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25 agosto 2010

237. Meu erro

Diferente da versão anterior (disco D, 1987), em que se investia na ira/rock do sujeito que percebe o "tempo perdido" de uma relação afetiva, a versão de "Meu erro", de Herbert Vianna, lançada no disco Acústico MTV: Os paralamas do sucesso (2000), investe no diálogo amoroso (acerto de contas?) entre as personagens da relação.
O clima passional (arranjos luxuosos, ternos e amenos), ao invés de provocar a separação (disjunção afetiva) presente na primeira versão, aproxima as personagens: materializadas nas vozes de Zizi Possi e Herbet Vianna.
De fato, uma versão mais intimista de "Meu erro" já havia sido dada ao público pela própria Zizi Possi, no disco Estrebucha Baby, de 1989. Ou seja, a "Meu erro" do Acústico Paralamas une a contenção (mergulho para dentro) da voz de Zizi, com a aceleração (diminuída pelo poder do outro: o contracanto feminino de Zizi) ressemantizada da interpretação de Herbert Vianna .
As vozes, a princípio separadas (no canto de cada estrofe), unem-se no golpe do desejo de paz das personagens. Agora, ao que tudo indica, aquilo que o sujeito quis, por tantas vezes, dizer, o outro está ouvindo. Cabe, aos dois, descobrir se o "erro", de apenas estar um ao lado do outro, vai continuar bastando para a manutenção do afeto e da relação.
Sem querer ver o outro, o sujeito manda seu recado pela ondas da canção: para ser tocada no rádio do coração do destinatário, que, por sua vez, na versão acústica, responde e dialoga, em um comovente ato de puro sexo e glória: o jamais abandono.
Agora, quando um já conhece os erros e passos do outro (e percebe que não houve mudanças de comportamento), fica apenas o pedido (no ar) de não abandono. A canção (na versão acústica) não termina na última estrofe: há um retorno e repetição dos versos "Eu dizia o seu nome, não me abandone".
O sujeito vai para dentro (e para trás) na própria canção (daquilo que ele canta e diz) para enunciar seu pedido de conjunção. Dizer o nome do objeto é perder o objeto. O sujeito, agora, não diz mas o nome (tantas vezes pra dito): circulando o objeto e aproximando-se, apesar das evidências do passado, do outro.
"Meu erro", ouvida nas diferentes versões, prova como uma letra pode prestar-se a várias melodias: amplificando os sentidos da mensagem e, consequentemente, da percepção do ouvinte.

***

Meu erro
(Herbert Vianna)

Eu quis dizer
Você não quis escutar
Agora não peça
Não me faça promessas

Eu não quero te ver
Nem quero acreditar
Que vai ser diferente
Que tudo mudou

Você diz não saber
O que houve de errado
E o meu erro foi crer
Que estar ao seu lado
Bastaria
Ah! Meu Deus
Era tudo o que eu queria
Eu dizia o seu nome
Não me abandone

Mesmo querendo
Eu não vou me enganar
Eu conheço os seus passos
Eu vejo os seus erros
Não há nada de novo
Ainda somos iguais
Então não me chame
Não olhe pra trás

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