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14 junho 2010

165. À procura da batida perfeita

Enquanto alguns estão mais preocupados com os louros (tudo por dinheiro) da fama vã (aparecer, por aparecer, na TV), o sujeito de "À procura da batida perfeita" está mais atento em evidenciar a sua batida. A diferença é clara a gente fuma e eles fama.
Meio à beira do caminho, ele (eu busco na raiz e lá tá o que eu sempre quis) se embrenha nas engrenagens da palavra cantada para transformá-la, renová-la e apontar outros (novos) caminhos. Qualquer semelhança com o gesto cancional de Marcelo D2 não é mera coincidência.
D2, misturando o rap com o samba, dois segmentos originados na margem, tropicalizou a influência norte-americana (o rap) e americanizou nosso samba. Bela antropofagia pós-tropicalista. D2 sacou que o rap aqui (no Brasil) não podia ter a mesma intenção segregacionista que tem nos bairros norte-americanos de onde vem.
Ou seja, a ideologia dos manos que tentam implantar aqui o jeito norte-americanês de sobreviver: a segregação racial, cantada pelo rap e hip hop, por exemplo, que se desvia da linha de certa cordialidade brasileira, não cabe no Brasil. Afinal, Aqui ninguém é branco, como postula Liv Sovik; ou, ainda, Antonio Risério, no belo livro A utopia brasileira e os movimentos negros.
O sujeito de "À procura da batida perfeita" (de D2 e Davi Corcos, em À procura da batida perfeita, 2003) mistura para denunciar. Ou seja, o sujeito não deixa de dar seu testemunho (dizer o que pensa dessa vida), mas, ao mesmo tempo, canta e é feliz. Não se deixa amargurar: solto na babilônia, procura a paz e não separação: "Eu tô junto e junto carrego meu orgulho".
O "canto falado", típico do rap e hip hop, convive com o "canto cantado": não tenho pressa a velocidade é essa: mc é partideiro, bumbo é scracth. É essa devoração que aponta "aonde cresci aonde ando aonde fico aonde vou": o Brasil, onde o bicho pega e a chapa é quente; atitude, amor e respeito também.

***

À procura da batida perfeita
(D2 / Davi Corcos)

eu vou no samba à procura da batida perfeita então corre
a batida é minha cheguei primeiro
no ruim faz a fezinha que é tudo por dinheiro
solto na babilônia e lá procuro a paz
perderam o manual e agora como faz?
joão e maria cheio de regalia
entrou no conto do canalha que fazia e acontecia
agora é artista não se mistura com a plebe
domingo no faustão terça-feira na hebe
iate em botafogo apartamento em ipanema
uma vida de bacana se eu entrasse no esquema
mas eu busco na raiz e lá tá o que eu sempre quis
não é um saco de dinheiro que me deixa feliz
e sim a força do samba a força do rap
o mc que é partideiro o bumbo que vira scracth
e é meu som que mostra muito bem o que eu sou
aonde cresci aonde ando aonde fico aonde vou
eu vou no samba à procura da batida perfeita
o bicho da pegando a chapa esquenta
o tempo passa mas a evolução é lenta
mas não tenho pressa a velocidade é essa
não há nada nesse mundo cumpadi que me estressa
porém há porém
há um caso diferente que envolve toda minha gente
não ser bucha de ninguém ficar do lado do bem
atitude amor e respeito também
eu vou no samba é gente bamba
a diferença é clara a gente fuma e eles fama
proteger a raiz pra que tenha bons frutos já diz o velho ditado quem tá junto tá junto
e eu tô junto e junto carrego meu orgulho
surbubano convicto e sei meu lugar no mundo
há coisas que dinheiro não paga cê sabe como é
tipo eu me minha preta só no rolé

3 comentários:

Flávia Stos disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Diana disse...

Opa, feliz por sua visita. Essa semana vai ter entrevista com o Filipe Catto lá no meu espaço, vale a pena conferir e algo me diz que vc vai gostar do som dele.

Flávia disse...

Apesar de não postar já sou seguidora do blog... musicas maravilhosas!Já desejo que os posts não findem qdo completados os 365 dias.