"A gente é feito pra acabar (...) pra caber no mar e isso nunca vai ter fim". Os versos da canção que dá nome ao disco Feito pra acabar (2010), de Marcelo Jeneci, traduzem um desejo que atravessa todas as canções: roçar a vida com os diferentes e diversos cíclicos extratos sonoros que ela oferece, sem pseudos experimentalismos que tentam negar o fim das coisas.
Com mirada aguda na canção popular AM e FM, Marcelo montou um disco que consagra o canto simples, brejeiro, mulato, mas por isso mesmo mestiço, malandro e antenado com os recursos modernos. Dito de outro modo, Jeneci não tenta, nem quer, "reinventar a roda". Seu gesto cancional é o de iluminar momentos e movimentos da canção: ilumina-los para que o ouvinte os recebam de forma direta e simples. Com melodias passíveis de ser assobiadas por qualquer um, Jeneci busca o sim do som. E seu prazer em fazer canção é contagiante.
Eis a sofisticação do trabalho de Marcelo Jeneci: restituir-nos (aos ouvintes de canção popular) o prazer de assobiar uma melodia. Algo que tornou-se raro por longo tempo. Aliado a isso, os sujeitos de suas canções agem muito próximos de nós: brincam com nossas experiências cotidianas. É assim, por exemplo, com o sujeito de "Copo d'água", de Marcelo Jeneci, Arnaldo Antunes, Pedro Baby e Chico Salem.
Em "Copo d'água", temos um sujeito às voltas com os desejos e os ciúmes das relações amorosas na era das "ferramentas de sociabilidade". Nas "novas" relações é cada vez mais comum cobrar (ou ser cobrado) o porque de manter-se com o status de "solteiro" no orkut; perguntar (ou ser perguntado) sobre aquela pessoa que manda recado via twitter; o porque de ter sido marcado na foto de alguém no facebook; ou por não saber o que dizer quando se "flagra" (ou se é flagrado com) pedidos de atenção no msn e o "eu eu eu (...) ãh ãh ãh" do instante denuncia.
A canção "Copo d'água" tematiza a insegurança em tempos de amores líquidos, mas recusa a fragilidade dos laços humanos (detectada e analisada por um sujeito que vive experimenta tal situação). Para o sujeito da canção, além de estar conectado ao(s) outro(s) é preciso ter vínculo. E ele aponta os vínculos já estabelecidos e importantes para configurar a relação cantada.
O sujeito da canção se argumenta elencando os objetos (elementos-de-si) que só o outro pode manipular: "o meu cabelo, jeito, cheiro, dedo, pele no seu orkut, e-mail, skype, net, messenger", diz.
Ele joga com as categorias quente (cheiro do corpo) e frio (tela do micro), mostrando ao outro onde está o desejo e em qual direção ambos devem investir a energia erótico-amorosa. Afinal, "quando um não quer os dois não fazem tempestade em copo d'água".
"Você é a pessoa que eu quero pra mim", diz o sujeito ao ritmo de uma melodia pop: liberto (sobreposto às dificuldades de amar o próximo) das neuras e certo da "sua roupa, bolsa, escova, lenço, maquiagem na minha cama, quarto, sala, até na minha tatuagem".
O sujeito sugere que no peito dos internautas também bate um coração: os perfis e as máscaras "sociais" espalhados em orkuts, twitters, facebooks tem algo de orgânico: espelham o desejo do indivíduo por trás de tudo. E o desejo dele é ela: feitos para acabar juntos.
Eis a sofisticação do trabalho de Marcelo Jeneci: restituir-nos (aos ouvintes de canção popular) o prazer de assobiar uma melodia. Algo que tornou-se raro por longo tempo. Aliado a isso, os sujeitos de suas canções agem muito próximos de nós: brincam com nossas experiências cotidianas. É assim, por exemplo, com o sujeito de "Copo d'água", de Marcelo Jeneci, Arnaldo Antunes, Pedro Baby e Chico Salem.
Em "Copo d'água", temos um sujeito às voltas com os desejos e os ciúmes das relações amorosas na era das "ferramentas de sociabilidade". Nas "novas" relações é cada vez mais comum cobrar (ou ser cobrado) o porque de manter-se com o status de "solteiro" no orkut; perguntar (ou ser perguntado) sobre aquela pessoa que manda recado via twitter; o porque de ter sido marcado na foto de alguém no facebook; ou por não saber o que dizer quando se "flagra" (ou se é flagrado com) pedidos de atenção no msn e o "eu eu eu (...) ãh ãh ãh" do instante denuncia.
A canção "Copo d'água" tematiza a insegurança em tempos de amores líquidos, mas recusa a fragilidade dos laços humanos (detectada e analisada por um sujeito que vive experimenta tal situação). Para o sujeito da canção, além de estar conectado ao(s) outro(s) é preciso ter vínculo. E ele aponta os vínculos já estabelecidos e importantes para configurar a relação cantada.
O sujeito da canção se argumenta elencando os objetos (elementos-de-si) que só o outro pode manipular: "o meu cabelo, jeito, cheiro, dedo, pele no seu orkut, e-mail, skype, net, messenger", diz.
Ele joga com as categorias quente (cheiro do corpo) e frio (tela do micro), mostrando ao outro onde está o desejo e em qual direção ambos devem investir a energia erótico-amorosa. Afinal, "quando um não quer os dois não fazem tempestade em copo d'água".
"Você é a pessoa que eu quero pra mim", diz o sujeito ao ritmo de uma melodia pop: liberto (sobreposto às dificuldades de amar o próximo) das neuras e certo da "sua roupa, bolsa, escova, lenço, maquiagem na minha cama, quarto, sala, até na minha tatuagem".
O sujeito sugere que no peito dos internautas também bate um coração: os perfis e as máscaras "sociais" espalhados em orkuts, twitters, facebooks tem algo de orgânico: espelham o desejo do indivíduo por trás de tudo. E o desejo dele é ela: feitos para acabar juntos.
***
Copo d'água
(Marcelo Jeneci / Arnaldo Antunes / Pedro Baby / Chico Salem)
Eu, eu, eu
Eu não disse nada
Por que essa cara?
Você quer atenção
Ãh, ãh, ãh
Ãh, até parece
Que não me conhece
Como a palma da sua mão
O meu cabelo, jeito, cheiro, dedo, pele
No seu orkut, e-mail, skype, net, messenger
Quando um não quer os dois não fazem
Tempestade em copo d’água
Sem, sem, sem
Sem nenhuma mágoa
É só uma palavra…
Sim, sim, sim
Vamos ficar numa boa
Você é a pessoa
Que eu quero pra mim
A sua roupa, bolsa, escova, lenço, maquiagem
Na minha cama, quarto, sala, até na minha tatuagem
Quando um não quer os dois não fazem
Tempestade em copo d’água
(Marcelo Jeneci / Arnaldo Antunes / Pedro Baby / Chico Salem)
Eu, eu, eu
Eu não disse nada
Por que essa cara?
Você quer atenção
Ãh, ãh, ãh
Ãh, até parece
Que não me conhece
Como a palma da sua mão
O meu cabelo, jeito, cheiro, dedo, pele
No seu orkut, e-mail, skype, net, messenger
Quando um não quer os dois não fazem
Tempestade em copo d’água
Sem, sem, sem
Sem nenhuma mágoa
É só uma palavra…
Sim, sim, sim
Vamos ficar numa boa
Você é a pessoa
Que eu quero pra mim
A sua roupa, bolsa, escova, lenço, maquiagem
Na minha cama, quarto, sala, até na minha tatuagem
Quando um não quer os dois não fazem
Tempestade em copo d’água
10 comentários:
Oi, Leo.
Hoje vc conclui seu belo projeto: 365 canções analisadas com sensibilidade e competência ao longo do ano de 2010. Parabéns! Mas espero que continue, pois seus "seguidores" não podem ficar sem esse presente.
Feliz 2011 com muita saúde, amor e sucesso!
Beijos da colega e fã,
Angela
Léo,
vou sentir falta de seu texto inteligente e sensível.Já fazia parte do meu cotidiano lê-lo.O projeto vai continuar?Parabéns pelo belo trabalho.Um lindo ano pra você.Tereza
Léo,
o projeto 365 canções foi uma das ideias mais criativas que já acompanhei do mundo da blogosfera.
Seu texto amplia em nós leitores e ouvintes o sentido da canção.
Ela vai se materializando com outras nuances no cotidiano e adquirindo valor legítimo, referendando em outras artes, literatura, cinema e outras canções.
Porque também acredito na ideia de Chico César que diz que todas as canções formam uma grande e única canção.
Continue promovendo bons encontros em torno do prazer de ouvir, tocar e cantar.
Beijo,
Alberto
Vim agradecer-lhe e parabenizá-lo por este belo projeto! Apesar de eu achar que deve ter sido um prazer enorme para você, penso que também deve de ter sido bastante cansativo manter este compromisso TODOS os dias deste ano, e você o fez lindamente!
Um belíssiomo 2011!
Jeneci é hype demais,
e para mim não acrescentou nada.
Das 365 apenas metade vale a pena.
Amei o teu blog e estou seguindo ele seria uma honra p/ me se vc puder seguir o meu e fazer comentarios la...Bjus
obrigado pelo projeto que chega ao fim.
2012,parece que foi ontem,uau!
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