Não falo de amor quase nada
Nem fico sorrindo ao teu lado
Você pensa em mim toda hora
Me come, me cospe, me deixa
Talvez você não entenda
Mas hoje eu vou lhe mostrar
Eu sou a luz das estrelas
Eu sou a cor do luar
Eu sou as coisas da vida
Eu sou o mêdo de amar
Eu sou o medo do fraco
A força da imaginação
O blefe do jogador
Eu sou, eu fui, eu vou
Eu sou o seu sacrifício
A placa de contra-mão
O sangue no olhar do vampiro
E as juras de maldição
Eu sou a vela que acende
Eu sou a luz que se apaga
Eu sou a beira do abismo
Eu sou o tudo e o nada
Por que você me pergunta
Perguntas não vão lhe mostrar
Que eu sou feito da terra
3 comentários:
Análise muito boa amigo. Prefiro (novidade!) a versão da Betha.
A versão do Raul seixas é definitiva.esta letra é mais pra ser sentida e intuída ,que entendida
Adorei que o texto tratou de alguns aspectos semióticos, que foram deixados de lado na análise (mais literal e literária) que fiz da mesma canção no 365 Canções Brasileiras.
Mas confesso que, concordando com o Ademar, a versão de Raul me soa como a definitiva.
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