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09 junho 2010

160. Bim bom

A "Bim bom" de João Gilberto é uma das pouquíssimas composições deste artista que prefere arranjar (ou "melhorar", como ele diz) composições de outros compositores. É interessante e luminoso observar que em uma de suas poucas composições João Gilberto tenha criado um baião. Isso porque, com a bossa nova (de quem João Gilberto é ícone máximo), o baião perde força, enquanto signo brasileiro, para certo público.
A interpretação de Adriana Partimpim, além da mirada lúdica de investir nas aliterações (repetição de sons consonantais) e assonâncias (repetição de sons vocálicos) do texto, para aproximá-lo do público infantil, despoleta a beleza de perceber que na canção (letra e melodia) algo minimalista há átomos da percussão rocambolesca que se desdobra na potência ancestral representada pelo Olodum.
Partimpim une o tribal com o sofisticado (o som e o silêncio), apontando que um está dentro do outro (se auto devoram, para dentro e para fora), de uma forma ou de outra. O resultado é uma festa tropical e brasileira.
As tessituras, trazidas de vários estratos rítmicos brasileiros, colocam os átomos todos (de João) para balançar ao ritmo percussivo cartático e reflexivo vindos do mais profundo Brasil.
Palavra e melodia (antes "antimusical"), em Partimpim dois (2009) ,incitam a dança, a festa, o movimento dionisíaco do corpo, tão infantil quanto necessário ao humano.
O coro das crianças significa o olhar desautomatizado de Partimpim. Olhar que lhe permitiu perceber o diálogo (estético) entre João e Olodum. E é só isso, ou melhor, é isso. Nosso coração (brasileiro) perde assim: fronteiras borradas e misturas impensadas.

***

Bim Bom (João Gilberto)

Bim bom bim bom bim bom
Bim bom bim bom bim bom
Bim bom bim bom bim bom bim bim

É só isso o meu baião
e não tem mais nada não
o meu coração pediu assim, só

Um comentário:

Jefferson Cardoso disse...

Belíssimo post Leo.
Bebel gravou essa no disco novo!
@br@ços!