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07 dezembro 2010

341. Eu te amo você

No final da canção "Tigresa", de Caetano Veloso, depois de cantar à musa (descrevê-la e tatuá-la na pele do ouvinte), o sujeito se rende: "E eu corri pro violão, num lamento, e a manhã nasceu azul. Como é bom poder tocar um instrumento". A tigresa virou canção, virou de fato a tigresa dos delírios e delícias do sujeito.
Assim o faz também o sujeito de "Eu te amo você", de Kiko Zambianchi. Diante da paixão que lhe rouba a razão, ele diz: "mas tudo é tão difícil que eu não vejo a hora disso terminar e virar só uma canção na minha guitarra".
É na canção, naquilo que o sujeito diz sentir e no acompanhamento melódico do instrumento (violão, guitarra...), companheiro da madrugada vazia, que a paixão ganha vida. Na canção, na ficção, a paixão é do jeito que o sujeito quer e deseja.
Urbana, a voz de Marina Lima (Todas, 1985) dá o tom exato ao sujeito noturno, perdido na solidão da metrópole. Solidão que ele não quer perder, afinal é nela que ele se alimenta para continuar cantando e arranhando a guitarra: fazendo rock.
Desde o primeiro verso - "acho que eu não sei não" - até o derradeiro - "não quero me ver te roubando o prazer da solidão", temos um sujeito confuso entre o sim e o não de aceitar embarcar na relação afetiva. Daí criar um lance só para eles, sem os esquemas fadados da maioria das relações.
Ele ama, mas não quer roubar nem ser roubado. Ele canta um "nosso estranho amor", aliás, título de outra canção de Caetano Veloso, sucesso nas vozes do autor e de Marina. O sujeito de "Eu te amo você" quer um amor sem as costumeiras cobranças: com cada um na sua (solidão) e curtindo o lado bom dos encontros: "Sentindo esse lance, tirando os pés do chão, típico romance".
Aí retorna a questão: quando digo "eu te amo", isso é em si um fim (não espero reconhecimento) ou um meio (espero que o outro também diga "eu te amo")? O sujeito da canção é claro: "Te amo você não precisa dizer o mesmo não".
Eis a tal liberdade difícil - amar e deixar livre para amar - da qual o sujeito, vira e mexe, fala. A expressão título - "Eu te amo você", que soa redundante, tem o objetivo de marcar o modo do amor. Ele ama o outro do jeito que o outro é: você, livre das máscaras do jogo amoroso.
Mas tudo é tão difícil, que é mais fácil transformar tudo em canção, correr para o violão (ou para a guitarra) e compor o amor desejado. Seja como for, "Já não dá prá esconder essa paixão". E para se fazer uma canção é preciso estar apaixonado (em algum nível), ou não?

***

Eu te amo você
(Kiko Zambianchi)

Acho que eu não sei não
Eu não queria dizer
Tô perdendo a razão
Quando a gente se vê

Mas tudo é tão difícil
Que eu não vejo a hora
Disso terminar
E virar só uma canção
Na minha guitarra

Eu te amo você
Já não dá prá esconder
Essa paixão

Eu queria te ver
Sentindo esse lance
Tirando os pés do chão
Típico romance

Mas tudo é tão difícil
Que era mais fácil
Tentarmos esquecer
E virar mais uma ilusão
Nessa madrugada

Eu te amo você
Já não dá prá esconder
Essa paixão

Mas não quero te ver
Me roubando o prazer da solidão
Eu te amo
Te amo você
Não precisa dizer
O mesmo não
Mas não quero me ver
Te roubando o prazer da
Solidão

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