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16 março 2010

75. Codinome beija-flor

Qual é a melhor forma de fechar um ciclo afetivo? Como deixar de magoar (e ser magoado) quando a relação termina? Como ficar amigos sem rancor? Não há fórmulas. Cada encontro (e desencontro) é singular e escapa a qualquer (pré)conceitos.
Assim, tentando preservar ao menos a identidade do outro, o sujeito de "Codinome Beija-flor", de Cazuza, Ezequiel Neves e Reinaldo Arias, toma a beleza do voo da ave, que consegue parar no ar (metáfora para a suspensão do real, no caso, o fim da relação), para expressar seu desconforto diante da situação: a emoção acabou.
O outro conhece tanto o sujeito da canção (privou de sua intimidade) que é impossível eles não se tornarem inimigos íntimos destilando terceiras intenções. Mas o sujeito tenta evitar o pior: o ódio.
Lançada no disco Exagerado (1985), pelo garoto do Baixo Leblon, a canção tem arranjo suntuoso, com cordas que tencionam ventos propícios ao beija-flor. Cazuza canta o fim cruel, insofismável e irreversível, mas correto e direto, sem venenos.
A canção antecede o uso de nick name, usado hoje para proteger nossa identidade na internet. O sujeito guarda o nome do outro como a derradeira expressão de um amor cuja música nunca mais tocou.
O sujeito permanece sendo a sereia do outro: "só eu que podia dentro da tua orelha fria dizer segredos de liquidificador". Sereia de um amor cujo canto cessou, está cessando.

***

Codinome beija-flor
(Cazuza / Ezequiel Neves / Reinaldo Arias)

Pra que mentir
Fingir que perdoou
Tentar ficar amigos sem rancor
A emoção acabou
Que coincidência é o amor
A nossa música nunca mais tocou

Pra que usar de tanta educação
Pra destilar terceiras intenções
Desperdiçando o meu mel
Devagarinho, flor em flor
Entre os meus inimigos, beija-flor

Eu protegi teu nome por amor
Em um codinome, Beija-flor
Não responda nunca, meu amor (nunca)
Pra qualquer um na rua, Beija-flor

Que só eu que podia
Dentro da tua orelha fria
Dizer segredos de liquidificador

Você sonhava acordada
Um jeito de não sentir dor
Prendia o choro e aguava o bom do amor
Prendia o choro e aguava o bom do amor

2 comentários:

Fernanda disse...

oi Leonardo, meu nome é Fernanda, estou me formando em jornalismo, gostei muito do seu blog e gostaria de saber se poderia entrevistá-lo para o meu blog.
meu endereço de e-mail é nandatrugilho@hotmail.com

até.

Joelma disse...

Gostaria de ouvir mais o que você pensa significar a expressão "segredos de liquidificador". Grata