"Meu canário", de Jayme Silva, é belo e terno samba de 1950 - de um país da delicadeza (ainda não) perdida, que Marisa Monte recriou (revitalizou) no, não menos belo, disco Universo ao meu redor (2006).O canto de um sujeito que, ao ser desprezado pelo seu amor, se entristece ao ver que seu canário, também, não canta mais, é formatado sobre guitarras e violões que apresentam o estado exato do sujeito da canção: só e sem canto (alheio).
A flauta de Carlos Malta, vez ou outra, passeia ao fundo: fazendo às vezes de um canto fantasmagórico de canário que não se completa, assombrando o sujeito. Que, por sua vez, lança (solta) um triste gemido: seu canto é o canto do desalento, do abandono. Ele mesmo fantasma vagando no mundo.
Ele, que aparentemente vivia feliz (tinha amor e canto), chora seu abandono: a imagem do "barraco desarrumado" aperta essa sensação. O sujeito está entregue a si, agora, e isso o aterroriza levando-o a ansiosamente emitir pios, na intenção de estimular o canário a voltar a cantar. "Canta, meu canarinho, para amenizar a minha dor", pede.
O diálogo (na linguagem do canário: piu-piu) resulta em melancólicos "ui-ui ai-ai": em nada. A sensação de tristeza só é sutilmente amenizada quando o sujeito, nas noites de lua, sai à rua meditando meios de persuadir o canário: o soluçar do vento, o gemido dos coqueiros - tudo a fim de preencher o vazio deixado pelo canto que sustentava a vida.
"Meu canário", por seu texto marcado pela oralidade, pelo pacto (e eterno retorno) com a natureza - com a paisagem do arcaico em nós: humano -, é canção que registra um tempo/espaço de relações amorosas que lutavam para não ter fim. Toca e afeta o ouvinte pelo uso de elementos simples, mas elementares, na construção do discurso.
O sujeito espera, no canto (por vir) do canário, a coragem para continuar vivendo. Ele parece não perceber que, enquanto procura o melhor jeito de fazer o canário voltar a cantar, está tateando pelo seu próprio interior, cego que está pelo foco na perda (do amor).
O sujeito de "Meu canário" expõe, de viés, nossa condição (humana) da necessidade do canto alheio, já que estamos distantes do estado de superhomem nietzschiano, para suspender nosso juízo e nos manter vivos. Aqui, no caso, o sujeito roga ao canário: à natureza toda vibrando e cantando o sujeito, arrasado de dor.
A flauta de Carlos Malta, vez ou outra, passeia ao fundo: fazendo às vezes de um canto fantasmagórico de canário que não se completa, assombrando o sujeito. Que, por sua vez, lança (solta) um triste gemido: seu canto é o canto do desalento, do abandono. Ele mesmo fantasma vagando no mundo.
Ele, que aparentemente vivia feliz (tinha amor e canto), chora seu abandono: a imagem do "barraco desarrumado" aperta essa sensação. O sujeito está entregue a si, agora, e isso o aterroriza levando-o a ansiosamente emitir pios, na intenção de estimular o canário a voltar a cantar. "Canta, meu canarinho, para amenizar a minha dor", pede.
O diálogo (na linguagem do canário: piu-piu) resulta em melancólicos "ui-ui ai-ai": em nada. A sensação de tristeza só é sutilmente amenizada quando o sujeito, nas noites de lua, sai à rua meditando meios de persuadir o canário: o soluçar do vento, o gemido dos coqueiros - tudo a fim de preencher o vazio deixado pelo canto que sustentava a vida.
"Meu canário", por seu texto marcado pela oralidade, pelo pacto (e eterno retorno) com a natureza - com a paisagem do arcaico em nós: humano -, é canção que registra um tempo/espaço de relações amorosas que lutavam para não ter fim. Toca e afeta o ouvinte pelo uso de elementos simples, mas elementares, na construção do discurso.
O sujeito espera, no canto (por vir) do canário, a coragem para continuar vivendo. Ele parece não perceber que, enquanto procura o melhor jeito de fazer o canário voltar a cantar, está tateando pelo seu próprio interior, cego que está pelo foco na perda (do amor).
O sujeito de "Meu canário" expõe, de viés, nossa condição (humana) da necessidade do canto alheio, já que estamos distantes do estado de superhomem nietzschiano, para suspender nosso juízo e nos manter vivos. Aqui, no caso, o sujeito roga ao canário: à natureza toda vibrando e cantando o sujeito, arrasado de dor.
***
Meu canário
(Jayme Silva)
Pela primeira vez, eu chorei
Porque fui desprezado pelo meu amor
O meu barraco agora ficou desarrumado
O meu canário já não canta, com certeza se desgostou
Piu-piu, piu-piu, piu-piu
Canta, meu canarinho, para amenizar a minha dor
Quando é noite de lua, eu saio pra rua para meditar
O meu pinho faz tudo pra ver meu canário cantar
No soluçar do vento
No sussurro das folhagens
No gemido dos coqueiros
Pede a ele pra criar coragem
Nem assim, o meu canário canta
E da minha garganta, um triste gemido sai
Ui-ui, ai-ai
Ui-ui, ai-ai
(Jayme Silva)
Pela primeira vez, eu chorei
Porque fui desprezado pelo meu amor
O meu barraco agora ficou desarrumado
O meu canário já não canta, com certeza se desgostou
Piu-piu, piu-piu, piu-piu
Canta, meu canarinho, para amenizar a minha dor
Quando é noite de lua, eu saio pra rua para meditar
O meu pinho faz tudo pra ver meu canário cantar
No soluçar do vento
No sussurro das folhagens
No gemido dos coqueiros
Pede a ele pra criar coragem
Nem assim, o meu canário canta
E da minha garganta, um triste gemido sai
Ui-ui, ai-ai
Ui-ui, ai-ai

2 comentários:
Música gostosa, delicada, que nos transporta para o cenário retratado. Pareço sentir o soluçar dos ventos e ouvir o sussurro das folhagens e o gemido dos coqueiros...até meu filho de 10 anos é apaixonado por esse sambinha!
Música gostosa, delicada, que nos transporta para o cenário retratado. Pareço sentir o soluçar dos ventos e ouvir o sussurro das folhagens e o gemido dos coqueiros...até meu filho de 10 anos é apaixonado por esse sambinha!
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