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22 setembro 2010

265. Mania de você

"Mania de você" (Rita lee, 1979), de Rita Lee e Roberto de Carvalho, é declaração da realização do desejo. Suas imagens (todas) voltadas para a consumação carnal, porém, escondem algo que transcende: vai além do instante cantado: apontam para um promessa de felicidade, com dia seguinte.
Há uma pulsão de eterno retorno do momento a dois; há a vontade de romper regras; e há um desejo permanente diferenciação. Isso pode ser pinçado dos versos "vestindo fantasias, tirando a roupa". Aqui há a sugestão de construção de um tempo/espaço próprio do sujeito e de seu bem: longe das convenções (roupas ordinárias) e dentro da imaginação (construção constante de fantasias), que sustenta a relação livre das ervas daninhas da mesmice e da rotina.
Mesmo distantes fisicamente, os amantes fazem amor por telepatia: basta deixar a imaginação (em comunhão), dos dois, rolar. Juntos eles são muitos, podem criar (por e tirar) a fantasia certa para cada segundo do encontro amoroso. Mania relacionada à loucura: ideia fixa.
Mas "Mania de você" deixa nas sublinhas sua parte mais bonita: "a gente faz amor na melodia" revela, não apenas o carater metacancional (daquela canção que canta a si mesma), como também a certeza de que o amor (carnal, ou além) é uma construção sonora: fictícia.
Ou seja, enquanto cantam (a vida a dois) os dois fazem amor e, ao mesmo tempo, enquanto fazem amor, os amantes cantam a vida para si: cantar e amar se interpenetram e se imbricam. Aliás, é a melodia caliente e tropical que (também personagem da cena) intensifica o clima de delícias (salivas e suores) das personagens: elas derretem de calor do fogo que arde sem se ver: tudo lateja.
Isso é radical e belamente mostrado quando a voz de Rita Lee "dialoga" com os acordes da guitarra de Roberto de Carvalho: cantos e contracantos adensam o erotismo. Deixas e respostas, gemidos e sussurros (da voz da cantora e da "voz" da guitarra), sobre e justapostos, revelam o momento de alegria e de luxúria, em perspectivas do encontro da felicidade comum.
O ócio é o facilitador do deitar e do rolar (de corpos) das personagens. Corpos liquefeitos no desejo: desenhados a cada instante revelador de possibilidades e de posições afetivas.

***

Mania de você
(Roberto de Carvalho / Rita Lee)

Meu bem você me dá
Água na boca
Vestindo fantasias
Tirando a roupa
Molhada de suor
De tanto a gente se beijar
De tanto imaginar
Loucuras

A gente faz o amor
Por telepatia
No chão, no mar, na lua
Na melodia
Mania de você
De tanto a gente se beijar
De tanto imaginar
Loucuras

Nada melhor
Do que não fazer nada
Só prá deitar
E rolar com você

Um comentário:

ademar amancio disse...

Uma das melhores baladas do casal sem igual do rock nacional.