"Por você", de Frejat, Mauricio Barros e Mauro Sta Cecilia, é uma lista, muito bem humorada, das coisas que o sujeito da canção faria pelo outro: promessas erótico-afetivas, feitas para fisgar o objeto de desejo. Mas é também, de viés, uma crônica daquilo que é ser artista, no caso, ser cantor.
Arte é risco: é assumir aquilo que a vida cotidiana não dá conta; é criar uma justavida, em que as forças reativas agem em parceria com as forças ativas. O artista sabe que a cultura malogrou porque as forças reativas, no ordinário, dominam; e que o sentido (das coisas) muda de acordo com as relações de forças (que estão para além do bem e do mal).
Ao listar as "loucuras" que engendraria para fazer o outro feliz, o sujeito de "Por você" dar valor a si mesmo, afinal, sem ele o outro não existe: é ele quem anima (seja no ato "ridículo" de dançar tango no telhado, seja no perigo de limpar os trilhos eletrificados do metrô) a vida simples e comum do outro.
O sujeito é o artista que corre o risco de por a vida (a linguagem) em movimento: seu canto é o elogio da loucura como prova de amor, à vida. Aqui podemos perceber aquela vontade de não ter algo pela metade: ele quer ir até o fim das forças afirmativas; quer a enésima potência.
Como bom jogador, o sujeito afirma o acaso: os verbos, trabalhados no futuro do pretérito, mostram isso. Ou seja, nunca é "eu farei", posto que o sujeito não trabalha com a previsão, mas é sempre "eu faria", apontando para o inesperado, para a suspensão do tempo e do espaço.
Isso, por outro lado, estabelece uma redução do eu, pois há um amor no acontecimento imprevisto: naquilo que acontece independente da necessidade. O sujeito, assim, desinfecta, do ressentimento e da má consciência, aquilo que virá para os dois amantes.
Humano, além de ficcional, o sujeito também sabe da necessidade do outro em ter alguém que lhe cante, ainda mais com declarações rasgadas como as que são listadas, por isso, de viés, prende o outro a si. "Por você", vira "por mim", na circularidade da ilusão.
"Por você", guardada no disco Puro êxtase (1998), do grupo Barão Vermelho, afirma que é o canto que faz o amor e não o contrário. Ao dizer o que faria, o sujeito deixa de dizer o que não faria e plasma o tipo de amor almejado.
Ou seja, o amor sem freios (da renuncia de si: do nome que lhe singulariza; da renúncia do mundo: "desejaria todo dia a mesma mulher") só existe no discurso estético. Burguês, mas artista (do lado do povo), o sujeito da canção aceitaria a vida como ela é apenas para ter o outro. Mas como é a vida, senão aquilo que o sujeito canta? Há vida depois do canto?
Ao listar as "loucuras" que engendraria para fazer o outro feliz, o sujeito de "Por você" dar valor a si mesmo, afinal, sem ele o outro não existe: é ele quem anima (seja no ato "ridículo" de dançar tango no telhado, seja no perigo de limpar os trilhos eletrificados do metrô) a vida simples e comum do outro.
O sujeito é o artista que corre o risco de por a vida (a linguagem) em movimento: seu canto é o elogio da loucura como prova de amor, à vida. Aqui podemos perceber aquela vontade de não ter algo pela metade: ele quer ir até o fim das forças afirmativas; quer a enésima potência.
Como bom jogador, o sujeito afirma o acaso: os verbos, trabalhados no futuro do pretérito, mostram isso. Ou seja, nunca é "eu farei", posto que o sujeito não trabalha com a previsão, mas é sempre "eu faria", apontando para o inesperado, para a suspensão do tempo e do espaço.
Isso, por outro lado, estabelece uma redução do eu, pois há um amor no acontecimento imprevisto: naquilo que acontece independente da necessidade. O sujeito, assim, desinfecta, do ressentimento e da má consciência, aquilo que virá para os dois amantes.
Humano, além de ficcional, o sujeito também sabe da necessidade do outro em ter alguém que lhe cante, ainda mais com declarações rasgadas como as que são listadas, por isso, de viés, prende o outro a si. "Por você", vira "por mim", na circularidade da ilusão.
"Por você", guardada no disco Puro êxtase (1998), do grupo Barão Vermelho, afirma que é o canto que faz o amor e não o contrário. Ao dizer o que faria, o sujeito deixa de dizer o que não faria e plasma o tipo de amor almejado.
Ou seja, o amor sem freios (da renuncia de si: do nome que lhe singulariza; da renúncia do mundo: "desejaria todo dia a mesma mulher") só existe no discurso estético. Burguês, mas artista (do lado do povo), o sujeito da canção aceitaria a vida como ela é apenas para ter o outro. Mas como é a vida, senão aquilo que o sujeito canta? Há vida depois do canto?
***
Por você
(Frejat / Mauricio Barros / Mauro Sta Cecília)
Por você eu dançaria tango no teto
Eu limparia os trilhos do metrô
Eu iria a pé do Rio à Salvador
Eu aceitaria a vida como ela é
Viajaria à prazo pro inferno
Eu tomaria banho gelado no inverno
Por você eu deixaria de beber
Por você eu ficaria rico num mês
Eu dormiria de meia pra virar burguês
Eu mudaria até o meu nome
Eu viveria em greve de fome
Desejaria todo dia a mesma mulher
Por você, por você
Por você, por você
Por você conseguiria até ficar alegre
Pintaria todo o céu de vermelho
Eu teria mais herdeiros que um coelho
(Frejat / Mauricio Barros / Mauro Sta Cecília)
Por você eu dançaria tango no teto
Eu limparia os trilhos do metrô
Eu iria a pé do Rio à Salvador
Eu aceitaria a vida como ela é
Viajaria à prazo pro inferno
Eu tomaria banho gelado no inverno
Por você eu deixaria de beber
Por você eu ficaria rico num mês
Eu dormiria de meia pra virar burguês
Eu mudaria até o meu nome
Eu viveria em greve de fome
Desejaria todo dia a mesma mulher
Por você, por você
Por você, por você
Por você conseguiria até ficar alegre
Pintaria todo o céu de vermelho
Eu teria mais herdeiros que um coelho
Um comentário:
Leo, adorei o texto. Tuas análises são sempre surpreendentes. Parabéns!! Beijos.
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