
A "perda do local" provoca mudanças nas paisagens (sempre ficcionais) internas e externas do ser. O exterior não é mais acolhedor. Surgem as "ilhas desertas" (de alma).
O sujeito de "Eu não sou da sua rua" (Mais, 1990), um flâneur que passa (transita) pela rua (experimenta o risco da rua), canta a impossibilidade das comunicações interpessoais. As aliterações do título da canção iconizam o farfalhar (plainar) do sujeito "sobre" a cidade e suas ruas. Talvez em busca de algo que possa chamar de seu, reflexo do desejo de segurança, diante do risco de caminhar.
Sempre estrangeiro, o sujeito tenta contato com o ouvinte (o outro sempre estranho). Mas, ora, se emissor e receptor não falam a mesma língua, como pode haver comunicação? Exatamente pela vivência solidária de desraizamento de ambos. Não é fácil sair do "local" (mesmo que o outro lugar se revele como promessa de felicidade), precisa-se das construções afetivas frágeis (falsas aparências de proximidade), porém vitais.
A interpretação de Marisa Monte, acompanhada pela luxuosa percussão de Naná Vasconcelos, cria um espaço onírico, mas, ao mesmo tempo, material (paradoxal), com referências ao movimento da máquina de um trem (das cores) que não pode parar, e muito menos se fixar: ir, ir indo.
O sujeito de "Eu não sou da sua rua" (Mais, 1990), um flâneur que passa (transita) pela rua (experimenta o risco da rua), canta a impossibilidade das comunicações interpessoais. As aliterações do título da canção iconizam o farfalhar (plainar) do sujeito "sobre" a cidade e suas ruas. Talvez em busca de algo que possa chamar de seu, reflexo do desejo de segurança, diante do risco de caminhar.
Sempre estrangeiro, o sujeito tenta contato com o ouvinte (o outro sempre estranho). Mas, ora, se emissor e receptor não falam a mesma língua, como pode haver comunicação? Exatamente pela vivência solidária de desraizamento de ambos. Não é fácil sair do "local" (mesmo que o outro lugar se revele como promessa de felicidade), precisa-se das construções afetivas frágeis (falsas aparências de proximidade), porém vitais.
A interpretação de Marisa Monte, acompanhada pela luxuosa percussão de Naná Vasconcelos, cria um espaço onírico, mas, ao mesmo tempo, material (paradoxal), com referências ao movimento da máquina de um trem (das cores) que não pode parar, e muito menos se fixar: ir, ir indo.
***
Eu não sou da sua rua
(Arnaldo Antunes / Branco Mello)
Eu não sou da sua rua,
Eu não sou o seu vizinho,
Eu moro muito longe, sozinho.
Estou aqui de passagem.
Eu não sou da sua rua,
Eu não falo a sua língua,
Minha vida é diferente da sua.
Estou aqui de passagem.
Esse mundo não é meu,
Esse mundo não é seu.
Eu não sou da sua rua
(Arnaldo Antunes / Branco Mello)
Eu não sou da sua rua,
Eu não sou o seu vizinho,
Eu moro muito longe, sozinho.
Estou aqui de passagem.
Eu não sou da sua rua,
Eu não falo a sua língua,
Minha vida é diferente da sua.
Estou aqui de passagem.
Esse mundo não é meu,
Esse mundo não é seu.