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20 agosto 2010

232. Amor e sexo

Religião, filosofia, ciência... desde sempre tentam definir, senão, ao menos, entender, as potências, e influências no indivíduo, exercidas pelo amor e pelo sexo.
As artes, certamente, não ficam de fora. O número de "canções de amor" (que tem o amor como tema) é imenso, a ponto de pensarmos que, no fundo, toda canção é canção de amor (senão de amizade). No sentido de que sempre há um sujeito se remetendo a outro. Mesmo, por vezes, a si mesmo. Mas isso é uma questão teórica.
Já o tema do sexo, em tempos caretas como o nosso, anda em baixa. Ainda bem que temos o pesquisador Rodrigo Faour para nos salvar. Seus livro, disco e programas (de rádio e TV) - Sexo MPB - estão aí como glórias.
O sujeito da canção "Amor e sexo", de Rita Lee, Roberto de Carvalho e Arnaldo Jabor, gravada no delicioso disco Balacobaco (2003), prolifera (e justapõe) uma cadeia de afirmações sobre amor e sexo: distinguindo (ou não) as duas coisas.
Inspirada no artigo "Amor é prosa, sexo é poesia", de Arnaldo Jabor, a canção tenta, separando joios de trigos, montar sua definição: amor é isso (perto - pois depende de um), sexo é aquilo (longe - pois depende de dois).
O amor é apresentado como algo mais impalpável, mais do campo das ideias, pensamentos e sensações. Enquanto o sexo é concreto, podemos senti-lo e toca-lo. O amor é uma construção criativa e diária, portanto, ficcional. Enquanto o sexo (como pagão que é) atravessaria isso e nos forçaria a ter "pés no chão". O amor está no ar e o sexo no corpo.
Podemos (ouvintes) concordar ou não com o sujeito. O fato é que, assim como os temas que toma para cantar, as soluções do sujeito são controversas. No artigo, Jabor aponta que "ninguém se masturba por amor. Ninguém sofre de tesão. O sexo é um desejo de apaziguar o amor. O amor é uma espécie de gratidão posteriori pelos prazeres do sexo". Há controvérsias.
Será? Pouco importa. O bacana é atiçar o pensamento sobre: suspender o juízo do ouvinte e incomodar as certezas. Afinal, "amor e sexo são como a palavra farmakon em grego: remédio e veneno". Aliás, a estrutura da canção - com suas rimas em dois - aponta para a união entre os (aparentes) opostos. As características minam e se infiltram de um ao outro, e vice-versa.
Para isso, a voz, toda marota e cheia de conscientes afetações, de Rita Lee é a melhor tradução deste sujeito que passeia dentro de si (aliás, dentro do gênero canção, ao apontar: "Amor é bossa nova - Sexo é carnaval), ao questionar (afirmando): "Amor sem sexo é amizade / Sexo sem amor é vontade". Seja como for, "Sexo e amor tentam mesmo é nos afastar da morte. Ou não".

***

Amor e sexo
(Rita Lee / Roberto de Carvalho / Arnaldo Jabor)

Amor é um livro - Sexo é esporte
Sexo é escolha - Amor é sorte

Amor é pensamento, teorema
Amor é novela - Sexo é cinema

Sexo é imaginação, fantasia
Amor é prosa - Sexo é poesia

O amor nos torna patéticos
Sexo é uma selva de epiléticos

Amor é cristão - Sexo é pagão
Amor é latifúndio - Sexo é invasão

Amor é divino - Sexo é animal
Amor é bossa nova - Sexo é carnaval

Amor é para sempre - Sexo também
Sexo é do bom - Amor é do bem

Amor sem sexo é amizade
Sexo sem amor é vontade

Amor é um - Sexo é dois
Sexo antes - Amor depois

Sexo vem dos outros e vai embora
Amor vem de nós e demora

Um comentário:

IsaBele disse...

Rita Lee e Jabor só poderia dar em Balacobaco mesmo! Adoro a música! Ótima, sua interpretação! (como sempre)